MARIA DE JESUS SIMÕES
BARROSO SOARES
Todos os portugueses saberão tudo
sobre Maria de Jesus Simões Barroso
Soares. Sobre a mulher, a esposa, a atriz, a ativista, a professora, a
lutadora pela cidadania e pela igualdade entre homens e mulheres. A Senhora das
grandes causas ou, sobre a “outra metade” de Mário Soares e eu francamente nada
mais sei que os meus compatriotas, sobretudo dos que mais a estimam.
Foi graças à Manuela Aguiar que
organizou o Encontro Mundial de Mulheres Migrantes, na cidade de Espinho, em
Março de 1995, que me levou a conhecer a Doutora Maria Barroso. Encontrei-A,
nesta e em tantas outras ocasiões, mas Ela nunca me reconhecia a não ser que eu
falasse; -já me lembro, o senhor é da Madeira, olhe que a sua Terra é muito
bonita, já lá estive com o Mário.
A primeira vez também foi assim. O
Mário estava em todas as frases, em todas as vírgulas em todos os pensamentos.
Eu gostava de ter uma mulher que falasse de mim em todos os momentos. Uma
mulher que tirasse as vírgulas das frases e as substituísse pelo meu nome. Uma
mulher que visse em todos os homens a minha cara e que mesmo assim fosse tão
independente e livre como Ela era.
No tal jantar, na primeira vez que nos
encontramos, ficamos um ao lado do outro. Os nomes de chefes de estado, de
presidentes, de viagens e de lugares surgiam a uma velocidade que ultrapassava
o sonho e nenhum sonho de nenhum mortal poderia ser tão completo. Fiquei quieto.
Às tantas fez-me uma pergunta que eu não percebi. Pelo que e muito bem, deu a
resposta e desatamos a rir. Sorria inclinando-se ligeiramente para a frente
para que ninguém percebesse. Falava amiúde de nobres causas mas notava-se que
das suas palavras saiam ações. Militante da liberdade, admiradora da Humanidade
e da Obra sublime da Criação entendia que o Seu dever para com todos
ultrapassava de longe a sua própria e frágil forma física. Não julguei nunca
que necessitasse de reconhecimento. Bastava-lhe o Povo português, a sua família
e, claro está o Mário.
Tiramos uma foto, a Manuela a falar,
a Rita Gomes a olhar para mim, a Maria Beatriz muito séria, a Doutora Maria de
Jesus Barroso e eu, olhando um para o outro, rindo de nós próprios, não me
lembro porquê. Guardo esta foto no meu “ wall of fame”, onde estão outras
individualidades que a vida me levou a conhecer.
Das outras vezes que falamos recordo
sempre o carinho, a simpatia mas sobretudo a determinação de Maria Barroso e o
seu empenho em executar algo de extraordinário. Tratava-se de uma Figura de
Estado ímpar que incorporava em si o que de melhor a Pátria tem para oferecer,
de uma dimensão que ultrapassava o comum dos mortais. Sempre que podia, sentava-me ao seu lado, mesmo que não
me reconhecesse, mesmo que fosse para dizer nada.
Aqui têm o meu motivo. Falo pois e
tenho legitimidade de falar, de quem vive comigo na minha casa, na casa dos
meus sonhos, não tenho outros amigos senão os que vivem em mim e admiro, pois é
graças a eles que encontro o meu caminho e a minha responsabilidade de servir o
coletivo, Maria Barroso foi um grande exemplo para muitos de nós.
Paz à Sua Alma
Gonçalo Nuno Mendonça Perestrelo dos
Santos
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