sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

MARIA MANUELA AGUIAR Os Encontros para a Igualdade - um pouco da sua história

NA REUNIÃO DO CCP, EM DANBURY

Na história dos "Encontros" para a igualdade entre os sexos, iniciados em 1985, os nomes de Natália Dutra e de Maria Alice Ribeiro não podem ser esquecidos.
Sem elas, nada teria sido como foi.
São as autoras da ideia.
Não sei dizer se a tiveram em simultâneo, ou se uma a comunicou à outra.
Estávamos em Danbury, Connecticut, na Paróquia Portuguesa do Imaculado Coração de Maria, em Outubro de 1984. O pároco, Dr. José Alves Cachadinha era o presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) dos Eua e , a seu convite, aí se realizava a 1ª Reunião Regional do CCP - América do Norte ( EUA e Canadá). A primeira, nos novos moldes de um "Conselho" regionalizado, em cumprimento de uma recomendação dos seus membros eleitos. uma das melhores oua melhor de todas aquelas em que participei!
O ambiente de trabalho era de tal forma mobilizador e fraterno - há palavras que parecem "gastas", mas, neste caso, são as mais ajustadas ao que se passou... - que os temas em debate circulavam das reuniões formais, entre " conselheiros", para as informais - almoços, cafés, jantares - entre eles e outras pessoas, que nos acompanhavam, portugueses da comunidade local, cônjuges, amigos.
Digo "nos acompanhavam", porque eu era, então, na qualidade de Secretária de Estado da Emigração, a presidente do CCP.
Natália Côrtes Dutra era a mulher do eleito no sul da Califórnia, Prof. Doutor Ramiro Dutra. Maria Alice ( ou Málice, como lhe chamávamos, familiarmente) era a única mulher "conselheira" , em representação dos "media"do Canadá.
Foi na vertente "tertúlia", que a questão me foi posta. Primeiramente, pela Natália, que era uma activíssima dirigente associativa, ensaidora de folclore, professora, presidente da Irmandade de Nossa Senhora de Fátima Peregrina, uma sociedade fraternal feminina da área de Los Angeles. Mas seria Málice, fundadora e directora do mais antigo jornal português de Toronto (O Correio Português), quem redigiria a proposta de uma convocatória, pela Secretaria de Estado de um encontro mundial de portuguesas residentes no exterior.

MULHERES NA CADEIA DE DECISÃO

Agora que conhecemos o percurso da proposta e sabemos que o "Encontro" foi muito mais do que "um igual a tantos" - que, de algum modo, ainda hoje faz caminho e permanece como referência e inspiração de outros que se sucedem - será interessante perguntar até que ponto o facto de estarem, maioritaria, inesperada e invulgarmente, mulheres na cadeia de decisão determinou a forma célere e eficaz da sua concretização...
Na verdade, do ponto de vista institucional, tudo principia na proposta de uma das pouquíssimas mulheres pioneiras do CCP. Interlocutoras são duas mulheres presentes em Danbury: a Secretária de Estado (eu própria), a primeira mulher a desempenhar um cargo governamental no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em mais de 250 longos anos da sua existência existência, e a Presidente do Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas (IAECP), Maria Luísa Pinto, das primeiras mulheres num cargo equiparado a director-geral no mesmo Ministério (não esqueçamos que a carreira diplomática esteve vedada ao sexo feminino até 1974).
Entre a recomendação do CCP e a realização do Encontro não contamos mais de 8 meses.
E não foi tarefa fácil " descobrir", então, mulheres em lugares de prestígio e visibilidade, porque a pesquisa nunca tinha sido sequer tentada.
A organização fica nas mãos de Maria do Céu Cunha Rego, jovem e muito competente jurista do IAECP e uma entusiasta da "causa" , que, mais tarde, na década de 90, seria Secretária de Estado da Igualdade. Trabalhava então com Rita Gomes, Directora dos Serviços de Informação Especializada e Acordos de Emigração, uma das testemunhas do nascimento deste projecto, em Danbury.
No Porto, à frente do "Centro de Estudos" do IAECP , outra mulher, Graça Sousa Guedes faz a ligação às entidades que, no norte, co-participam na iniciativa.

A ELITE FEMININA DA DIÁSPORA, NOS ANOS 80

Do estrangeiro são convidadas, através das embaixadas e dos consulados, pelos "curricula", trinta e cinco dirigentes associativas e jornalistas.
É justo, porém, não esquecer, na extensa lista dos nossos aliados o Prof. Duarte Mendes, Director dos Serviços de Emigração da Região Autónoma dos Açores. Conhecia bem as comunidades da Califórnia, tinha os contactos de todas as associações e das suas dirigentes numa parte do mundo onde as portuguesas - maioritariamente açoreanas - se impuseram de uma forma singular, desde o século XIX até nossos dias. Daí a justificação para o peso da participação de portuguesas do oeste dos EUA no conjunto de um grupo de "notáveis" : era a tradução da realidade do presente, consequência de uma história e de uma tradição única e paradigmática.

