quinta-feira, 23 de outubro de 2025

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

MESA REDONDA A REPÚBLICA NO FEMININO: MULHERES DE ONTEM, INSPIRAÇÃO DE HOJE A República no Feminino é o tema das comemorações do 115º aniversário da implantação da República, que a Associação Mulher Migrante teve a honra de colaborar com a CME na organização deste importante evento. Pretendeu-se reconhecer e valorizar o papel das mulheres que contribuíram para a construção da 1ª. República, frequentemente na sombra dos grandes acontecimentos históricos, mas decisivo para as transformações sociais, culturais e políticas do nosso país. Foi também homenageada Maria Barroso, neste ano em que se comemora o centenário do seu nascimento. No âmbito destas comemorações, vamos fazer uma Mesa-Redonda – REPÚBLICA NO FEMININO: MULHERES DE ONTEM, INSPIRAÇÃO DE HOJE – que se realizará ainda em outubro, mas depois das eleições autárquicas: no dia 31, com início às 21 horas, no Centro Multimeios de Espinho. Para esta Mesa-Redonda foram convidadas destacadas mulheres espinhenses e em diferentes áreas - Cultura, Educação, Empreendedorismo, Associativismo e Política - para se refletir acerca deste legado republicano e a sua relevância nos tempos atuais. Espinho, 9 de outubro de 2025 Maria da Graça Sousa Guedes Presidente da Direção da AMM
ASSOCIAÇÃO MULHER MIGRANTE 30 ANOS DE VIDA ATIVA Local: Porto - Fundação Eng. António de Almeida Data: 29 de novembro de 2025 A Associação Mulher Migrante (AMM), foi criada em 1993, cuja missão pretendeu responder às recomendações manifestadas nas grandes conclusões o 1º. Encontro de Portuguesas Migrantes no Associativismo e Jornalismo organizado em Viana do Castelo pela Secretaria de Estado da Emigração em 1985: de estudo e investigação que envolve a problemática da mulher portuguesa na nossa diáspora. Em março de 1995, realizamos em Espinho o Encontro Mundial das Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo, concretizando uma das recomendações do Encontro de Viana: a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo e, segundo Manuela Aguiar (2009), … com a finalidade de abordar áreas temáticas, tais como a presença feminina no associativismo, na comunicação social, no trabalho, no ensino da língua, na preservação da cultura, através das segundas gerações, na preparação do regresso a Portugal. Este Encontro, que serviu para dar a conhecer a nossa associação, constituiu um marco incontestado do nosso percurso. Estiveram cerca de 400 participantes, muitas das quais vindas dos cinco continentes e na sua grande maioria dirigentes associativos, professores, investigadores, antigos conselheiros do CCP, jornalistas, políticos, jovens das comunidades e de associações espinhenses. Muitas são associadas da AMM; algumas criaram Delegações da AMM nos países onde vivem, realizando grandes eventos científicos, muitos dos quais em articulação com as Universidades aonde pertencem, contribuindo para o alargamento da missão da AMM na diáspora portuguesa que temos implementado. Decorridos 30 anos de vida ativa da AMM, cujo percurso muito nos honra, este Encontro pretende ser assinalado com a mesma dignidade que tem caraterizado as nossas atividades e homenageará MARIA BARROSO, que foi Presidente da Comissão de Honra dos nossos Encontros e Congressos, com presença ativa e participativa, que se associará às comemorações nacionais dos 100 anos do seu nascimento. ASSOCIAÇÃO MULHER MIGRANTE 30 ANOS DE VIDA ATIVA Local: Porto - Fundação Eng. António de Almeida Data: 29 de novembro de 2025 10 horas – ABERTURA Dr. Augusto Aguiar-Branco – Presidente da Fundação Eng. António de Almeida Profª. Doutora Maria da Graça Sousa Guedes – Presidente da Direção da AMM 10,15 - HOMENAGEM A MARIA BARROSO – Dra. Maria Manuela Aguiar 10,30 horas – Pausa 10,45 horas - NOVO DIÁLOGO DE GERAÇÕES – PASSADO, PRESENTE E FUTURO Moderadora: Prof. Doutora Maria da Conceição Ramos - O Encontro de Viana (1985) / Associação Mulher Migrante – Dra. Maria Manuela Aguiar - O Encontro de Espinho (1995) – Prof. Doutora Graça Guedes - Os Encontros para a Cidadania (2005) e os Encontros Mundiais (2011 e 2013) – Dra. Maria Manuela Aguiar 13,00 horas - Almoço 14,30 horas - A COLEÇÃO DA AMM MULHERES ENTRE MUNDOS Moderadora: Dra. Ivone Ferreira . Histórias da minha Vida – Prof. Doutora Graça Guedes . Aonde Causas e Acasos me Levaram – Dra. Maria Manuela Aguiar . Docas de Passagem por Tantos Lugares – Eng. Ernesto Fonseca . Minha Mãe Assim Era Ela – Dra. Maria Manuela Aguiar . Ester, Retalhos de Uma Vida – Ester de Sousa e Sá 16,00 horas – Pausa 16,15 horas - MULHERES PORTUGUESAS NO DIRIGISMO ASSOCIATIVO DA NOSSA DIÁSPORA – Moderadora: Dra. Nassalete Miranda Prof. Doutora Graça Guedes e Dra. Maria de Lurdes Almeida 16,45 horas - Lançamento da JOIA COMEMORATIVA DOS 30 ANOS DA AMM – Prof. Doutora Maria Antónia Jardim 17,00 horas – Porto de honra

domingo, 14 de setembro de 2025

MINHA MÃE Assim era Ela - Apresentação de Ivone Ferreira ESPINHO 13.09.25

Sra. Presidente da Câmara Municipal de Espinho, cara Amiga Maria Manuel Cruz Dra. Manuela Aguiar, Prof Doutora Graça Guedes e restantes presentes, minhas senhoras, meus senhores, amigos e amigas, Boa tarde. Bem-vindas e bem-vindos a mais esta iniciativa, lançamento de novo livro enquadrado na coleção “Mulheres entre Mundos”, da autoria de Maria Manuela Aguiar a quem agradeço, desde já, a confiança que depositou em mim para a apresentação de “Minha Mãe, assim era ela”. Maria Manuela Aguiar tem-se revelado uma escritora de mão cheia. E utilizo esta expressão não só para me referir ao talento na escrita, mas também porque se afirma como alguém com uma memória prodigiosa e preocupada com o legado histórico que são usos e costumes de épocas ainda muito próximas de nós, mas que serão, talvez, as mais sacrificadas, as mais esquecidas, porque a seguir a elas, chegou a tecnologia, a pressa de viver, a multidão de elevada iliteracia e a quem deixámos de “pedir contas” do seu passado. Sei que talvez sejam polémicas estas minhas afirmações, mas socorro-me, por exemplo, de uma notícia difundida há pouco mais de uma semana, pela SIC, em que era afirmado que Portugal está em 2º lugar, entre os 30 países com o nível mais baixo de proficiência em literacia, 46% dos portugueses com idades entre os 25 e 64 anos tem muita dificuldade em interpretar textos e só consegue compreender textos muito curtos e com o mínimo de informação irrelevante. Ora, se é este o estado em que nos encontramos, como vamos ter vontade de ler, de escrever, de guardar ou de divulgar a nossa História, as histórias da História? É fundamental que quer a escrita, quer a leitura não se percam. É preciso resgatá-las, restaurá-las. E este livro é uma peça fundamental para esse resgate. Conta-nos uma história de vida, integrante da história de uma família, que, por sua vez, integra a história de um território, que integra a história de um país, que integra a História do mundo. Como todos sabem, mas vale a pena recordar, as histórias de vida nascem nos Estados Unidos. E nascem do confronto entre os migrantes e os nacionais, anteriormente instalados. Os migrantes, ao entrarem naquele “novo mundo”, abandonavam todo o seu passado e sentiu-se que era preciso guardar sinal dessa existência antiga, tão diferente da nova. Foi igualmente do choque de dois universos que nasceu, na Europa, a necessidade de coletar histórias de vida: por um lado, o universo tradicional, fundado num modelo repetitivo, obediente aos estereótipos e aos