MULHER
MIGRANTE
O universo da AMM
Número 3 – Dezembro, 2019
NOTA EDITORIAL
Com o objetivo de se poder ter um conhecimento mais aprofundado do universo dos associados
(homens e mulheres) da AMM, foi decidido em reunião da AG dedicar o Boletim nº 3 a narrativas de
vida na primeira pessoa, em que a história de cada um ganhasse uma dimensão social e cívica, nem
sempre traduzidas num mero CV académico ou profissional. Para o efeito, a Arcelina Santiago
encarregou-se de pedir aos associados um registo do seu percurso de vida, acompanhado de uma breve
nota curricular e das respostas a duas questões previamente formuladas.
Associados houve que, em tempo recorde, satisfizeram os requisitos propostos. Outros, por imperativo
das suas tão preenchidas agendas pessoais e profissionais, levaram mais tempo a fazê-lo, havendo ainda
quem não tenha conseguido cumprir o solicitado. Outros, ainda, enviaram-nos incompletos.
Sendo intenção desta direção, dar à estampa o referido boletim, antes de terminar o ano, dele constam
já algumas dessas biografias por ordem alfabética, exceto as primeiras que, por serem das duas
fundadoras, lhes foi dada a primazia.
Continuaremos a trabalhar no material recolhido, e no que ainda nos há-de chegar, para que venha a
fazer parte das futuras publicações.
Por termos dado a cada participante a possibilidade de, livremente, destacarem a colaboração passada,
mas também a de apresentarem projetos para o futuro, temos a certeza de que, com os mais variados
contributos, a nossa Associação continuará a cumprir os objetivos fundamentais que lhe servem de pilar
e justificam a sua existência.
Aida Batista
Vice-Presidente da Direção
MARIA MANUELA AGUIAR DIAS MOREIRA
Nasci em 1942, na casa grande da avó materna - uma das chamadas “casas de
brasileiros” - no centro de Gondomar. Aí vivi os anos felizes da infância, num
ambiente em que o Brasil estava bem presente, mais nas memórias, nas
narrativas, na música, na gastronomia do que na traça da casa.
Aguardei, com impaciência, a entrada na escola, onde me sentia realizada a
aprender as letras e os números. Depois de dois anos na escola pública, sete no colégio do Sardão (onde
tinha ótimas condições para a prática do desporto, que era a minha paixão maior) e dois no Liceu
Rainha Santa Isabel, fiz o curso de Direito na Universidade de Coimbra. Era excelente aluna, estudava
voluntariamente, com entusiasmo, embora sofresse por demais com todos os exames, que acabavam por
correr a contento. Terminei o liceu com 18 valores, em 1960, e Direito com 17, em 1965.
Voltei à vida de estudante, como bolseira da Fundação Gulbenkian, em Paris, entre 1968 e 1970, o lugar
e o tempo certo para me iniciar na Sociologia do Direito, em mais do que um sentido. Concluí o ano de
"titularização" na École Pratique des Hautes Études, com Alain Touraine, depois de vários certificados
na tumultuada Vincennes e o "Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit" na ordeira
Faculdade Livre de Direito do Instituto Católico. Residia na cidade universitária, (na Casa de Portugal,
depois na Fundação Argentina). Senti-me em vários países simultaneamente, e em todos fiz amigos que
ficaram para sempre. Parafraseando António Vitorino de Almeida sobre a Áustria e Viena, direi que
"Paris é a minha cidade, mas a França não é o meu país". Aquando dessa espécie de feliz migração
parisiense, já era Assistente do Centro de Estudos do Ministério das Corporações (1967/74), onde tive
colegas que foram, e são, grandes nomes na comunidade académica e na política, (em quadrantes vários)
e dois diretores de boa memória, que me deram liberdade de expressão e de circulação (com bolsas da
OIT, da OCDE, das Nações Unidas). Um era homem do regime (Cortez Pinto), o outro um professor
cultíssimo, progressista e muito divertido (António da Silva Leal).
Os meus incipientes estudos de sociologia trouxeram-me um inesperado convite de Álvaro Melo e
Sousa para ser sua assistente na Universidade Católica. Um segundo convite, igualmente inesperado,
levou-me para a Faculdade de Economia de Coimbra, onde tomei posse no dia 24 de abril de 1974, e
um terceiro, pouco depois, para a "minha" Faculdade de Direito. Fui assistente de Rui Alarcão, futuro
Reitor, e de Mota Pinto, futuro Primeiro-ministro. Uma época agitada e auspiciosa, em certos aspetos
como a vivida em Paris, nos dias e meses a seguir a uma revolução... Eu não tinha partido, era socialdemocrata "à sueca", como Sá Carneiro e os meus amigos de Coimbra, ideólogos do PPD.
Em 1976, antecipando saudades sem fim, troquei a Faculdade por uma instituição completamente nova
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entre nós, o Serviço do Provedor de Justiça, onde fui assessora de dois históricos democratas: o primeiro
Provedor, Coronel Costa Braz, e o segundo, Dr José Magalhães Godinho, exemplo raro de humanismo e
de alegria de viver.
Só na década de noventa me reencontrei com salas de aulas, como docente convidada da Universidade
Aberta (Mestrado de Relações Interculturais).
A experiência nas três universidades foi esplêndida e ajudou-me a rejuvenescer e a interagir com
audiências estimulantes e numerosas. Uma aprendizagem sem a qual não teria conseguido fazer
caminho no terreno mais agreste da política - coisa que, devo acrescentar, não estava nos meus planos.
Desde sempre gostei de discutir questões políticas no círculo da família e dos amigos, e era uma
feminista declarada nas coimbrãs tertúlias de café. E, talvez por isso, o Doutor Mota Pinto me lançou,
em 1978, o desafio de passar à ação: ou aceitava o cargo de Secretária de Estado do Trabalho ou seria
responsável pelo défice feminino do seu governo (de independentes). Aceitei. Com eleições já no
horizonte, era "serviço público" por alguns meses apenas. Em agosto de 1979, reocupei o meu gabinete
na Provedoria, tendo deixado pronto para publicação, na Praça de Londres, o diploma que criava a
Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego (CITE) - inspirada no "Ombudsman para a
Igualdade" da Suécia. Contudo, não resisti a uma nova e surpreendente chamada para o governo de Sá
Carneiro, na pasta da emigração. Fui, e fiquei em quatro governos e no parlamento, durante mais de um
quarto de século, ligada às questões da emigração, da Igualdade de Género, dos Direitos Humanos.
Entre 1987 e 1991, com quatro sucessivas eleições para Vice-Presidente da Assembleia da República,
tornei-me a primeira mulher a presidir a sessões plenárias ou a delegações parlamentares (começando
logo por uma visita oficial ao Japão). Em 1991, fui eleita para a Delegação Portuguesa à Assembleia
Parlamentar do Conselho da Europa (APCE) e à União da Europa Ocidental (AUEO), nas quais seria,
durante 14 anos, membro, presidente de diversas subcomissões, presidente da Comissão das Migrações,
Refugiados e Demografia, Vice Presidente da UEO e da bancada parlamentar do Grupo Liberal e
Reformista, e, nos três últimos anos, Presidente da Delegação Portuguesa, um trabalho gratificante, em
assembleias onde se pensa o futuro, onde até é permitida a utopia, sem nenhum dos constrangimentos
dos parlamentos nacionais. Quando o PSD trocou o Grupo Liberal pelo PPE, era frequente os colegas de
grupo votarem contra os meus relatórios e vice-versa.
Saí, quando quis sair, da Assembleia da República, em 2005. De 2005 a 2011 fui Vereadora na Câmara
de Espinho. Desde então e até hoje, continuei o meu trabalho cívico, nos mesmos domínios de
intervenção, sem abrandar o ritmo. Este percurso de vida, no início, não tendo sido uma escolha minha,
acabou por revelar-se uma boa escolha. Foi feito de movimento, de incontáveis viagens de descoberta
pelo/do mundo das comunidades da emigração e da Diáspora, de encontros, diálogo e amizades em
tantos países e continentes; em Portugal, de convívio, em alguns casos, inesquecível, com os grandes
Bolet protagonistas da história da Cultura e da Democracia, da minha geração: os que já mencionei e outros.
