quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

DR ANTÒNIO PACHECO os emigrantes e a crise: um tema para debate

A crise económica mundial é tema que domina os media nacionais como se compreende. Os noticiários das rádios e televisões, dos jornais electronicos e da restante imprensa dão um enorme destaque aos efeitos dramáticos da crise sobre os cidadãos. Uma pergunta vai surgindo. E o que acontecerá aos imigrantes do Leste, e dos países africanos e sul americanos? Que respostas serão possíveis?
Os meus colegas jornalistas têm esquecido um outro lado da questão: O que vai acontecer aos nossos emigrantes em países da América do Norte e da Europa? Já há forte desemprego.
Em muitos casos existem percentagens importantes de clandestinos. O que se está a fazer ou o que se pensa fazer? Que tipo de apoio, de solidariedade, de pressão se espera da parte do movimento associativo nos países da nossa emigração? Para lá dos antagonismos e rivalidades entre associações regionalistas é preciso a união para enfrentar uma crise que é comum.
No fundo a pobreza que começa a ensombrar e a dificultar a vida das nossas comunidades terá de ser um tema a abordar no Congresso das mulheres migrantes.
Ontem em conversa com Frei Francisco Sales, o director da Obra CatólicaPortuguesa das Migrações chegámos à conclusão que a Obra Católica gostaria também de estar presente no congresso e de trazer o testemunho da sua experiênca na questão do empobrecimento e dos efeitos da criise sobre a nossa emigração

5 comentários:

  1. Este é,sem dúvida, um tema obrigatório.
    Em 1º lugar,porque hoje assume contornos novos e mais preocupantes. Quem é daqui do norte, sabe muito bem que, por exemplo,só da Galiza, são já muitos os que foram despedidos , no sector da construção civil...
    Em 2º lugar, porque, actualmente, o Estado está menos organizado do que já esteve para prestar uma assistência especializada aos cidadãos em casos ou problemas desta natureza. De facto, após a adesão à CEE, com o pretexto de que "já não havia emigração portuguesa" - uma inverdade, então, como agora... - foram, em larga medida, desmantelados os serviços externos do IAECP, nomeadamente no sector da assistência social, acabando o Instituto(dotado de autonomia administrativa e financeira!) por ser extinto, e os seus diversos departamentos absorvidos pela Direcção Geral de Assuntos Consulares. Um erro histórico, que, em época de crise, vamos agora pagar.
    De resto, há muito que a ingenuidade daqueles políticos, de inícios da década de 90, que falavam da "cidadania europeia" como perfeita garantia dos direitos dos trabalhadores portugueses, no espaço comunitário, deixou de se justificar - se é que algum dia se justificou, e eu acho que não. Surgiram, realmente, desde então, casos de exploração e miséria, de que já não havia memória desde os tempos da "emigração a salto", de pouco valendo, na prática, a esses homens e mulheres o seu teórico estatuto de cidadania...
    E, por último, há que lembrar as mulheres, não apenas como potenciais vítimas da crise - e muitas o serão, infelizmente - mas como portadoras de soluções e respostas concretas. Na verdade, os melhores exemplos de associativismo feminino são dados no sector da solidariedade social. Assim é desde os tempos do mutualismo dos séculos XIX e XX (sobretudo na Califórnia), até às grandes associações, em expansão, na Venezuela e na Argentina, neste nosso século.

    ResponderEliminar
  2. O António Pacheco dá-nos a excelente notícia da participação de Frei Francisco Sales no Congresso de Espinho. Essa presença garante-nos que muitas questões bem actuais, no domínio da solidariedasde social serão tratadas por quem sabe o que é, e pratica, a solidariedade.
    Recordo uma ainda recente iniciativa de reflexão e debate destas matérias, magnificamente organizada pela Obra Católica das Migrações, em Braga. Tive o privilégio de estar presente.