arquétipos. Por outro, o universo da modernidade, fundado num modelo cumulativo e de valorização da mudança. Ambos os percursos, o americano e o europeu, tem como objetivo conservar documentos ameaçados, registar a escuta das últimas testemunhas, manter na memória as formas passadas para que o presente e o futuro façam delas uso, da melhor maneira. As histórias de vida fazem falar “os povos do silêncio”. Os “não heróis”, as “não heroínas”. Os que não tem o seu nome na placa de uma rua, mas que a ajudaram a construir. As que não foram à guerra, mas foram as obreiras do material que deu vitórias aos guerreiros. As que não votaram, mas que, na tipografia, ajudaram a imprimir os votos. Estas histórias de vida, sobretudo as que têm as mulheres como figura central, criam em nós a necessidade de nos interrogarmos sobre por que motivo as sociedades diferenciaram tanto homens e mulheres quer na hierarquia quer nas funções. De tal forma o fizeram que, assim que espreitamos para os bastidores da História, encontramos logo mulheres surpreendentes que chegaram até nós através das suas histórias de vida. Mas que tiveram de se vestir de homens ou de usar nomes masculinos, para realizarem os seus percursos de vida da maneira que desejavam. A primeira, María Perez, uma castelhana que viveu no século XII, e desafiou para um duelo, que venceu, o rei de Aragão, Afonso I. Quando se descobriu que era mulher, foi batizada com o cognome de La Varona. Mais tarde, casou e abandonou a guerra... pela família. E Joana D’Arc? E Mary Read? A aventureira inglesa que se alistou como soldado no regimento de infantaria da Flandres? E Henrietta Faber, que no princípio do século XIX se disfarçou de homem e trabalhou como “doutor” em Havana? Quando, em 1820, se apaixonou, revelou que era mulher e quis casar. Foi presa, porque em Cuba era proibido as mulheres estudarem e praticarem Medicina. E porque não recordar também as escritoras que adotaram nomes masculinos? George Eliot, que se chamava Mary Ann Evans, ou George Sand, Amandine Aurore Lucile Dupin, baronesa de Dudevant, ou Victor Catalá, a catalã Caterina Albert i Paradís. Porque as menciono? Porque elas são um pequeno exemplo de como meia humanidade, a parte feminina, viveu, durante milénios, uma existência frequentemente clandestina e, em grande parte, esquecida, mas sempre muito mais rica do que a forma em que estava presa, sempre acima dos preconceitos e dos estereótipos. Porque há uma história que é preciso que fique na História e que só pode ser resgatada se lhe dermos voz, se a escrevermos e, sobretudo, se a lermos. E agora volto à minha leitura desta história de vida que Maria Manuela Aguiar escreveu. Uma investigação genealógica cuidadosa, meticulosa, profunda e apresentada de uma forma tão interessante que nela mergulhamos e desse mergulho não queremos sair. Numa escrita saltitante e cheia de energias positivas, Manuela Aguiar incentiva-nos a visitar “uma elegante vivenda na rua do Paissandú, onde não faltava uma discreta águia de asas abertas na fachada”, ou a sonhar com o jovem Alfredo de quem a sua mãe dizia “Devia se um Aguiar bonito, para a minha mãe ser tão benevolente com ele...”. Claro que era. E o mistério é desvendado ao ser encontrado, e cito, “um pequeno embrulho de fotografias antigas, entre elas o seu retrato, que parece confirmar o prognóstico da sobrinha: um atraente jovem, de olhar intenso e inquieto.” A história de vida de Mariazinha, a Sra. Dna. Maria Antónia Barbosa de Aguiar, insere-se numa viagem que Manuela Aguiar faz até ao século XVII, numa mistura riquíssima e trepidante, mas em sã convivência, com “outras vidas” que com esta se cruzam, de maridos, irmãos e cunhados, tios e primos, um bispo e até, veja-se o pormenor, um parentesco