Homens, como o General Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Freitas do Amaral, e Mulheres, como
Maria Barroso, Natália Correia, Agustina Bessa Luís, Amália, Ruth Escobar. E ainda me restou algum
tempo livre para coisas de que tanto gosto: futebol, cinema, praia, música, um bom livro, os meus cães e
gatos.
Livros, publiquei alguns sobre emigração, o último dos quais, em 2005, com o título "Comunidades
Portuguesas, os Direitos e os Afetos", quando os afetos ainda não eram virtude no discurso político.
Sobre um dos processos políticos em que mais diretamente me envolvi no parlamento, a do estatuto de
Igualdade de Direitos no espaço luso-brasileiro, editei, no mesmo ano, uma coletânea de textos, com o
título “A igualdade de Direitos e Deveres entre Portugueses e Brasileiros - a questão da
reciprocidade/1988 -2001
Coordenei, desde 2002, a publicação de revistas e atas de congressos da AMM.
As condecorações vêm, em regra, no último capítulo, dos CV. Muitas são as que recebi em função de
cargos oficiais, mas aqui referirei só as que me foram atribuídas de forma mais personalizada, como a
Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique pelo Presidente Sampaio, a Grã-Cruz da Ordem do
Cruzeiro do Sul (Brasil), a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco (Brasil), a Ordem da Estrela Polar
(Suécia) no grau de Grande Oficial, o título de "Cidadão do Rio de Janeiro", a Ordem Tiradentes, a
Medalha de Mérito Cívico da Câmara de Gaia (classe ouro), o "Dragão de ouro" do FCP, a Medalha de
Honra da Câmara de Espinho.
Algumas considerações sobre o meu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM.
Sou uma das fundadoras da Associação.
Acredito na força dos movimentos associativos, na sua influência para a mudança do estado de coisas
imperfeito e injusto, que herdámos do passado. No início de 90, envolvi-me no trabalho de promover a
criação de organizações para a igualdade em diversos domínios, sem esquecer o das migrações,
tradicionalmente tão marginalizado - até nas reivindicações das feministas, desde o século XIX. A
AMM é contemporânea da "Associação das Mulheres Parlamentares", da "Associação Ana de Castro
Osório" ou do Forum Internacional das Migrações, entre outras de que fui fundadora. Em comum
tinham o facto de se situarem numa perspetiva suprapartidária. Não fiquei à frente de nenhuma, porque
na altura viajava constantemente para reuniões no Conselho da Europa, e nas nossas comunidades do
estrangeiro, mas colaborei ativamante, desde a primeira hora, sobretudo com a AMM. No seuarranque,
a Associação contou com o entusiasmo e a eficácia da empresária luso-brasileira Fernanda Ramos e de
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Rita Gomes, que acabava de se aposentar. Seria a única capaz de fazer um caminho ascensional, ao
longo destes últimos 25 anos - prova real de que é fácil ter uma ideia e lançar um projeto, o difícil é
continuá-lo!
Neste caso, tratava-se, mais precisamente, de relançar ou retomar um projeto pensado e proposto
durante o histórico 1º Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo de 1985: o da
união das mulheres portuguesas no mundo. Intenção esplêndida e pioneira, que não puderam então
concretizar, mas inspirou a criação da "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade", em 1993. De facto, no ato da sua constituição vemos os nomes de muitas das
participantes do pioneiro Encontro Mundial. A nova ONG, (ao contrário do modelo delineado em 1985
e adotado no associativismo feminino da Diáspora), é aberta aos dois sexos, a todos os que se
preocupam com as particularidades de género nas migrações e com quaisquer formas de discriminação e
xenofobia. Esta absoluta singularidade, convertê-la-ia, numa fase inicial, em parceira importante da
Comissão da Igualdade, (que tinha um historial de insuficiente atenção às mulheres expatriadas), e,
depois, também da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, a partir de 2005, data em que
passou a desenvolver, sistematicamente, políticas de emigração com a componente de género. Pude
intervir em todos os colóquios e congressos organizados no país e no estrangeiro, nomeadamente nos
"Encontros para a Cidadania" (2205-2009), presididos pela Dr-ª Maria Barroso, e coordenei, juntamente
com outras colegas, várias das nossas publicações. Neste momento, estou empenhada em colaborar com
a Direção da AMM e com as/os demais colegas na execução do ambicioso programa para o ano de 2019.
É bom pertencer a uma coletividade, onde independentemente da nossa posição nos órgãos sociais,
temos o mesmo direito de iniciativa, temos voz e somos ouvidas/os. Em suma, somos iguais, numa
ONG que se bate pela igualdade!
Os meus planos de ação no domínio das Migrações e da Diáspora, com especial enfoque nas
femininas, em colaboração com a AMM.
Nos últimos anos, sobretudo desde que cessei funções oficiais, tenho procurado, sempre que possível,
destacar a minha pertença à AMM, nas sínteses curriculares, assim como enquadrar as minhas
intervenções, mesmo as que são solicitadas a título pessoal, no programa de atividades da Associação.
As frequentes deslocações ao estrangeiro deram-me, e de algum modo continuam a dar-me,
oportunidades de incentivar uma maior participação cívica e política das emigrantes, seja pelo seu
acesso ao patamar do dirigismo associativo geral, seja, em alternativa, pelo desenvolvimento de
movimentos cívicos, e pela aproximação, entre si, de mulheres de diferentes comunidades e delas com a
AMM, assim potenciando uma vertente internacional, que é, bem vistas as coisas, a sua vocação
originária.
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MARIA DA GRAÇA RIBEIRO DE SOUSA GUEDES
Nasci em Espinho, na Casa de Saúde, poucos dias depois do início da 2ª Grande
Guerra Mundial. Cresci em Espinho. Vivo em Espinho, na casa de meus Pais e onde
quase sempre vivi desde o meu nascimento.
Fiz o ensino primário e o secundário (até ao 5.º ano do liceu) em Espinho, no Colégio Nossa Senhora da Conceição. Depois o 6º e 7º anos, no Colégio do Sardão, onde
conheci a Drª. Manuela Aguiar e, desde essa data, a nossa amizade existe.
Tive uma infância e adolescência muito felizes, muito acarinhada pelos meus Pais e irmãos, bem mais
velhos do que eu, mas num ambiento de rigor e exigências, não só de âmbito cultural, mas também civilizacional.
Nesta fase da minha vida, envolvi-me intensamente com atividades culturais: Música (piano) e Desporto
(Natação – aprendi a nadar com 3 anos, praticando diariamente na Piscina Solário Atlântico em Espinho; Voleibol – fazendo parte da 1ª equipa feminina do Sporting Club de Espinho). Nestas modalidades
desportivas prossegui num caminho para a alta competição: Natação, no Sport Algés e Dafundo; no Voleibol, no Sporting Club de Espinho e depois no Lisboa Ginásio (campeã nacional).
Embora sempre pretendesse fazer a licenciatura em Medicina, e até tivesse feito provas de admissão na
Universidade do Porto, com sucesso, decidi optar pelo Desporto, no INEF (Cruz Quebrada), onde fiz a
Licenciatura em Educação Física (1963). Mais tarde (1979), rumei a Paris para a realização do Doutoramento em Psicologia na Universidade René Descartes – Sorbonne (concluido em 1984), com a dissertação intitulada Les Conduites d´Adaptation Motrice Chez les Enfants Scolarisés de Deux à Trois Ans –
les enfants portugais en France et au Portugal .
E aqui começou toda a minha envolvência com a problemática da emigração. Não só pelo estudo científico aprofundado, tal como exige este grau académico, como também pelo contacto com a comunidade
portuguesa em Paris, para a investigação no terreno das crianças portuguesas, que eram o meu objeto de
estudo. Acresce a minha aprendizagem com os professores portugueses aí envolvidos no ensino do português, em cursos que dinamizei a convite da Coordenação do Ensino de Português em França.
