segunda-feira, 1 de outubro de 2018

NOVOS ASSOCIADOS MARIA EDUARDA AGUIAR DA FONSECA

MARIA EDUARDA AGUIAR DA FONSECA

Fui migrante desde criança dentro do país, antes de o ser, por alguns anos, noutros países e continentes. Nasci em 1945, em Paços de Ferreira, vivi no Ato Minho, em Trás-os Montes, na Beira Baixa, no Alentejo, em Lisboa, Londres, Luanda, Genebra e Paris. Fiz a escola primária na Freixeda (Mirandela) e no Sortelha. Depois, estudei nas cidades do Porto (distrito de origem da família) e em Setúbal. O meu pai era engenheiro de minas e onde o levava a profissão lá íamos nós, descobrindo as bonitas terras do "Portugal profundo".
A minha primeira experiência do estrangeiro foi em Inglaterra, Durante cerca de um ano trabalhei como "au pair" em casa de um casal de judeus muito simpáticos A principal tarefa era  tomar conta do filho, um menino de um, dois anos. A intenção era praticar o inglês - melhorei bastante, mas o meu ponto forte nunca será falar outras línguas.  
O primeiro emprego foi na Caixa Nacional de Doenças Profissionais, desde 1963. Pouco depois, o meu pai foi para Angola, para sd minas de ferro de Mombaça, perto de Malange. Era um apaixonado por África, as suas narrativas convenceram-me a fazer-lhe uma visita prolongada e acabei por ficar em Luanda três anos, com um bom emprego na Mobil. Sentia-me bem, tanto na cidade, como no interior. Passava muitos fins de semana na mina. Era zona de guerrilha, mas nunca nos aconteceu nada, O meu pai dava-se bem com os trabalhadores. Havia armas para defesa, mas estavam sempre guardadas, exceto quando serviam para irem todos juntos à caça. Voltei a Lisboa e à "Caixa", onde passei a ser secretária do presidente Dr António Leão. Em maio de 1974, o meu pai estava sozinho em Luanda, deixara Mombaça e chefiava o departamento de trânsito da Câmara, e eu decidi ir fazer-lhe companhia. Fui para lá num avião que poucos civis transportava - o grande movimento era em sentido contrário...Dessa segunda vez, fui hospedeira de terra de uma companhia de aviação. No início de 1975,  o pai e ele viemos para Lisboa, com a intenção de passar férias. Ele trazia apenas uma pequena mala, deixou o carro e o apartamento entregues à empregada. Mas já não tivemos condições para regressar.  Mais uma vez me aceitaram na "Caixa" como "filha pródiga"..
Em meados de 1983, fui destacada para o gabinete da Secretária de Estado da Emigração. O destacamento, convinha ao gabinete, era a única forma de conseguir colaboração a custo zero. Foi um trabalho diferente, menos burocrático, interessante - dei apoio, sobretudo, no sector cultural. Estive, por exemplo, na organização de exposições itinerantes e das coletâneas de diapositivos ("Quadrantes de Portugal), etambém na recolha de dados sobre as associações de todo o mundo, que formavam o Conselho das Comunidades (tarefa que não foi nada fácil). E até desenhei medalhas comemorativas. Lembro-me de ter feito uma só viagem como (única) acompanhante da Secretária de Estado, a Manuela Aguiar. Eu devia tratar dos programas, dos contactos locais, do check-in nos aviões e hotéis, etc, mas, como ela é muito impaciente, adiantava-se e despachava tudo. Depois, em Lisboa, queixou-se de que ela é que fizera de minha secretária... Não voltei a ser escolhida para missões dessa natureza. 
Em 1987, com licença sem vencimento da Caixa Nacional de Doenças Profissionais, pelo prazo máximo de três anos, fui para o consulado de Genebra, como chanceler, e, depois, a convite do Dr Carlos Correia, para Paris, mas optei por voltar ao cargo de origem, antes do termo do prazo limite dado pela "Caixa". Anos mais tarde, concorri para a Caixa Nacional de Pensões. Aí tive contacto com processos de pensões de emigrantes da Venezuela, verdadeiramente dramáticos, que, ao meu nível, queria mas não podia resolver.
Quando atingi a idade da reforma, comecei uma nova vida. Sempre gostei de fotografia, desenho, pintura, cinema. Em tempos tinha frequentado um curso da ARCO, em Lisboa. Dediquei-me, sobretudo, à pintura em acrílico, Além de exposições individuais, participei em várias coletivas, incluindo as duas primeiras Bienais de Mulheres d' Artes, em Espinho.

2 - Embora não estivesse inscrita como membro da AMM colaborei em duas exposições organizadas durante os congressos mundiais de 2011 (no Forum da Maia) e de 2013 (nos claustros da "Fundação Pro Dignitate")  e segui as várias intervenções desses congressos. Conheço quase todos os dirigentes da AMM e muitos dos seus associados, de quem sou amiga e admiradora, A Drª Rita Gomes foi sempre encantadora comigo, tanto enquanto trabalhei na emigração como depois. Lembro-me de que ,uma vez, a convidei para uma minha exposição de pintura em Oeiras e ela foi até lá dar-me um abraço, num táxi, que esperou bastante tempo para a trazer de volta a Lisboa.  
3 - Gosto da forma como a AMM procura chamar a atenção para as desigualdades e injustiças de sociedades, que no século XXI, ainda estão pouco consciente da perda que significa a desvalorização das capacidades das mulheres, e muito fechadas no que respeita às dificuldades de adaptação e de competição na carreira dos imigrantes e refugiados. 
Embora as minhas passagens por África e por alguns países da Europa não tenham sido muito longas, deixaram-me saudades (de Angola, sobretudo), muita simpatia por gente de outras culturas e deram-me a vontade de lutar pela maior aceitação mútua,
Aderir à AMM e participar mais ativamente nas suas iniciativas será uma oportunidade de me manter a par dos progressos ou da falta deles, neste campo, e uma forma de ser solidária com causas que valem a pena e com pessoas que trabalham por genuína vontade de ajudar os outros

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