AS MULHERES NS "MEDIA"

Estamos, hoje, particularmente, atentos à importância dos "media" como espaço de representação e de intervenção cívica das mulheres na emigração. Essa era, em 1985, já, uma componente muito visível no Encontro de Viana do Castelo, onde tiveram voz activa 14 portuguesas ligadas , em diferentes qualidades, aos meios de comunicação social. Umas neles fazendo a actividade profissional exclusiva, outras acumulando com diferentes actividades laborais ou empresariais, ou em regime de voluntariado, em defesa da língua portuguesa e da comunidade - directoras de jornais, do Brasil à Austrália, produtoras de rádio e de televisão, em canais "étnicos" de vários continentes e países, correspondentes, consultoras , locutoras. De meios de comunicação como a Radio France Internationale, os maiores quotidianos de Paris, a BBC ou a CBS americana, e também dos "media" das nossas comunidades.
Agustina Bessa Luíz , grande mulher de Letras e grande oradora encantou-nos com o seu verbo inspirador. Presente, igualmente, Olga Gonçalves, uma escritora que tão bem conhece a emigração, e muitos universitários, políticos, jornalistas. Recordo-me, por exemplo, da Maria Elisa, do Nuno Rocha.

UMA VISAO ABRANGENTE

As reuniões de trabalho foram formaram uma cadeia de excelentes surpresas, com muitos momentos empolgantes, comoventes, divertidos. Excederam, largamente, as expectativas gerais... a começar, devo confessar, pelas minhas.
Faltou, é certo, a conflitualidade a que estavámos, habituados nas assembleias e debates do "universo masculino" (caso do CCP, a instituição que deu origem ao "Encontro"), numa época ainda muito "próxima dos afrontamentos ideológicos do pós 25 de Abril, que , na emigração, sobretudo na europeia, se prolongaram mais do que no interior do País. Porém, sobrou a qualidade das intervenções, a intenção absolutamente construtiva daquelas "cidadãs do mundo", que gostaram de se conhecer, e de trocar experiências vividas dos problemas da emigração.
Curiosamente, falou-se muito das comunidades, das associações, da sua criação e do seu futuro, mais do que apenas da "questão de género".
Nunca, para mim, fora tão claro que só a presença feminina, ainda que discreta, quase invisível em muitos casos, permite a construção de uma verdadeira comunidade orgânica, com um projecto viável de sobrevivência. Homens sós criam, sobretudo, bares ou cafés, tertúlias com existência fatalmente efémera...
Ali, em Viana, as intervenientes foram capazes de fazer a história da nossa Diáspora, sem preconceitos, sem discriminação de um ou outro sexo, embora conscientes de muitas discriminações...
Conduziram as temáticas à sua maneira. Não quiseram falar, em primeira linha, de si próprias, mas de um todo em que se integram. Dos meios de procurar a melhoria da dinâmica associativa, a expansãoda cultura portuguesa e do ensino da língua, da prestação de solidariedade aos que precisam - em conjunto com os homens, como regra.
Questões fundamentais, em que eram ouvidas, pela primeira vez, conforme queriam.
O Estado cumprira a obrigação de as reunir. A partir daí, entenderam que estavam criadas as condições assumirem o controlo do processo.
E, por isso, nas "Conclusões", manifestaram a vontade de continuar o Encontro em futuros
reencontros e com estruturas associativas próprias.










































UMA CONFERÊNCIA PARA A IGUALDADE, NA ÓRBITA DO CCP

Durante os meses que se seguiram, não houve novas acções do Governo, neste domínio. Mas, na ausência de qualquer iniciativa da parte da "sociedade civil", a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas , no quadro do alargamento das competências do CCP, através da constituição, na sua órbita, em 1987, de várias "Conferèncias" temáticas, em áreas prioritárias, como o ensino de português ou as questões económicas e o empreendedorismo, considerou também da maior importância a criação da "Conferência para a Promoção e Participação de Mulheres Portuguesas no Estrangeiro" .
Com a convocação de eleições antecipadas, em meados desse ano, e com a tomada de posse de um novo governo ( ainda que do mesmo partido...) nenhuma das "Conferências" chegaria a ter existência real. Assistiu-se, de resto, à imediata desvalorização e ao subsequente bloqueamento das actividades do CCP, que se pode considerar praticamente extinto, a partir de 1988.
E apenas no sector económico haveria uma cooperação entre a Secretaria de Estado e uma "Confederação dos Empresários Portugueses", constituida com o seu apoio.
Cooperação que se não verificou, e que também não foi solicitada, aquando do nascimento da Associação "Mulher Migrante" , em 1993/94.
A nível governamental, a ligação, durante muitos anos, estabeleceu-se mais estreitamente com outros departamentos, sobretudo com a "Comissão para a Igualdade" (com esse ou outro título oficial)

comentários
Maria Manuela Aguiar disse...