Este Doutoramento foi reconhecido em Portugal em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, onde desenvolvi toda a carreira académica
e científica. Fui então a primeira mulher que em Portugal obteve este grau académico nesta área científica – Ciências do Desporto. Com Agregação, fui depois Professora Catedrática (também a primeira
mulher a obter este grau académico em Ciências do Desporto), liderando um grupo de disciplinas afetas
ao Comportamento Motor. Múltiplas orientações de teses de Mestrado e de Doutoramento, participação
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em Congressos, Conferências, publicação de livros e de artigos em Revistas científicas, marcaram este
percurso universitário.
Para além desta carreira académica, também na desportiva saliento desempenhos de treinadora de Ginástica Rítmica (Sport Club de Porto – com uma classe que foi vice-campeã europeia) e de Voleibol
feminino (CDUP e Sporting Club de Espinho, campeã nacional).
A convite da Secretaria de Estado da Emigração, dinamizei ações de formação sobre Atividades Lúdicas
Tradicionais (Jogos e Danças) nas comunidades portuguesas da Europa (França, Suiça e Alemanha),
Américas (Canadá, EUA, Panamá, Venezuela, Brasil, Uruguai e Argentina), Ásia (Malásia - Malaca) e
África (Zaire e África do Sul – Joanesburgo, Pretória, Durban e Cidade do Cabo), balizando o ensino da
língua portuguesa. Estas vivências favoreceram um conhecimento aprofundado da nossa comunidade
espalhada pelo mundo.
Em 1984 fui Diretora do Centro de Estudos da Emigração, sucedendo neste cargo à sua fundadora, Profª. Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade. Simultâneamente, fui Delegada no Porto do Instituto de Apoio da Emigração e das Comunidades Portuguesas.
No meu relacionamento com a comunidade, desempenhei diversos cargos diretivos: Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Espinho (Vice Presidente da Direção), Sporting Club de Espinho (Presidente da Assembleia Geral), Orpheon de Espinho (Vice Presidente da Assembleia Geral) e Presidente
da Assembleia Municipal de Espinho.
Fui fundadora e Presidente da Sociedade Internacional de Estudos da Criança.
Sou sócia fundadora da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante, onde fui a
primeira Vice Presidente da Direção e atualmente sou Presidente da Direção.
Sou Sócia Honorária da Sociedade Científica de Pedagogia do Desporto.
Fui condecorada em 2003 com a medalha de ouro da cidade de Espinho (Medalha de Mérito).
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Orgulho-me de ser uma das fundadoras da Associação e, inclusivamente, uma das outorgantes na escritura notarial, respondendo com a maior honra e satisfação ao desafio da Drª Manuela Aguiar.
Honra e satisfação em poder participar na implementação de um projeto, pensado e proposto durante o
histórico 1º Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo (1985) a que assisti em
Viana do Castelo e, pontualmente, ajudei logisticamente a sua organizadora, Drª Maria do Céu Cunha
Rego: o da união das mulheres portuguesas no mundo - a criação da Mulher Migrante Associação de
Estudo, Cooperação e Solidariedade, em 1993, por escritura notarial em 2 de janeiro de 1994.
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Desafiada pela Presidente da Assembleia Geral, Drª Manuela Aguiar e com o cargo de Vice-Presidente
da Direção, fui responsável pela organização do Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações
em Diálogo, realizado em Espinho, em Março de 1995, cuja tarefa foi facilitada pela extraordinária equipa que me apoiou. Efetivamente, todas as tarefas são simplificadas, quando a equipa é coesa e dinâmica, interessada em tudo fazer para o êxito da organização. Com diferentes vivências e formações
académicas, muitos dos quais estudantes de doutoramento da minha Faculdade, propiciaram uma articulada intervenção para dar resposta a todas as necessidades.
Um Encontro que marca indelevelmente o início das atividades da Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade Mulher Migrante. Estiveram cerca de 400 participantes (sendo 91 das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo), muitas das quais vindas dos cinco continentes e, na sua grande maioria, dirigentes associativos, professores, investigadores, antigos conselheiros do CCP, jornalistas, políticos, jovens das comunidades e de associações espinhenses. Algumas já tinham estado em Viana (1985):
Eulália Salgado, Lourdes Lara, Juliana Resende, Manuela Chaplin, Berta Madeira, Mary Giglitto e outras, agora a residir em Portugal, tais como a Laura Bulger (Canadá) e Leonor Xavier (Brasil).
Este Encontro, que serviu para dar a conhecer a nossa associação, foi também a concretização de uma
das recomendações do Encontro de Viana (1985), que visava a realização de um Congresso de Portuguesas no Mundo e, segundo Manuela Aguiar (2009), … com a finalidade de abordar áreas temáticas,
tais como a presença feminina no associativismo, na comunicação social, no trabalho, no ensino da
língua, na preservação da cultura, através das segundas gerações, na preparação do regresso a Portugal.
A partir de 2005, tive a honra de participar nos Encontros para a Cidadania (2005-2009), presididos
pela Dr-ª Maria Barroso e patrocinados pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, que se
realizaram em Portugal (Lisboa, Maia e Espinho) e no estrangeiro (Buenos Aires, Joanesburgo e Estocolmo).
Colaborei com a Drª Manuela Aguiar e a Drª Arcelina Santiago na elaboração de publicações que foram
editadas pela Associação.
Fui Secretária Geral da AMM em dois mandatos, com a Presidente da Direção Dra. Rita Gomes e continuei no mesmo cargo no mandato seguinte em que foi presidente Arcelina Santiago. Na Assembleia
Geral do passado mês de Março, fui eleita Presidente da Direção.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
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Com o avançar dos anos, somos tentadas a simplificar as nossas tarefas científicas, já que ficaram para
trás as tarefas profissionais, que tanto nos envolveram.
Somos tentadas a novos estilos de vida, mas que se podem adaptar a novos desafios.
E esta associação é um deles.
O desafio de ser agora Presidente da Direção impõe prestações, às quais me dedicarei com o maior empenho, em conformidade com o disposto nos Estatutos.
Importa agora, e prioritariamente, organizar a nossa sede, raramente utilizada e que merece ser um espaço de encontros e de realização de eventos, para a qual o atual Presidente da Assembleia Geral, Dr.
Victor Gil, tem sido um exímio obreiro, com o apoio da sua mulher Dra. Maria de Lourdes, a quem todos temos de agradecer, considerando a quantidade de caixotes com o acervo da AMM, que vieram de
casa da Dra. Rita Gomes após a sua morte.
Embora a Dra. Manuela Aguiar e a seu pedido, tenha deixado de ser Presidente da Assembleia Geral,
continua a apoiar-nos, como sempre o fez, com aquele dinamismo e saber para dinamizar novos eventos
que, entretanto, se têm realizado.
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ADELAIDE ANTÓNIA RAMOS VILELA
De Alma Lusitana
Sou Adelaide Antónia Ramos Vilela. A aldeia que me deu luz - um presépio que sobe a Serra do Açor - é S. Jorge da Beira, a terra mãe das Minas
da Panasqueira. Tive ainda outro berço, rodeado de contos e de lendas, e
que traz ao rosário da palavra o nome de Julião, a cidade da Covilhã ou
Sília Hermínia, como outrora se chamava.
Da cidade das lãs fui para Angola, era ainda uma criança. Passei então
uma parte da minha juventude nas minas do manganês de Angola e em Salazar. Regressei a Portugal em
1975. Em 1978 eu e o meu marido, o Manuel Vilela, de Agarez, Vila Real, partimos na maior das aventuras e só paramos em terras quebequenses. Montreal acolheu-nos com amor, ofereceu-nos a nacionalidade canadiana, e aqui nasceu a nossa filha, a nossa princesa, nos inícios dos anos oitenta.
