sábado, 10 de janeiro de 2009

MARIA MANUELA AGUIAR 1995- 2005/2009 De Espinho a Berkeley

Ao "Encontro" de Viana do Castelo, seguiu-se um longo interregno.
Na última fase do CCP associativo - que existiu entre 1981 e 1988 - em 1987, estava em preparação a criação da "Conferência" para o debate sobre a igualdade de sexos, como já disse, a par de outras, para o ensino da língua ou para questões económicas - esta, lembro-me bem, impulsionada por Armando Lopes e outros empresários de França.
A questão da igualdade de sexos tinha entrado, com um alto grau de prioridade, na agenda da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Porém, ainda nesse ano, com as eleições legislativas e a mudança de governo, embora se tratasse de um governo do mesmo partido, a problemática desaparece completamente das preocupações do Executivo, durante quase duas décadas (e só renasce com José Cesário, e, agora, com António Braga).
Com FERNANDA RAMOS, outro nome a reter.

A Associação "Mulher Migrante" fica a dever-se, em muito, à sua energia e combatividade na fase
de arranque, sempre complexo, num país em que, para o acto mais simples é preciso vencer as as barreiras da burocracia. Por exemplo, logo no registo da designação. Não permitiram que a palavra "internacional" constasse do título... De seguida, a escritura pública, já com os estatutos aprontados (com recurso aos talentos jurídicos da Maria do Céu Cunha Rego).
A associação não contou com apoio ou incentivo algum do Estado, nessa fase inicial.
Fernanda não estivera em Viana, mas, em conversa com algumas de nós, que tínhamos estado, e nunca desistiramos do velho projecto de avançar para uma associação internacional de mulheres expatriadas, aderiu à ideia e foi , realmente, quem mais contribuiu para lhe dar forma legal - e não só.
Muita gente ligada à área das migrações portuguesas colaborou - Rita Gomes, Maria do Céu Cunha Rego, Mafalda Durão Ferreira, Graça Sousa Guedes, Maria Beatriz Rocha Trindade, Custódia Domingues (a jovem jornalista, que se tornou na primeira mulher membro do CCP), Teresa Costa Macedo (então muito envolvida num interessante projecto de cooperação entre mulheres da lusofonia). E homens, também! Recordo-me de ver, nas primeiras reuniões, por exemplo, Artur Madureira (ainda hoje membro da direcção), o deputado Fernando Figueiredo (que viria a ser secretário-geral), e o jornalista Carlos Morais.
Fernanda Ramos regressou ao Brasil e já não pôde estar no Congresso Mundial, realizado em Espinho, em 1995.
Todavia não esquecemos o seu estatuto de fundadora, de nº 1 da Associação "Mulher Migrante".
De Montes Claros, Minas Gerais, onde é vice-consul honorária de Portugal, não lhe tem sido possível vir até ás diversas cidades, que têm recebido as nossas reuniões, nos últimos 15 anos.
Um "congresso on line" resolve o problema das viagens longínquas. Por isso, aguardamos a sua palavra.