Ainda sobre o 1º Encontro:
Das comunidades portuguesas do estrangeiro vteram:
Alice Vieira, Caracas, Venezuela; Angela Giglitto, San Diego, Califórnia; Aurora Silva Vackier, Dijon, França; Barbara Angeja, SF, Califórnia; Benvinda Maria, Rio, Brasil; Berta Ávila Madeira,Oackland, Califórnia; Cláudia Rios,Hartford,EUA; Custódia Maria Domingues, Paris, França; Debora Morais, Toronto, Canadá; Dolores nunes Lowry, San Jose, Califórnia; Fernanda Cláudio, Montreal, Canadá; Helena Guerreiro-Klinowsky, Toronto, Canadá; Helena Amaral, Boston, EUA; Heroina de Pina, Luxemburgo; Julieta Maia,Toronto, Canadá; Laura Bulger, Toronto, Canadá; Manuela da Luz Chaplin, Newark, EUA; Manuela Faria, Perth, Austrália; Maria Adelaide Vaz,Montreal, Canadá; Maria Amélia Afonso, Buenos Aires, Argentina; Mary da Rosa giglitto, San Diego, EUA; Maria Antónia da Silva Anjos, Buenos Aires, Argentina; Maria do Céu Cunha, Paris, França; Maria Eulália Salgado, JNG; África do sul; Maria mília Pedreira, Fortaleza, Brasil; Mara Fernanda Gabriel Hanning, Estrasburgo, França; Maria da Graça Santos,França; Maria Isabel Vieira, Paris, França; Maria josé Brântuas, San diego, Califórnia, EUA; Maria Juliana Resende,Valência, Venezuela; Mª Leonor Xavier, Rio, Brasil; Maria de Lourdes Lara, Toronto, Canadá; Edite Phillips,Londres, RU; Maria Manuela Miranda França; Natália Côrtes Dutra, Los Angeles, Califórnia; Rosa Silveira, Boston, EUA.
Particitantes de Portugal:
Secretária de Estado da Emigração, Maria Manuela Aguiar; Organização (SEE-IAECP): Presidente do Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas (IAECP), Maria Luísa Pinto; Vice- Presidente do IAECP, Carlos Correia; Directora do Centro de Estudos (IAECP), Graça Sousa Guedes; , Director de Serviços, IAECP, Bento Coelho; Coordenadora do Encontro, IAECP, Maria do Céu Cunha Rego.
Convidados para intervenção no programa do "Encontro": Isabel Romão, Presidente da Comisão da Condição Feminina; Amélia Azevedo, Deputada; Eduardo Costa, Perito do CCP; Agustina Bessa Luís, Escritora; Nuno Rocha, Jornalista; Barroso da Fonte, Director Regional da Comunicação Social; Leonor Quaresma, Jornalista, Vanda Maria, Radialista; Salvato Trigo, Director da Escola Superior de Jornalismo; Teresa Costa Macedo, Deputada; Carlos Léllis, Secretário -geral do CCP; Duarte Mendes, Director dos Serviços de Emigração dos Açores.(indicados pela ordem em que são mencionados no programa) .Houve muitas outras presenças não registadas na publicação sobre o "Encontro", nomeadamente de jornalistas dos média nacionais
As Portuguesas vindas de fora do país eram, dirigentes de associações,jornalistas,professoras, investigadoras,escritoras, artistas, estudantes universitárias, empresárias... Com um traço comum, que era o envolvimento na sua comunidade local:
12 dos EUA, 7 de França, 7 do Canadá, 2 do Brasil 2 da Argentina, 1 de cada um destes países: Austrália, África do sul, Reino Unido e Luxemburgo.O
continente norte-americano, conta com um total de 19 presenças. Já ao tempo era, e, creio que ainda continua a ser, aquele em que a participação das mulheres no movimento associativo é mais igualitário.







































































































1 comentário:

  1. Entre as 14 jornalistas, que vieram do estrangeiro para o Encontro, não se encontrava, infelizmente a Maria Alice Ribeiro. Foi-lhe impossível viajar nessa data. Mas esteve em todos os que se seguiram.
    E continuou a ser uma das vozes mais influentes do CCP, mesmo quando estava já gravemente doente. Um exemplo de grande coragem, sempre, mas, sobretudo, então. Nunca soube desistir e era das que acreditava que valia a pena lutar pelo CCP e dentro do CCP.

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