terça-feira, 29 de setembro de 2015

GONÇALO NUNO PRESTRELO SANTOS sobre MARIA BARROSO


MARIA DE JESUS SIMÕES BARROSO SOARES

Todos os portugueses saberão tudo sobre Maria de Jesus Simões Barroso Soares. Sobre a mulher, a esposa, a atriz, a ativista, a professora, a lutadora pela cidadania e pela igualdade entre homens e mulheres. A Senhora das grandes causas ou, sobre a “outra metade” de Mário Soares e eu francamente nada mais sei que os meus compatriotas, sobretudo dos que mais a estimam.

Foi graças à Manuela Aguiar que organizou o Encontro Mundial de Mulheres Migrantes, na cidade de Espinho, em Março de 1995, que me levou a conhecer a Doutora Maria Barroso. Encontrei-A, nesta e em tantas outras ocasiões, mas Ela nunca me reconhecia a não ser que eu falasse; -já me lembro, o senhor é da Madeira, olhe que a sua Terra é muito bonita, já lá estive com o Mário.

A primeira vez também foi assim. O Mário estava em todas as frases, em todas as vírgulas em todos os pensamentos. Eu gostava de ter uma mulher que falasse de mim em todos os momentos. Uma mulher que tirasse as vírgulas das frases e as substituísse pelo meu nome. Uma mulher que visse em todos os homens a minha cara e que mesmo assim fosse tão independente e livre como Ela era.

 No tal jantar, na primeira vez que nos encontramos, ficamos um ao lado do outro. Os nomes de chefes de estado, de presidentes, de viagens e de lugares surgiam a uma velocidade que ultrapassava o sonho e nenhum sonho de nenhum mortal poderia ser tão completo. Fiquei quieto. Às tantas fez-me uma pergunta que eu não percebi. Pelo que e muito bem, deu a resposta e desatamos a rir. Sorria inclinando-se ligeiramente para a frente para que ninguém percebesse. Falava amiúde de nobres causas mas notava-se que das suas palavras saiam ações. Militante da liberdade, admiradora da Humanidade e da Obra sublime da Criação entendia que o Seu dever para com todos ultrapassava de longe a sua própria e frágil forma física. Não julguei nunca que necessitasse de reconhecimento. Bastava-lhe o Povo português, a sua família e, claro está o Mário.

 

Tiramos uma foto, a Manuela a falar, a Rita Gomes a olhar para mim, a Maria Beatriz muito séria, a Doutora Maria de Jesus Barroso e eu, olhando um para o outro, rindo de nós próprios, não me lembro porquê. Guardo esta foto no meu “ wall of fame”, onde estão outras individualidades que a vida me levou a conhecer.

Das outras vezes que falamos recordo sempre o carinho, a simpatia mas sobretudo a determinação de Maria Barroso e o seu empenho em executar algo de extraordinário. Tratava-se de uma Figura de Estado ímpar que incorporava em si o que de melhor a Pátria tem para oferecer, de uma dimensão que ultrapassava o comum dos mortais. Sempre que  podia, sentava-me ao seu lado, mesmo que não me reconhecesse, mesmo que fosse para dizer nada.

Aqui têm o meu motivo. Falo pois e tenho legitimidade de falar, de quem vive comigo na minha casa, na casa dos meus sonhos, não tenho outros amigos senão os que vivem em mim e admiro, pois é graças a eles que encontro o meu caminho e a minha responsabilidade de servir o coletivo, Maria Barroso foi um grande exemplo para muitos de nós.

Paz à Sua Alma

Gonçalo Nuno Mendonça Perestrelo dos Santos

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