com a primeira mulher de Camilo Castelo Branco. É muito interessante ver como se podem construir, ou percecionar, como agora está na moda dizer, várias formas de ser e de estar através da descrição da personalidade da figura central. Não resisto a ler só mais este pequeno excerto. Memória de Manuela Aguiar: “Lembro-me do meu pai, esfuziantemente divertido. Só bebia socialmente e tornava-se logo muito mais desinibido, mais despreocupado. A mãe, que vivia em estado de despreocupação permanente, comentava: “Este homem só fica normal quando bebe...” E assim, de uma assentada percecionamos o ambiente alegre e feliz em que viveu Manuela Aguiar, o relacionamento de mãe e pai e um pouco da personalidade de cada um. Aí está mais uma razão por que me apaixonam as histórias de vida, em geral e esta em especial. Poderia contar-vos muitas mais histórias, lendo outros extratos contidos neste livro, fazer o retrato quase fidedigno de Maria Antónia, como se a tivesse conhecido mesmo, e de muitos membros da sua família, tal é a riqueza de pormenores que Manuela Aguiar nos oferece, sobre todos os atores que colocou neste livro. Mas, melhor do que eu, para falar com emoção e credibilidade, de alguém que conheceu pessoalmente e com quem conviveu, está ao meu lado a querida Professora Graça Guedes a quem passo a palavra, usando o título de um livro da escritora italiana Susanna Tamaro: Graça, “vai, aonde te leva o coração”. Espinho, 13 setembro 2025

segunda-feira, 28 de julho de 2025

ORGÃOS SOCIAIS 2025/2027 LISTA A ASSEMBLEIA GERAL Presidente – Maria Manuela Aguiar Dias Moreira Vice-Presidente - Victor Manuel Lopes Gil Vice-Presidente – Manuela Marujo Secretário – Nigel Ransley Secretária – Natália Maria Renda Correia DIREÇÃO Presidente - Maria da Graça Ribeiro de Sousa Guedes Vice-Presidente – Ivone Dias Ferreira Vice-Presidente – Maria Aida Costa Batista Tesoureira - Maria Aurora Secretária – Carol Monteiro de Oliveira Marques Vogal - Maria da Conceição Pereira Ramos Vogal – Deolinda Adão CONSELHO FISCAL Presidente – Ester de Sousa e Sá Vogal – Ilda Januário Vogal – Maria Violante Mendes Martins Suplente – Sarolta Erzebete Hoffer Laszlo Suplente – Maria Joaquina Pires NOTA: SECRETÁRIA GERAL: Este cargo é designado pela Direção, que atribui a Maria de Lourdes Almeida.
DA BIBLIOTERAPIA ÀS HISTÓRIAS DE VIDA ( FOTOBIOGRAFIAS) CONVIDADAS COMO TESTEMUNHO! 6h Sábado de manhã e tarde. ( 27 Set ou 4 Out ou 11 Out ou 29 Nov.) Local: Biblioteca de espinho Inscrições: 75€ ( mínimo 10 inscritos) 10% desconto para associados BIBLIOTERAPIA e HISTÓRIAS DE VIDA CONTEÚDOS I. O texto literário e os símbolos · O texto literário e o mundo · A hermenêutica de Paul Ricoeur e o encontro de horizontes · Interpretação / Avaliação · Somos contadores de histórias · O ex: de José Saramago II. A imaginação como pedagogia · A imaginação como pedagogia da alteridade · O papel do leitor · A função das personagens · Umberto Eco e Nelson Goodman · Os símbolos e o Conto: A moça tecelã de Marina Colasanti III. As Histórias de Vida e as Fotobiografias Convidadas / Testemunho SOBRE A FORMADORA Maria Antónia Jardim Pós- doutorada em Arte Terapia e Doutorada em Psicologia e Ciências da Educação (Universidade do Porto). Mestre em Literaturas Clássicas Comparadas (Universidade Clássica de Lisboa). Professora Universitária, com Agregação em Psicologia da Arte; investigadora no CLEPUL. Membro da International Association of Waking Dream Therapy (Malta). Escritora e pintora, publicou diversos livros académicos, sobre Hermenêutica, Simbólica, Psicologia da Arte, Imaginativa Onírica e Novas Pedagogias. Especialista em Hermenêutica, Simbologia, Biblioterapia e Cineterapia. Professora e Formadora nas áreas de Psicologia da Arte e Psicologia Onírica.