Nesta Terra de oportunidades, como mulher migrante, depois de ter trabalhado 14 anos no Hospital Royal Victória, licenciei-me em Comunicação e Técnicas de Animação Cultural e de Empresas, pela Universidade de Montreal.
Comecei a escrever poesia, em terras de Angola, com apenas 14 anos. De certo modo, embarquei numa
viagem de sonho e de aventura, num caminho chamado oceano encantado, um dia trilhado pelos nossos
navegantes. Faço muitas viagens em prol da língua e da cultura portuguesas, com malas de livros na
mão e a bandeira portuguesa às costas. Nestas viagens poéticas, proponho-me enaltecer e homenagear
os pioneiros de Portugal Continental e das ilhas adjacentes, e todos quantos falam ou cultivam a língua e
a cultura lusíada. Cabe-me, porém, destacar de modo especial os nossos primeiros pais que, como os
navegantes, abriram caminhos e forjaram destinos que hoje nos são tão úteis nestes caminhos da emigração. Graças a esses bravos imigrantes, sinto que nestas terras da diáspora a minha identidade é e será
sempre preservada com um cunho de dignidade e de respeito.
Falar de poesia, mesmo nos momentos mais frágeis da minha existência, foi e será sempre uma prioridade, ainda que corra o risco de ser mais uma poetisa esquecida pela sociedade. Os livros que escrevo
são singelos, mas genuínos! Mas a poesia não só dá sentido à minha vida, como me obriga a viver como
alma peregrina mundo além. Não pretendo escrever um livro de História, mas escrevo histórias, pois
para tal tenho força e grande inspiração para o que quero e desejo. De cada vez que escrevo, sinto que
dou resposta ao meu coração. Faz todo o sentido escrever na língua de Camões, nestas terras distantes
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do nosso berço natal, quando pretendemos expor ao mundo, e em particular ao Canadá, o grande projeto
nacional dos portugueses que é a expansão marítima.
Portugal não vive naquele cantinho que nós conhecemos ao lado da Espanha. Portugal pulsa no peito da
cada emigrante, Portugal pulsa cada dia no meu coração, fazendo-me viver e pensar que sou MM portuguesa, até que os meus olhos se fechem para sempre.
Assim vivo repartindo a minha atividade por sectores tão diversos como: relações humanas e artísticas,
conferências, publicidade, jornalismo e fotografia.
No jornalismo, colaborei com os jornais: A Voz de Portugal, O Emigrante, o Lusopresse (Montreal), O
Milénio, O Voice (Toronto), A Voz de Trás-os-Montes (Portugal) e outros, onde tenho publicado inúmeras crónicas.
Fui colaboradora da RDPI, no programa “Novo Mundo”, com a rúbrica Casa Portuguesa, em que dava a
conhecer luso-canadianos residentes em Montreal e de várias cidades vizinhas.
Com mais quatro colegas, realizei uma curta-metragem intitulada “Mensonges”. A história é da minha
autoria. Participei, como figurante, no filme “The Last Hope” do colombiano Harold Martinez Jordan.
Fui ainda convidada a participar em vários programas de Televisão e de Rádio, em Montreal, Toronto,
Portugal Continental e Ilhas dos Açores. A título de exemplo, nos programas: Jornal das Comunidades,
Aqui Portugal, Praça da Alegria, Portugal no Coração e Agora Nós. No Canadá, a nível nacional e internacional, organizei e animei alguns Programas de Televisão.
Muitas das minhas atividades e participações destacam-se também em diversos países da América Latina. A título de exemplo, no 5º Encontro Internacional Literário, no Uruguai, em Montevideu, organizado
pela Brace, fui reconhecida como “Poeta da Luz”. Participei nas Jornadas Literárias organizadas pela
Universidade de Morelos, no México, expus imagens de Portugal e de diversos países do Mundo. Participei no Festival Mundial de Poesia, organizado pela Revista Olandina, Peru, e pela Casa do Poeta Peruano. Destas atividades destacam-se ainda as edições de um CD de poesia e uma antologia intitulados
“Los Ángeles también cantan”.
Duas medalhas de ouro, agarradinhas ao meu peito, fazem parte do meu portfólio e foram ganhas na
América Latina, no Peru.
Na Universidade de Morelos, no México, foi organizada uma exposição de fotografias da minha autoria,
intitulada IMAGENS DE ALMA LUSITANA.
Em 2012, a convite da Câmara da Covilhã, foram expostas mais de 100 fotografias de Portugal e de
vários Países do Mundo, retiradas de IMAGENS DE ALMA LUSITANA.
No campo musical tenho contribuído para o êxito de vários artistas e excelentes profissionais, que cantam sobretudo em língua portuguesa. Alguns deles aprenderam a falar português comigo e cantam letras
do meu reportório, em português.
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Bibliografia: Os Meus Versos Meninos, Versos do meu Jardim, Versos e Universos, Portugal à Janela,
Cantares de Adelaide, Palabras del Corazón, Laços e Abraços, Horizontes de Saudade, Olhos Nas letras,
Magma de Afetos, e mais duas dezenas de antologias, são os livros que preenchem as minhas bibliotecas.
Oito livros foram editados em Montreal, um exemplar em S. Miguel, Açores, outro em Lisboa, e muitas
das Antologias na América Latina, sendo duas delas de Montreal.
Na Universidade del Callao, Lima, Peru, no Festival Internacional de Poesia, Leoncio Bueno, fui acolhida como VISITANTE DISTINGUDA COMO TESTUNHO DA MINHA VISITA À HISTÓRIA DA
CIUDADE DE CALLAO.
E para maior riqueza de Portugal no Mundo, ofertei uma Bandeira das cinco quinas, que tinha em meu
poder há mais de 40 anos, a uma professora lusovenezuelana, que nunca tinha conhecido o seu país de
origem, mas que ensinava português na associação que frequentava.
Para concluir, e através deste mar imenso que é a Associação da MM, tentarei levar o nome de Portugal
mar além viajando nas asas da arte e da cultura, rumo a novas e promissoras aventuras poéticas. Como a
Terra necessita de carinho e de sossego, vale a pena escrever as três letrinhas que compõem a palavra
PAZ.
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AIDA BATISTA
MIGRAÇÃO EM VÁRIOS ANDAMENTOS
Vivi nove meses no aconchego do ventre de minha mãe, até
que, sob a influência da lua - diziam os antigos – chegou o dia
em que, num grito de alforria, emigrei para o seio da família
que me esperava no cais de uma gestação bem sucedida, situado na zona do Douro Vinhateiro.
Primeiro o pai - a quem as fráguas estreitas e íngremes do rio limitavam a grandeza do sonho - depois a mãe, acompanhada das duas filhas (eu e minha irmã), decidiram cruzar o mar para, numa
praia mais a sul do Equador, fixarem a âncora da minha identidade e de todos os irmãos que se seguiram.
Foi aí, na costeira cidade de Benguela, que cresci, me fiz mulher e mãe de dois filhos (uma menina
e um rapaz), alheia à forma como a sociedade estava organizada. Estudei no colégio das Doroteias,
cujo regime de internato permitia que as filhas dos fazendeiros e comerciantes ricos da província, lá
vivessem. Durante todos os anos da minha escolaridade, tive colegas mestiças, mas, nem uma preta!
Nas escolas oficiais, já se viam algumas, mas só depois de eclodir a guerra, em 1961, as turmas começaram a ganhar um colorido humano.
Confesso que nunca partilhei do slogan criado por Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois
entranha-se”. Nunca estranhei nada, e desde sempre entranhei que o regime era mesmo assim! Numa família remediada, a grande preocupação de meu pai era trabalhar para alimentar e educar a
prole que aumentava de ano para ano. Eu, desde muito cedo cuidadora de irmãos, tentava desempenhar esta atividade juntamente com a outra, a de estudante, nunca tendo perdido ano algum.