20 anos depois
A Associação Mulher Migrante vem desenvolvendo as suas actividades no que considera ser o "espírito" da reunião inicial de Viana, mas não tinha ocorrido a ninguém promover uma comemoração de efeméride, 20 anos depois.
Para a "petite histoire" eu posso contar como é que um telefonema da Suécia acabou, indirectamente, por desencadear a sequência de "Encontros para a cidadania", ligados a essa comemoração...
Rosa Silva, dirigente da Federação de Mulheres Portuguesas (PIKO), falou-me a pedir que telefonasse à Embaixadora Gradin (minha amiga desde os tempos em que lutávamos, sempre em perfeita sintonia, pelos direitos dos imigrantes e pelos direitos das mulheres nas Conferências de Ministros do "Conselho da Europa") para estar presente nos festejos do 20º aniversário da PIKO. Eu disse, evidentemente, que iria entrar, de imediato,em contacto com Anita Gradin. E, entretanto, comecei a fazer contas, dizendo-lhe qualquer coisa como isto: "Há 20 anos, estávamos em 1985. Que coincidência! Foi o ano em que organizámos, em Portugal, o primeiro Encontro de mulheres emigrantes".
Assim recordada do acontecimento, parecia-me oportuno, tal como a PIKO, partir para uma celebração condigna!
E, como o " Encontro" de 1985 fora iniciativa governamental, pedi uma audiência ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, para lhe falar do assunto e ver em que termos ele queria assumir, directamente, o projecto ou apoiar-nos. Do apoio, sendo Secretário de Estado o Dr. António Braga, eu não duvidava...
A opção dele foi no sentido de assumirmos, nós, a organização, com um decisivo patrocínio da SECP.
E a ele se deve a originalidade de promover diferentes "Encontros" regionais, de preparação para o mundial, que, logo ali, nessa conversa a dois, foram delineados.
A Doutora Maria Barroso foi convidada como presidente de honra dos "Encontros".
Desde 1995, é alguém que tem estado sempre connosco. É um símbolo da luta pela liberdade e pela igualdade. Disse-nos "sim", felizmente !
De seguida, fomos somando parceiros - Pro Dignitate, CEMRI, Rede Jovem, UNIR, RDP, RTP, Lusa , jornais nacionais, como o Público, rádios como a TSF... Fundamental era, em cada caso, a parceria local com uma ou várias ONGs e o suporte de embaixadas e consulados. Em moldes diversos, porque a autonomia dessas entidades, na organização, foi, sempre a que consideraram desejável. Algumas recorreram mais à nossa colaboração, outras menos.
O esquema e matérias que propusemos foi praticamente adoptado em cinco dos "Encontros": América do Sul, Europa, Canadá (Toronto), EUA (Newark) - este último mais apoiado pela FLAD e organizações locais - e África do Sul. Foram "encontros" com uma multiplicidade de temas, discutidos durante dois a três dias.
Em Toronto, a Consul Geral teve um papel verdadeiramente central. Em Buenos Aires, com a Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina na liderança, integrando o evento internacional nas comemorações do seu 7º aniversário, foram também muito interventivos os serviços da Embaixada e, pessoalmente, o Embaixador Almeida Ribeiro e a Embaixatriz - a quem se deve a possibilidade de realizar as reuniões na Biblioteca Nacional, no anfiteatro Jorge Luis Borges, assim com a presença da viúva de Borges, Maria Kodama, na recepção que ofereceram ao Secretário de Estado e aos participantes.
De formato mais reduzido - um colóquio, ao fim da tarde - e com uma selecção própria e singular de temáticas, dois "Encontros":
o de Montreal (em que esteve presente apenas a Associação Mulher Migrante, colaborando com duas ONG´s de jovens, o "Carrefour Lusophone" e a Associação de Estudantes Portugueses da Universidade de Québec em Montreal );
o de Berkeley (a cargo da Prof. Doutora Deolinda Adão da Universidade de Berkeley ) como parte do programa da visita do SECP à Califórnia, com a Fundação Pro Dignitate a liderar o projecto, contando, naturalmente com a colaboração da Associação "Mulher Migrante" - que foi o elemento aglutinador de todas estas iniciativas.
De notar que em Montreal e em Newark se ensaiou, por proposta nossa muito bem acolhida pelos interlocutores, as Comissões Organizadoras do Dia Nacional, uma orientação das comemorações para o reconhecimento da importância do papel das Mulheres, que são metade das comunidades, e que bem o merecem.

Devo acrescentar que tenho pena de me não ter lembrado de o propôr, quando estava no governo. O mesmo se diga quanto ao enquadramento da realização de Berkeley , incluida na visita oficial do SECP (quantas oportunidades perdidas, anteriormente...). Mas mais vale tarde do que nunca... Em Agosto de 2008, uma conversa com o Dr. António Braga, em Santa Maria da Feira, desencadeou todo o processo. Ele ia deslocar-se à área de S. Francisco, precisamente no mês seguinte. O consul de S Francisco incumbiu Deolinda Adão de preparar o seminário, com características novas. Apesar da escassez de tempo, foi, como os demais, um sucesso.
Em imagens, aqui fica a sequência desse percurso, de mais de 3 anos, por quatro continentes.
Viana do Castelo, Junho 1985








Espinho, Março de 1995










Buenos Aires, Novembro de 2005









Estocolmo, Março de 2006









Montreal, Junho de 2006










Newark, Junho de 2006













Toronto, Fevereiro de 2007

















Joanesburgo, Fevereiro de 2008





















Newark e Berkeley, Setembro de 2008


4 comentários:

  1. Pequeno comentário e sugestões…

    Manifesto antes de mais a admiração pela vossa actividade e espero a partir de agora envolver-me mais neste vosso espaço em que se pode espelhar algumas ideias…

    Partilho convosco a ideia e impressão de que a mulher é de facto o pilar das famílias e, por vezes até a única fonte de sustento na educação, das gerações que se formam na diáspora…A diáspora lusófona, precisa realmente de uma plataforma dinamizadora cada vez maior, quando ancorada então no reconhecimento do papel da mulher, penso que terá tudo para dar bons frutos, que é neste caso a vossa actividade…

