domingo, 14 de julho de 2019

BERTA GUEDES NO CLUBE FENIANOS

COMEMORAÇÃO DO DIA DA COMUNIDADE LUSO-BRASILEIRA
PORTUGAL/ BRASIL, a descoberta continua
Clube Fenianos Portuenses, 10 de maio de 2019, 18 horas

Boa tarde a todas e a todos!
Cumprimento a mesa e todos os presentes, agradecendo o convite para estar aqui esta tarde, num clube com vocação carnavalesca para falar de uma Associação que nasceu como bloco de Carnaval e que, portanto, tem esta característica em comum com o nosso anfitrião.
Como a Prof. Graça Guedes já muito bem referiu, os festejos de Momo, a tradição carnavalesca é muito forte no nordeste do Brasil, mais precisamente em Pernambuco, na cidade do Recife, cidade natal da minha mãe e para onde emigrei aos 11 anos de idade. 
A Associação de que vos falo, a Folia das Deusas, é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que surgiu como um bloco de Carnaval, fruto de conversas e preocupações de duas amigas (eu, que sou Vice-Presidente e fundadora e a presidente, Adelina Cristina). Das nossas reuniões e vivências familiares e profissionais, resultou esta proposta que traz no seu estatuto temas abrangentes e que intuitivamente, em 1999, ano de sua fundação, antevia uma das preocupações do milénio, a equidade de género. O estatuto desta associação contempla desde medidas pró-equidade de género aos direitos da mulher, à sua autonomia e empoderamento. Há também preocupação com a sustentabilidade.
A Associação Folia das Deusas surge como Bloco Carnavalesco Folia das Deusas, porque o bloco é um instrumento enraizado na cultura pernambucana e foi escolhido pela riqueza, vigor e vitalidade com que o Carnaval permeia, penetra e expressa-se em todas as camadas da sociedade, propiciando uma forma lúdica, festiva e acessível aos mais diversos meios sociais. 
Para além dos festejos de Momo, brincando, antevíamos um dos objetivos do Milénio: a equidade de género. Desta maneira, chamamos a atenção para os direitos de cidadã, para a saúde física e mental das mulheres, para a sua educação, autonomia financeira, criatividade,  empreendedorismo e sustentabilidade. Promovemos o tão necessário e desejado empoderamento feminino, que tem por objetivo que a mulher tome as rédeas da sua própria trajetória e seja autora da sua história.
No percurso do Folia das Deusas, para além dos tradicionais desfiles carnavalescos, que acontecem anualmente e seguem diversos itinerários, saindo da casa dos meus pais, seu berço, desfilando pelo bairro das Graças, pelo Poço da Panela, bairro de tradição carnavalesca, homenageando Olinda e o seu carnaval multicultural, bem como prestigiando os festejos do bairro de São José e Santo António, mais conhecido como Recife Antigo. 
Outros eventos já foram promovidos pelo Folia das Deusas. Para além de bazares, oficinas de artesanato, chás de tertúlias, realizamos o primeiro colóquio internacional em parceria com a Associação Mulher Migrante, associação que também represento no Recife. 
Foi em Novembro de 2013, ano em que se comemorou o ano de Brasil / Portugal, que organizamos esse colóquio intitulado Expressões Femininas de Cidadania: As Portuguesas no Recife, realizado no Gabinete Português de Leitura do Recife, nosso parceiro em diversas iniciativas e acerca do qual disponibilizamos uma publicação editada pela Associação Mulher Migrante. No Gabinete Português de Leitura,  também comemoramos os 40 anos do 25 de Abril, a Revolução dos Cravos, com exibição do filme “Capitães de Abril” da atriz e cineasta portuguesa, Maria Medeiros, que gentilmente autorizou gratuitamente tal exibição, seguida de discussão sobre o tema, relembrando a forma feminina da revolução de abril, sem combate e vítimas fatais. 
Outra iniciativa importante foi o seminário que promovemos sobre o Acordo Previdenciário sobre Brasil e Portugal, relativo aos direitos previdenciários e às regras a seguir para garantir tais direitos aos que emigram nos dois sentidos entre os dois países irmãos.
A Folia das Deusas, apesar da sua temática feminista, não é uma associação exclusivamente feminina; conta com a valiosa colaboração de homens sensíveis, que connosco almejam a equidade de género.
As preocupações com as questões de género e a violência contra a mulher, que estão no cerne da nossa associação, surgem do meu trabalho como psicóloga numa unidade de saúde, que tem sede num hospital público de grande porte na cidade do Recife, e onde funciona um serviço pioneiro de atenção e cuidados a mulheres vítimas de violência. 
Concluo esta breve participação, lembrando o tema deste encontro -  PORTUGAL/ BRASIL, a descoberta continua…- dizendo que no Brasil, assim como em Portugal, a condição desigual da mulher na sociedade e a sua vulnerabilidade, infelizmente também continua. Há que se combater esta situação e, para tal, utilizar todas as estratégias que a nossa criatividade nos permitir.
Muito obrigada a todas e todos pela atenção.

Berta Guedes
VICE-PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA AMM

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