Sem mala de cartão, mas um filho em cada mão, em 1975, vi-me no aeroporto de Luanda a fazer
parte de uma ponte aérea, de regresso ao país onde nascera, mas não vivera. O País que eu estudara
cruzava o mapa do Minho a Timor, e fui apanhada de surpresa, sem nada entender do direito à autodeterminação. Já estávamos em guerra, para onde tinham ido soldados em força, mas ficava tudo
tão longe que nunca dela me dei conta.
De início, sem trabalho e sem salário, valeu-me o teto da casa do pai dos meus filhos, no interior de
Quem viveu pregado a um só chão,
não sabe sonhar outros lugares.
Mia Couto, Jesusalém.
Boletim MULHER MIGRANTE – o universo da AMM Número 3, Dezembro de 2019
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um Portugal muito provinciano, que ainda criticava as mulheres que fumavam, e olhava de soslaio
para as que usavam calças e se apresentavam com corpos mais descobertos.
Para sobreviver nos primeiros tempos, troquei cautelas premiadas, de pouco valor, cujo prémio tanto podia ser levantado em Angola como na Metrópole. Felizmente, e porque já havia iniciado a minha carreira docente lá, acabei por ser colocada cá. A partir daí, se há muito havia deixado
de olhar para trás, passei a traçar metas num horizonte voltado para o futuro.
Sozinha, a cuidar dos filhos, a trabalhar e a estudar em simultâneo, segui a estrofe da pedra
filosofal e deixei que o sonho comandasse a vida. Pensava na condição das mulheres? Não! A minha enchia-me de tal modo que não havia espaços onde coubessem as outras. Era emigrante pela
terceira vez, mas o nome que me deram foi de “retornada”. Não sofri com o epíteto, porque a tudo
retornei: à luta pela sobrevivência, pelo sucesso académico na Universidade de Coimbra, onde me
inscrevera na Licenciatura em História - e tardiamente despertei para movimentos e causas -, pelo
estágio pedagógico de dois anos, que tive de fazer para me vincular à escola, pela casa que decidira
começar a construir, pelo esforço de acompanhar os estudos dos filhos, pela entrega à pósgraduação em Estudos Europeus na mesma universidade, e a enorme vontade de ter mais mundo do
que o das fronteiras que o destino me reservara.
Para o conseguir, fiz o Curso de Leitora de Português e, no ano em que perdi minha mãe,
cumpri a primeira missão em Helsínquia, cidade onde pude chorar o luto que não tivera tempo de
fazer em Portugal. Fiquei oito anos, tendo-me, entretanto matriculado no Mestrado em Literatura e
Cultura Portuguesa, na Universidade Nova de Lisboa, beneficiando do estatuto de trabalhadora estudante.
O segundo posto foi na Universidade de Toronto, Canadá. Mergulhei de chapa na nossa diáspora, e senti na pele o impacto das histórias de vida que, por muito bem sucedidas que fossem,
haviam sido erguidas a partir dos caboucos de muita miséria e fome. Só então tive consciência do
que verdadeiramente era ser e/imigrante porque, como diz Natália Correia, “a gente só nasce quando somos nós que temos as dores”. Nasci, então, para as questões ligadas à integração, adaptação,
dificuldades linguísticas, confrontos culturais, relação de pertença, indefinição identitária, saudade
sem sinónimos, mas gente lá dentro.
Foi esta experiência e manifesto interesse pelos assuntos citados, que me levaram a participar em Semanas Culturais, Congressos, Conferências, Simpósios, Debates (dentro e fora do país).
No dia da morte da Amália, vi nas ruas do “Little Portugal” a portugalidade a romper de todos os
que homenagavam a diva, com cartazes nas montras e fado por todo o lado. Qualquer coisa bateu
muito forte dentro de mim! Cheguei a casa e escrevi a minha primeira crónica para “O Milénio”,
um jornal comunitário que acabara de nascer.
E continuei até hoje, mesmo depois de ter ainda cumprido uma missão em Benguela, onde
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dirigi o Centro de Língua Portuguesa, e dei aulas no Pólo da Universidade Agostinho Neto.
Hoje, aposentada e a residir em Portgal, as questões que referi continuam a ser fonte de preocupação e reflexão, mas serviram também de matéria-prima às obras que já publiquei, como autora, coautora e organizadora:
The Voice and Choice of Portuguese Women, A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa,
Proceedings 1st International Conference, Actas do I Congresso Internacional (org. Manuela Marujo, Aida Baptista, Rosana Barbosa), University of Toronto, Department of Spanish and Portuguese,
2005; Passaporte Inconformado, Edições MinervaCoimbra, 2004; Chão da Renúncia, Edições
MinervaCoimbra, 2008; Entre Margens de Afectos (c/ Gabriela Silva), Liga Portuguesa Contra o
Cancro, Ponta Delgada, 2009; Passos de Nossos Avós (c/ Manuela Marujo), Ponta Delgada, Publiçor, 2010, Abraço de Mar entre Ilhas e Continentes (c/ Gabriela Silva), Publiçor, 2011; A Voz dos
Avós. Migração, Memória e Património Cultural (org. Natália Ramos, Manuela Marujo, Aida
Baptista), Ed. Pro Dignitate, Julho 2012; Frank Alvarez, O Caminho de Um Português, 2016 Ed.
Frank Alvarez.
E sempre que a oportunidade surge, e o meu calendário o permite, lá estou eu a dizer presente a
todas as iniciativas ligadas às questões da diáspora, entre elas as provenientes da Associação Mulher
Migrante.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objectivos fundamentais
da AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Em 2003, aquando do convite dirigido à Drª Maria Manuela Aguiar, para participar no 1º Congresso
realizado na Universidade de Toronto (era então Leitora de Português do Instituto Camões nessa
mesma universidade), subordinado ao tema “A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa”, tomei
conhecimento da existência da Associação Mulher Migrante (AMM) que, desprovida de qualquer
adjetivação de nacionalidade, assumia um caráter transversal a todos os movimentos migratórios,
independentemente dos países a que estivessem associados.
Face ao meu manifesto interesse pelo trabalho que estava a ser desenvolvido, foi a partir dessa data
que comecei a ser informada e convidada para as várias e meritórias iniciativas promovidas por esta
Associação.
De acordo com a minha disponibilidade, participei em várias (apresentando comunicação ou como
mera assistente), e devo confessar que, em todas elas - sob a forma de conferências, simpósios, homenagens a figuras femininas de várias áreas, exposições, evocação de datas e celebração de efemérides - valeu a pena estar presente e muito aprendi, não só pela oportunidade dos temas trata-
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dos, como pela qualidade das comunicações, registadas em revistas, boletins e outras plataformas, periodicamente publicadas.
Assim sendo, proponho que a AMM mantenha a mesma linha de atuação, tentando, contudo, revitalizar-se, no sentido de ganhar maior dinamismo, tendo em conta que as novas tecnologias nos permitem acompanhar, partilhar e divulgar toda a informação em tempo real.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das Migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Como Leitora do Instituto Camões, cumpri uma missão de 5 anos na Universidade de Toronto, cidade onde se encontra implantada uma forte comunidade portuguesa. Não pude, por isso, ficar indiferente aos testemunhos recolhidos dos meus alunos luso-descendentes, às iniciativas promovidas
pelas diferentes associações instaladas na cidade, aos programas de rádio e de televisão e à imprensa comunitária em língua portuguesa.
Fruto desta experiência, e a convite de um jornal recém-criado, tornei-me numa colaboradora ativa
deste órgão de informação até ao presente, em que procuro estar atenta e tratar de temas relacionados com a condição de e/imigrante, traduzidos em obras publicadas (a solo ou em parceria), resultado de uma seleção de crónicas ligadas ao tema. Mais tarde, surgiram solicitações de outras revistas
(em formato digital ou em papel), com as quais esporadicamente igualmente colaboro.