    Espero por isso estar sempre por perto pelo menos através desta via de comunicação (vosso blog) e, tendo conhecimento que estão a preparar um congresso ainda este ano em Portugal, gostaria baseando na minha humilde contribuição, de fazer algumas sugestões de personalidades, que poderão trazer contribuições significativas e com algum peso para o vosso congresso, até porque são mulheres que estão ligadas a emigração ou conhecem com alguma profundidade o papel chave da mulher…

    São neste caso: Graça Machel (Moçambique) uma mulher dinâmica e lutadora incansável na promoção da mulher, a Isaura Gomes (Cabo-Verde) presidente de uma das câmaras com maior ocorrência da emigração cabo-verdiana e Eugenia Saldanha (Guiné-Bissau) activista do direito da mulher e promotora de um serviço de apoio social aos emigrantes guineenses em Portugal e Mónica Gray Ley jornalista na Rádio da ONU, e conhecedora dos mecanismo e efeitos da comunicação social para o reconhecimento cada vez maior da mulher migrante…

    Termino aproveitando para vos desejar um Bom Ano, e muitos sucessos nos projectos que pretendem implementar…

    Helmer Araújo (jornalista)

    ResponderEliminar
  2. Excelente sugestão , a do jornalista Helmer Araújo, de convidar especialistas das questões da igualdade em outros países lusófonos, para se juntarem a nós!
    Vamos procurar dar-lhe sequência.
    A nossa perspectiva foi sempre a de olhar a sociedade e as comunidades da emigração como um todo, e de reinvindicar para as mulheres uma parte igual no seu desenvolvimento.
    Sabemos bem que os problemas de falta de reconhecimento e discriminação se colocam , de forma semelhante, nas comunidades de outros países lusófonos. Por isso será tão interessante e útil trabalhar em comum.

    ResponderEliminar
  3. A meu ver, o que realmente está, em larga medida, por cumprir é o projecto de uma grande Associação Internacional de Mulheres Portuguesas, que em Viana, com esse ou outro nome, se visava.
    É obviamente um tipo de relacionamento ou de trabalho conjunto, que tem faltado, também, no associativismo sem a componente de "género". Quase todos os outros povos europeus a desenvolveram mais e melhor do que nós - nomeadamente, franceses, suiços,italianos, polacos, alemães, belgas...
    Nós, que temos a maior propensão associativa, a nível de cada país de imigração, não conseguimos a congrgação internacional. Não sei porquê. É um dado d facto.
    A "Mulher Migrante" tem delegados em vários países do mundo - mulheres e homens preocupados com a temática da participação cívica da metade feminina - uma delegação no Brasil, outra nos EUA.
    E, na Argentina, uma associação autónoma que, de algum modo, se inspirou no nosso modelo.

    ResponderEliminar
  4. A propósiro da criação, há pouco mais de 10 anos, da "Mulher Migrante" na Argentina.

    Fiz, de facto, uma reunião com um grupo de senhoras, em que a necessidade de melhor aproveitar a participação das mulheres na vida das suas comunidades, foi o tema principal. Era e, ainda hoje, é verdade que não têm, em geral, suficientes oportunidades de darem o seu contributo, em pé de igualdade. Haver evolução, haverá, mas, se agirmos para a tornar mais rápida, mais universal, todas e todos ganharemos com isso.
    Nessa reunião esteve presente um só homem. O Conselheiro do CCP Luís Panasco Caetano, do Uruguai (e que representava esse país e vários outros da América do Sul, que não têm representeção própria - não é o caso da Argentina). Ele foi o organizador da minha deslocação, na qualidade de deputada do Círculo "Fora da Europa", e tivemos, em Montevideo e no sul do Brasil, uma série de encontros com a mesma finalidade cívica - fundamentalmente cívica.
    E, a certa altura, nessa tarde, em Villa Elisa,sentindo, talvez, alguma estranheza por o verem ali, numa iniciativa voltada para a intervenção feminina na comunidade, disse, de uma forma sintética e lapidar, explicando a razão da sua presença:
    "Não é preciso ser jovem, para lutar por um mundo melhor para os jovens.
    Não é preciso ser idoso, para tentar ajudar os mais velhos.
    Não é preciso ser mulher, para defender os direitos das mulheres".
    Certíssimo!
    Aplauso unânime, é claro!

    ResponderEliminar