Mulheres entre Mundos in "Defesa de Espinho"

MULHERES ENTRE MUNDOS 1 – Mulheres entre mundos é o título de uma coleção de narrativas de vida e fotobiografias que será lançada na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva na tarde do próximo dia 1 de fevereiro. Uma iniciativa da Associação Mulher Migrante (AMM), que, desde 2023, tem a sua sede em Espinho, e já antes, aqui fizera parte importante do seu trajeto, a começar por um primeiro encontro mundial de emigrantes portuguesas, em 1995. Por sinal, o maior que até hoje se realizou no país – e já lá vão, exatamente, trinta anos. Há alguns meses, eu própria levei esse projeto editorial a debate na Assembleia-Geral da AMM, onde foi, sem surpresa, aprovada por consenso. Na verdade, a ideia nem era particularmente original no interior da associação, que há anos se ocupa na compilação de histórias de vidas no feminino, e tem, nesse campo, um considerável registo bibliográfico. Contudo, na maioria dos casos, não foi muito além da recolha e divulgação de pequenas sínteses biográficas, e por isso, reconfigurar o projeto, através de uma coleção, representa um salto qualitativo, com a publicação de livros individuais, testemunhos muito mais completos de feitos e vivências de mulheres na sociedade portuguesa, dentro e fora de fronteiras, na sua transição do espaço privado para o público. Como sabemos, ao longo do século XX, muitas mulheres foram, gradualmente, saindo do estreito círculo familiar, onde a ideologia da ditadura e o atraso de mentalidades e costumes tradicionalmente as confinavam, para competir, de igual para igual (embora geralmente sem armas iguais…), no plano cultural, profissional, cívico e político. Todas elas têm coisas importantes e mobilizadoras para contar (todas, sem exceção), e é preciso que o façam. Todavia, à partida, falar de si, destacando percursos, decisões, obstáculos vencidos para a realização pessoal, no mundo da família e no mundo exterior, não é coisa fácil, em especial para as mulheres que ainda se sentem herdeiras de uma tradição de silenciamento e recato (como diz o misógino ditado popular “onde canta galo não canta galinha” …). Além disso, publicar um livro pode a muitas parecer uma meta inatingível.... Com a Coleção, o que se pretende é facilitar, muito pragmaticamente, essa tarefa. Antes de mais, sugerindo o recurso a imagens (que, segundo a sabedoria popular, valem por mil palavras…). Ou seja, optar por uma fotobiografia, em vez de uma mais custosa narração escrita. Podem começar como quem organiza um álbum, legendando as imagens, desfiando memórias, ligando ocorrências, em comentários mais ou menos extensos. Depois, a AMM oferece-lhes a inclusão numa linha editorial, com uma bela e expressiva capa concebida pelo Dr. Tiago Castro. Às autoras cabe a livre escolha da gráfica que executará o trabalho – a associação não se dedica a esse tipo de mediação, não procura oportunidades negócio ou de lucro, não cobra qualquer comissão. Assegura, sim, informações, e, através do seu Conselho Editorial, o acompanhamento do processo de elaboração do livro, e da sua divulgação, com o objetivo de revelar a vidas significantes de mulheres, com especial enfoque nas que cruzaram fronteiras, tanto geográficas como culturais. Neste campo, nunca serão demais as iniciativas, que, hoje em dia, se vão, felizmente, multiplicando, em estudos académicos, e em projetos editoriais, sinal do crescente interesse por uma literatura de natureza intimista, biográfica ou autobiográfica. 2 –A meu ver, esta é, certamente, uma as formas de combater a mais persistente das discriminações de género, a que podemos chamar "discriminação por invisibilidade", (em alguns casos, não só por mera secundarização do género, mas por deliberado apagamento da história). O estatuto das mulheres, ao menos nas ditas "democracias ocidentais" tem inegavelmente progredido, ao abrigo de Constituições e de leis baseadas no princípio da igualdade na família, no trabalho, na política, na sociedade, com uma crescente autonomia e influência, sem que, contudo, o peso do seu efetivo contributo, em todo e qualquer domínio. seja plenamente reconhecido. Foi sempre assim, e hoje é apenas um pouco menos assim... Lembramos as romancistas ou as