Sendo a maior percentagem dos componentes da diáspora portuguesa canadiana de origem açoriana, nasceu também um intrínseco interesse por realidades ligadas ao arquipélago, o que motivou
convites de diferentes entidades do governo açoriano para participar em determinadas iniciativas
ligadas a questões que se prendiam com uma identidade vincadamente açoriana, como fora o caso
do culto ao Divino Espírito Santo.
Assim, e estando sempre atenta ao que à minha volta se passa, tenciono manter esta minha linha de
atuação, intervindo através de artigos de opinião, recolha de narrativas e participação em congressos/simpósios/encontros, vocacionados para estes temas, em especial, quando tratados no feminino.
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ANA COSTA LOPES
Sou natural de Lamego, Distrito de Viseu.
Fiz a minha licenciatura em Lisboa e o Mestrado em Macau, onde leccionei alguns anos, tendo ainda exercido a atividade docente na Universidade Católica, na Universidade de Lisboa e, ocasionalmente, em outras.
Tenho um Mestrado em Estudos Luso-Asiáticos e um Doutoramento em Língua e Cultura Portuguesa Para o 1.º, trabalhei as Confluências e divergências culturais na tradição contística portuguesa e chinesa e nas imagens referentes à família em duas das respectivas colectâneas de contos populares. Esta Tese foi publicada pelas Universidades Católica e de Macau. Para o 2.º, dediquei-me às
“Imagens da mulher nos periódicos portugueses de 1820 a 1890. Percursos da modernidade”, e a
Quimera encarregou-se da publicação da Tese, em 2005.
Tenho abraçado vários projetos nas áreas referidas, entre outras.
A convite da Dra Manuela Aguiar e da Dra Rita Gomes comecei, há uns anos, a
colaborar em alguns congressos e colóquios que muito me interessaram. Impressionou-me, desde os
primeiros momentos, o trabalho notável da Dra Manuela Aguiar e da Dra Rita Gomes e tive oportunidade de constatar, por exemplo, em Paris, o êxito e o resultado do papel tido como Secretária de
Estado das Comunidades Portuguesas (Ministério dos Negócios Estrangeiros) na Europa e fora dela.
Outras publicações.
. «Mulheres Migrantes, «L´histoire singulière d’Angelina de Sousa Mendes en France», 40 anos de
Migrações em Liberdade, Espinho, Ed. Maria Manuela Aguiar, Graça Guedes, Arcelina Santiago,
ed. Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, 2015, p. 60-64.
. «Acerca dos homens: discursos femininos na imprensa periódica feminina portuguesa de Oitocentos», Discurso de Abertura do II Encontro Luso-Afro-Brasileiro, «As mulheres e a imprensa periódica», Faculdade de Letras de Lisboa, CLEPUL, Julho, 2013., in Isabel Lousada e Vânia Pinheiro
Chaves, ed., As Mulheres e a Imprensa Periódica, vol. 2, Lisboa, CLEPUL 2014, p. 25-41. ISBN:
978-989-8577-21-4)
. Do exercício da transgressão à conquista da igualdade», in Expressões Femininas da Cidadania,
III Encontro Mundial Mulheres na Diáspora, 24/25 Outubro 2013, Lisboa, ed. Manuela Aguiar,
Graça Guedes, Arcelina Santiago, Espinho, Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade, 2014, p. 98-102.
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. «A persistência das ideias republicanas sobre a educação feminina no «Coração e Cérebro,
(1935)», Povos e Culturas, 16, 2012, p. 389-407.
. «Imagens do poder feminino em quatro variantes de um conto popular», in Diafanias do mundo.
Homenagem a Mário F. Lages, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2012, p. 85-98.
. «Receitas misóginas de Setecentos n’O Jornal Enciclopédico de 1806», in Partíamos como se não
fossemos, Homenagem a Horácio Peixoto Araújo», Lisboa, Bond, 2010, p. 93-106.
. «Ousar lutar, ousar vencer. A imprensa periódica oitocentista como motor da promoção intelectual
feminina», Comunicação e Cultura, Intelectuais e Media,Primavera-Verão, 7, FCH, Universidade
Católica Portuguesa, 2009, p. 39-46.
. «A luta das mulheres Oitocentistas por uma política da igualdade», in Cultura e Conflito, Culturas
da Cidadania, Conflitos Epistemológicos, Lisboa, Universidade Católica ed., 2007, p. 27-42.
. «Representaciones femeninas en los periódicos portugueses femeninos de 1820 a 1890»,
in Contexto, Revista de Comunicación de la Universidad de La Laguna, nº. 1, 2007, p. 65-72. (Facultad de Ciencias de la Información, Universidad de La Laguna)
. «Formes de luttes contre la discrimination dans l’enseiggnment féminin pendant le XIX siècle»,
in Actas do III Colóquio da A.P.H.E.L.L.E., Para uma História do Ensino das Línguas e Literaturas: Estudos do género, Faro, Universidade do Algarve, Junho de 2005, p.101-118
O modo de ver e de trabalhar.
Por ora, interessa-me mais a parte de investigação.
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ANTÓNIO PACHECO
António Leite Cruz de Matos Pacheco, natural de Moçambique, Lourenço Marques, ano de 1946.
Nasci na zona da Polana, perto do ainda hoje célebre Hotel Polana. Felizmente, mantenho a dupla
nacionalidade: moçambicana e portuguesa.
Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, em 1976, tive a felicidade de ter sido
chamado pelas novas autoridades moçambicanas para o cargo de diretor adjunto do recém criado
Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. Sob a orientação dos professores
Aquino de Bragança e Ruth First - ambos assassinados, em diferentes datas, pelo regime sul africano do apartheid – organizamos, com uma equipa pluridisciplinar, uma investigação sobre os trabalhadores moçambicanos nas minas da África do Sul. Este trabalho viria a ser publicado em 1977,
em Moçambique, Reino Unido e USA, com o nome de "Mineiro Moçambicano".
Nunca mais pude deixar África.
- Nos anos 80, fui convidado para trabalhar na Rádio Renascença, Lisboa, como especialista em
assuntos africanos.
- Em 1989, quando a guerra civil moçambicana tomou proporções terríveis, pedi licença à Rádio e
fui trabalhar como voluntário na fronteira entre Ressano Garcia (Moçambique) e o bantustão sulafricano do Kangwane. Este trabalho de apoio aos refugiados era orientado pelo "bureau de refugiados da Conferência Episcopal da África do Sul". Trabalhei sobretudo na formação de professores de
língua portuguesa.
- Em 1989/90 tive a honra de conhecer e iniciar a minha Amizade com Maria de Jesus Barroso Soares , que me levou para a «ProDignitate», e Manuela Aguiar, que me trouxe até à «Associação
Mulher Migrante» .
Nos anos 90, a Renascença enviou-me para a Guiné para fazer a cobertura do conflito no terreno,
entre dois chefes militares. Apareceu-me aí pela primeira vez um conflito pessoal: correspondente
de guerra, como pomposamente gostavam de ser chamados os meus colegas, ou fator de construção
da paz?
E lembrei-me do ditado moçambicano: «na savana quando dois elefantes se batem quem fica a perder é o capim (relva)».
Desde há 12 anos, primeiro na Fundação Pro Dignidade e agora convosco, a dúvida continua e deu
origem ao projeto «jornalismo para a paz», com trabalho feito (um manual de jornalismo)
e ações de treino levadas a cabo na Guiné-Bissau, Cabo Verde e comunidades de língua portuguesa
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na Costa Leste dos USA (apoio de Rhode Island College).
O modo de ver e de trabalhar juntando as duas componentes - investigação e prática -chama-se Lusofonia e consiste em trazer para jornalistas e animadores de rádios comunitárias e rádios de proximidade o conceito de rádio ao serviço das comunidades de língua portuguesa.
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ANTÓNIO VICTORINO D’ALMEIDA
Nasci em Lisboa no dia 21 de Maio de 1940.
Nesse mesmo dia, a Pianista Marie-Antoinette Lévêque de Freitas
Branco (mulher do Maestro Pedro de Freitas Branco) deu um concerto no Sindicato dos Músicos em Lisboa onde, entre muitas outras coisas, tocou a obra “L’Isle Joyeuse” do compositor francês
Claude Debussy (1862-1918) – curiosamente ainda hoje uma das
minhas peças musicais favoritas.