    ResponderEliminar
  3. Tenho acompanhado, de perto, muito em especial, a acção da Associação da Mulher Migrante Portuguesa na Argentina, e posso testemunhar que deu o melhor de si durante a pior das crises, que o país atravessava, há apenas alguns anos. A Associação, que completou 10 anos em Novembro de 2008,ajudou dezenas de famílias, em situação de absoluta pobreza, numa fase em que nem o ASIC o Governo português lhes concedia (e o Governo argentino também nada garantia, é claro...).
    Esta Associação liderou, depois, a luta pelo reconhecimento do direito àquele subsídio perante o país de origem, num país de acolhimento onde o recebimento de pensões mínimas (impeditivo de atribuição da dito ASIC...)era puramente teórico.
    É, assim, uma das mais jovens e activas associações portuguesas do estrangeiro.
    E foi, como já se disse, a entidade organizadora do 1º "Encontro para a Cidadania", realizado em Buenos Aires, em Novembro de 2005, coincidindo com o seu 7º aniversário.
    A sua presença em Espinho trará, certamente, um enfoque "regional" sobre a actualidade do tema "pobreza" e das formas de a combater ou minorar, pela acção cívica. Disso não tenho dúvida.

    ResponderEliminar
  4. No âmbito destes comentários impõem-se um desafio para discussão: a questão do envelhecimento populacional em Portugal.
    A população Portuguesa envelheceu nas últimas décadas e contínua a envelhecer embora se espera que o ritmo tenda a diminuir. Perante esta realidade irrefutável é preciso potenciar tanto a experiência como a capacidade das pessoas idosas de modo a dar-lhes oportunidades para intervirem na vida em sociedade. Paralelamente, e como medida de inclusão social, recomenda-se a integração das pessoas idosas no seio da família, reveladoras de um intercâmbio de forças e potencialidades favoráveis a ambas as partes. Recomenda-se ainda a integração progressiva em actividades compatíveis com as reais capacidades dos indivíduos, a integração em actividades de cariz social ou actividades de formação, como são o caso das Universidades Seniores. As pessoas idosas constituem uma franja da população em ascensão que necessita de integração em novas actividades através de ocupações e projectos que tragam satisfação e contentamento.
    Tal como atrás já referido o conceito de velhice está imbricado na construção social de um estado baseado no critério da idade e do estatuto (reformado) apresentando uma visão deste grupo baseada não em limites físicos para o desempenho de múltiplas actividades, mas em limites cronológicos aplicados a todos os indivíduos indiscriminadamente. Outras situações há que decorrem igualmente desta condição de idoso e da visão de pouca utilidade social das idades mais avançadas criando-se situações de isolamento e de exclusão social, tornando-a numa das franjas da população mais afectada pela pobreza e num dos grupos sociais mais desfavorecidos onde as mulheres «teimam» em permanecer em destaque.
    Urge “reformar as nossas mentalidades (tornando-as compatíveis com as estruturas demográficas), reinventar completamente a velhice e remodelar as nossas instituições, de modo que as idades avançadas passem a ter um valor, quer económico, quer social”.
    Em causa está a defesa dos direitos do homem, numa sociedade inclusiva em que todos são chamados a viver em plenitude a sua cidadania, nos mais diversos momentos da sua existência. O envelhecimento demográfico é um dos grandes desafios que a sociedade portuguesa enfrenta e para o qual se tem que preparar de modo a garantir uma sociedade inclusiva para todos e para todas as idades.

    Paula Cristina Pereira
    António Franco
    João Miguel Pereira
    (alunos do curso de sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

    ResponderEliminar
  5. Um dos temas mais actuais da emigração portuguesa é certamente o do envelhecimento. Por um lado, porque a emigração de jovens, e de casais jovens é uma das causa do envelhecimento da população, muito em especial nas regiões do interior, desertificadas pela força deste fenómeno.
    Por outro lado, nas próprias comunidades do exterior, onde a geração do que terá sido protagonista do maior de todos exôdos da nossa história, o dos anos 60, está hoje na idade da reforma.
    Por isso, muitas das associações portuguesas de todos os continentes se dedicam crescentemente à criação de lares de dia, ou de lares geriátricos. E as mulheres têm estado na 1ª linha desse movimento. Para citar um exemplo "grandioso": a construção do Lar para idosos da Sociedade Beneficente das Damas Portuguesas de Caracas, que talvez seja o maior e o mais moderno, em todo o mundo da emigração.
    Parabéns aos alunos de sociologiada Universidade do Porto, pela forma como abordam o assunto. É um prazer tê-los connosco, on line. Espero que possam vir a Espinho também.

    ResponderEliminar