compositoras musicais, cujas obras foram assinadas por maridos ou irmãos, ou posteriormente “esquecidas” (o caso de Maria Archer, escritora “deliberadamente apagada da história”, segundo Maria Teresa Horta, que não é caso único…), as cientistas, cujas descobertas foram atribuídas a colegas (alguns dos quais, na vez delas, até arrecadaram prémios Nobel...), as pioneiras do cinema (como realizadoras, produtoras, guionistas, técnicas, inventoras)…Um rol infinito de mulheres que se viram despojadas da autoria da sua obra, em praticamente todos os tempos , todos os setores… uma propositada e sistemática intenção de ocultação do feminino? Um dos exemplos mais escandalosos é o da cineasta Alice Guy Laché, que "inventou" a ficção no cinema (antes meramente "documental"), o "cronofone", para a sincronização do som (na Gaumont), efeitos especiais, a colorização, para além de dirigir e produzir mais de um milhar de filmes. Algumas décadas depois, ainda no seu tempo de vida, no século passado, viu-se riscada dos registos da Gaumont e, em larga medida, da história do cinema. É um paradigma que é particularmente oportuno destacar, porque foi precisamente através de uma autobiografia, que ela próprio procurou recuperar o seu património de realizações, a autoria dos seus próprios filmes, que andava imputada a nomes masculinos. Mulheres mais ou menos famosas, partilham, afinal, as agruras da misoginia: não só desigualdade de oportunidades (o aspeto que é mais referido)) mas, também, a desigualdade de reconhecimento no presente (por exemplo, a genérica subvalorização das profissões e tarefas predominantemente femininas...), e o risco do esquecimento no futuro, na história que se vai reescrevendo…. O projeto editorial "Mulheres entre Mundos" tem por principal finalidade combater semelhantes assimetrias, ao dar a palavra e ao pôr o foco o género sub-representado no espaço público. Existe para servir essa causa, está aberto a todas as mulheres, qualquer que seja a sua formação ou atividade, e sejam ou não associadas da AMM – para dizerem, conjugando livremente a escrita e a imagem, como chegaram aonde chegaram. É uma aposta não tanto no valor literário do relato, como no inerente interesse humano de todas as aventuras de vida, e na esperança de que cada nova edição se preste a motivar mais e mais mulheres a saírem do anonimato, a revelarem a diversidade a valia dos seus contributos à sociedade. 3 - A coleção é inaugurada com a fotobiografia da Profª Graça Guedes (“Histórias da minha vida”), e, a meu ver, como já, em várias ocasiões salientei, não poderia começar melhor. Por múltiplas razões, uma das quais é a de nos levar à intimidade de alguém que se notabilizou, primeiramente, no desporto – área em que, não só entre nós, como um pouco por todo o lado, se tem mostrado mais difícil alcançar a igualdade dos sexos, quer no dirigismo, quer no que respeita ao estatuto das desportistas. A autora possui, neste domínio, um currículo de impressionante pioneirismo no plano académico - foi a primeira mulher doutorada em ciências do desporto e professora catedrática em Portugal, depois de ter sido, como atleta e como treinadora, campeã nacional. E, ainda por cima, é uma mulher de Espinho. Espinho, em matéria de recente participação cívica e política das mulheres, não deixa de nos surpreender. Na política está, como é sabido, muito acima da média nacional, (com paridade no Executivo, e a presidência feminina da Câmara e da Assembleia). O que talvez não seja tão notório é a importância da presença feminina a nível institucional, no voluntariado, no associativismo, no que se costumava designar por “forças vivas” da comunidade local. Há atualmente, no concelho, 22 mulheres a presidir à direção associações de todo o tipo sobretudo nas áreas da solidariedade e da cultura, e, também, da proteção dos animais (uma das minhas causas afetivas...). Confesso que, ao partir para um primeiro levantamento, por pura curiosidade, não esperava tanto. Mais uma alínea para a longa lista das perceções desfasadas da realidade, a reforçar a tendência para a menor notoriedade das mulheres nos cargos que exercem. Essas verdadeiras “mulheres entre mundos” são ainda pouco visíveis no mundo novo onde já singram... Maria Manuela Aguiar