Sou filho do Advogado António Victorino de Almeida e de Maria Amélia Goulart de Medeiros Victorino de Almeida, de origem açoriana (Faial), que chegou a iniciar uma curta carreira de cantora lírica,
como aluna do Compositor Francisco de Lacerda (1869-1934).
O meu avô paterno, Achilles D’Almeida, era um ótimo músico amador, além de autor teatral e encenador de vários espetáculos de teatro ligeiro. As minhas filhas mais velhas, Maria de Medeiros e Inês de
Medeiros são atrizes e realizadoras cinematográficas com carreira internacional de êxito firmado, e a
minha filha mais nova, Ana Victorino D’Almeida, é violinista e compositora.
Tenho atualmente sete netos: Pedro, Júlia, Mariana, Oriana, Leonor, Francisca e Constança.
Profissionalmente sou, antes de mais, Compositor. Claro que também sou Pianista e Improvisador. Escrevo e também me dedico às Artes do Audiovisual como Autor e Realizador de Filmes e de Programas
de Televisão.
Se não tivesse sido tudo isto, gostaria de ter sido Zoólogo, como já tive ocasião de dizer numa entrevista
que, em tempos, dei à Revista da Associação Mulher Migrante.
Quanto a esta Associação, que integrou e integra Grandes Mulheres que eu muito admiro, é para mim
uma honra como homem e como cidadão integrá-la e, no que me for possível, podem contar comigo
para continuar a defender a igualdade de género, de direitos e deveres de homens e de mulheres, mas
não de sexos.
Como dizia a minha avó, apesar de tudo, subsiste ainda uma “pequena” diferença. E porque eu sou pela
diferença:
- Viva a pequena diferença!
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ARCELINA SANTIAGO
Como a diáspora marcou a minha história de vida!
O meu nome não é simples e tenho muitas vezes de o repetir – Maria Arcelina
Chamtip Clementino de Santiago. Nasci em Macau e a minha história de vida é
um testemunho da diáspora pelos vários continentes. Na verdade, eu nunca senti
uma forte pertença a este ou aquele lugar em especial, vejo-me mais como uma
cidadã do mundo. Sinto-me bem em qualquer lugar e dele faço o meu ninho. Talvez pelas inúmeras viagens que fiz (Macau, Timor, Índia, Angola), especialmente
em criança até à adolescência, pelas muitas escolas que frequentei, pelas tantas pessoas com quem me
cruzei.
O meu avô, Manuel Chamtip partiu muito jovem, à semelhança de tantos outros chineses, à procura de
melhores condições de vida, no final do século XIX, rumo ao mundo novo. Atravessou o Pacífico e, tal
como tantos denominados Collies ou culés que partiam para o Perú ou México, fixou-se no México e aí
casou com minha avó Maria de la Luz Leon Navarro, e tiveram três filhas. Uma delas, Maria Balbanera
Chamtip era a minha mãe. A vida torna-se difícil naquelas paragens e a família parte de novo rumo às
origens paternas mas já não se fixam na China. Escolhem inteligentemente Macau por ser mais fácil a
integração das filhas e da mulher que falam apenas o espanhol. Mais tarde, o meu pai, João Batista
Clementino, minhoto de gema, parte para uma missão militar em Macau, conhece a minha mãe, casa e
tem duas filhas. Mais tarde, esta nova família parte para Portugal e ficam as saudades dos avós que deixaram sós em terras lá longe. Mais adiante, rumamos até África. Aqui frequentei em Luanda, por ser a
melhor aluna do Liceu Norton de Matos, um curso de Portugalidade. Vivi África de forma intensa e
tudo me deslumbrava naquela terra imensa! Desejava voltar, mas o destino não o proporcionou.
É em Lisboa que frequento a Faculdade de Letras, integrando-me num lar de estudantes ultramarinas,
mas é na Universidade do Porto que termino a Licenciatura em Filologia Germânica. Mais tarde, faço
uma pósgraduação em Formação Pessoal e Social, e a seguir o Mestrado em Ciências Sociais, Políticas
e Jurídicas, incidindo sobre as Questões do Género - As mulheres, a academia e a gestão: o caso da
Universidade de Aveiro. A minha atividade profissional esteve essencialmente centrada no ensino. Do
profissional ao básico e secundário até ao ensino superior. Assumi todos os cargos possíveis dentro da
Instituição escolar: professora, diretora de turma, coordenadora de departamento, membro da direção,
orientadora pedagógica. Foram anos intensos de dedicação a uma profissão escolhida e acolhida com
paixão.
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Fui Diretora do Centro de Formação das Escolas de Espinho e consultora pedagógica de formação, Coordenadora de projetos, muitos dos quais me levaram à Turquia, ao País de Gales a Sevilha.
No plano cívico, sou sócia fundadora e dirigente de várias associações tal como a Associação dos Amigos da Biblioteca José Marmelo e Silva, Confraria da Caldeirada e do Camarão de Espinho, na defesa
da arte Xávega. Integrei a AMM há dez anos e sou ainda associada da Casa Macau a lembrar as minhas
raízes. Sou voluntária na Universidade Sénior, orientadora dos Ateliês da Memória, iniciativa da AMM.
Fui durante muitos anos juíza social e eleita representante dos Professores ao Conselho Municipal da
Educação. A minha experiência política passou por ser deputada municipal na Assembleia Municipal de
Espinho e, mais tarde, membro da Assembleia da Junta de freguesia de Espinho.
Sou uma mulher defensora de causas de cidadania, adoro ler, viajar e comunicar. Sou curiosa e considero-me uma pessoa em constante aprendizagem.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objectivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
O Encontro internacional "Mulheres da Diáspora" em 2009 (Centro Multimeios em Espinho) foi a minha estreia na AMM a convite da Dra Graça Guedes. Depois, seguiram-se muitas outras iniciativas, como por exemplo, a homenagem a duas mulheres fantásticas - Maria Lamas e Maria Archer. Para Maria
Archer criei um guião, com base em diversas fontes, sobre a jornalista e escritora, denunciadora das
condições das mulheres e defensora dos seus direitos e, por isso, remetida ao exílio. Essa entrevista imaginária foi replicada muitas vezes em vários eventos em escolas.
Depois, segue-se o Encontro Mundial em Lisboa e, mais tarde, os vários colóquios em Espinho, Gaia e
Monção (na comemoração do Dia Internacional da mulher) tais como: Expressões de cidadania no feminino; Portugal Brasil - a descoberta continua a partir de Monção; e ainda a apresentação do livro de
Adelaide Vilela Magna de afetos e Olhos nas letras, na Biblioteca Municipal de Monção.
Colaborei juntamente com Graça Guedes e Manuela Aguiar nas publicações anuais da AMM e, juntas,
envolvemo-nos em iniciativas com as quais me identifiquei não apenas pelas causas, mas pelo estilo e
metodologia de trabalho desta singular Associação em que cada um/uma tem a sua voz presente e ativa.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Embora tenha orientado deste sempre o meu estudo e formação de pósgraduação para as questões do
âmbito da formação pessoal e social e das questões do género, é no terreno que me sinto realizada. A-
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través da escrita, ações de formação ou intervenção em conferências e debates sobre as questões em
torno dos direitos humanos, em especial o das mulheres junto dos jovens e dos mais idosos (nas universidades seniores), sinto que o meu papel como cidadã interventiva ganha mais revelo.
Sou lutadora e crente de que será possível um mundo mais justo e mais igualitário, em que cada ser humano se possa realizar inteiramente. Por ter um historial de diáspora, sou também interessada pelos temas da emigração. Gosto de estar ligada a projetos e, por isso, me sinto confortável na organização de
iniciativas. Será pois este o meu contributo para com a AMM, num espírito de missão, de voluntariado e
de entrega a várias causas.
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BERTA FERNANDA DE SOUZA GUEDES SANTANA
Nasci em Lisboa em 1964, onde vivi até Janeiro de 1976, tendo depois ido
para o Brasil (Recife) com meus pais e irmãos. Recife é a terra natal de
minha Mãe e onde vive grande parte da sua família. Aqui passei a viver
até agora, onde prossegui todos os estudos, desenvolvi as minhas atividades profissionais, e casei.
Fiz o ensino primário e os primeiros anos do secundário em Lisboa, no
Colégio Moderno (dirigido pela Drª Maria Barroso), que tiveram continuidade no Recife, no Colégio das Damas.
Fiz uma Licenciatura em Fonoaudiologia (1986) na Universidade Católica de Pernambuco (Recife) e
depois em Psicologia (2000), na Universidade Católica de Pernambuco. Em 2002 fiz um curso de Pósgraduação em Dependência Química na Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina). Acrescem alguns outros cursos de formação: MBA Executivo em Gestão de Pessoas (2008), Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro); Curso Saúde e Qualidade de Vida (2010), na Universidade de
Brasília/INSS; Curso Violência contra a mulher e o papel da notificação (2012), na Universidade Católica de Pernambuco em parceria com a Secretaria Estadual da Mulher (Recife); Curso Diversidade Sexual e Políticas Públicas: Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (2015), na Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro/RJ.
Desde os primeiros dias de Novembro (2018) estou a viver em Espinho com o meu marido, para a realização dos nossos estudos de doutoramento. Eu, em Psicologia, na Faculdade de Psicologia e Ciências de
Educação, na Universidade do Porto. Ele, em E Planeamento, no Departamento de Ciências Sociais,
Políticas e de Território, na Universidade de Aveiro.
A minha atividade profissional teve início em 1986, com desempenhos distintos:
. Fonoaudíóloga (Terapia da Fala) no Hospital Agamenon Magalhães (Recife) - Atendimento a pacientes
com as seguintes patologias: gagueira, dislexia, dislalia e afasias (1994 a 2006)
. Desde 1986 e até agora (aposentada), no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no Recife (funcionária pública federal, admitida por concurso público), com desempenho de diversas atividades nos
vários níveis da instituição, desde a análise de processos e reconhecimento de direitos dos utentes da
Previdência Social, às ações de planeamento estratégico e capacitação, com participação em diversos
programas institucionais, integrando grupos de trabalho e coordenando outros, dos quais destaco o pro-
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grama de Apoio aos Servidores Vítimas de Violência (Brasília), a implementação do sub sistema integrado do SIASS (Subsistema Integrado de Atendimento à Saúde do Servidor da Administração Pública
Federal) no nordeste brasileiro e acompanhamento psicológico a servidores na Superintendência Nordeste e nas 23 Gerências existentes nos 9 estados que compõem a região (trabalho apresentado num
Congresso em Brasília). Destaco também a realização de uma pesquisa na região nordeste sobre as causas da doença dos servidores públicos federais (trabalho apresentado em Congresso dos Orgãos da Administração Pública Federal em Brasília), a colaboração na pesquisa sobre Eficiência da Área Meio e
Agências da Previdência Social do INSS, na Administração Central em Brasília/ Diretoria de Atendimento do INSS(DIRAT) (Brasília), bem como no Programa de Redução de Gastos com Material de
Consumo no Serviço Público (programa premiado em Brasília dentro do programa Esplanada Sustentável).
Para além da minha atividade profissional no INSS desenvolvida até agora, sou Psicóloga, integrando uma equipe multidisciplinar do Serviço de Apoio à Mulher Vítima de Violência Wilma Lessa, no
Hospital Agamenon Magalhães (Recife). Este serviço, que é pioneiro no Brasil e funciona desde 2002,
24/24 horas, é composto por médicos ginecologistas e obstetras, enfermeiras, psicólogas e assistentes
sociais, para apoio à mulher vítima de violência (física, sexual ou moral), que é posteriormente encaminhada à Delegacia da Mulher e ao Instituto Médico Legal. O atendimento psicológico que integro desde
2006, não se limita ao acolhimento inicial, mas a posterior acompanhamento, de forma a propiciar o
fortalecimento da auto-estima da mulher e a transformação da sua vida.
2004/05 – Psicóloga, na Comissão da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal do Recife -
Coordenadora Clínica do Centro de Atenção Psico Social para adolescentes usuários de álcool e outras
drogas - CAPSad Prof. Luiz Cerqueira. Desde 2000 – Psicóloga, com consultório particular: abordagem psicanalítica no atendimento a pacientes com diversos transtornos psíquicos - pacientes adolescentes e adultos com depressão, transtorno afetivo, dependentes químicos (redução de danos).
2014/16 – Conselheira Representante de Governo do Conselho de Recursos da Previdência Social do Ministério da Previdência Social.
2013 – À disposição do Tribunal de Justiça de Pernambuco para compor o Conselho de Sentença
como membro do Tribunal do Júri (agosto a dezembro de 2013).
1999 até à presente data – Sócia fundadora, Vice-Presidente e Tesoureira da Associação Folia
das Deusas: associação sem fins lucrativos, que tem por objetivo promover ações de apoio às mulheres
em suas lutas por equidade de género, autonomia, oportunidades e justiça social. Expressa-se socialmente através de um bloco carnavalesco, instrumento enraizado na cultura pernambucana, escolhido
pela riqueza, vigor e vitalidade com que o Carnaval permeia, penetra e se espalha em todas as camadas
da sociedade, propiciando uma forma lúdica de acesso aos diversos meios sociais.
Boletim MULHER MIGRANTE – o universo da AMM Número 3, Dezembro de 2019
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Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Conheci a Associação Mulher Migrante e a sua dinâmica em Buenos Aires (2005), quando a convite da
minha tia, Graça Sousa Guedes, me fez vir de S. Paulo (Brasil), onde me encontrava a fazer a pós -
graduação na Universidade de S. Paulo, para assistir ao Encontro para a Cidadania, organizado pelo
núcleo da Argentina. Adorei tudo o que vi e a sua extensão atlântica! Adorei rever a minha querida diretora do Colégio Moderno, Drª Maria Barroso, com quem passei momentos fantásticos. Ainda se lembrava de mim e dos meus outros dois irmãos, também seus alunos.
Desafiada pela minha tia e pela Drª Manuela Aguiar, organizei no Recife, em Novembro de 2013 o Encontro EXPRESSÕES FEMININAS DE CIDADANIA – A MULHER PORTUGUESA NO RECIFE,
que teve lugar no Salão Nobre do Gabinete Português de Leitura. Este Encontro integrou-se numa série
de iniciativas sobre a mesma temática que comemoraram ao longo de 2013, o 20º aniversário da Associação de Estudos Cooperação e Solidariedade " Mulher Migrante”, e que ganharia no Recife um especial
significado por se associar às comemorações do Ano de Portugal no Brasil.
Não pretendendo personalizar esta organização, atribuí-a à Associação Folia das Deusas, que havia
fundado e da qual sou membro da direção. Uma associação, sem fins lucrativos, que tem como objetivo
promover ações de apoio às mulheres a às lutas pela igualdade de género, de oportunidades e de justiça
social.
Dirigido à comunidade portuguesa e luso-brasileira, a autoridades brasileiras, a universitários e especialistas de questões de género, este Encontro pretendeu dar visibilidade à contribuição da Mulher Portuguesa na disseminação da Ciência, Literatura, Arte, Cultura, Saúde, Educação, Justiça, Segurança Social, Desporto, Economia e Empreendedorismo na cidade do Recife e, por extensão, em outras comunidades do País, refletindo a sua projeção social e profissional neste espaço da diáspora portuguesa.
No Brasil, eventos desta natureza ganham especial contorno, não apenas pelos laços históricos que unem os dois Povos, mas também pelo relevante desenvolvimento económico do Brasil no cenário internacional, e pelo papel de crescente importância da mulher portuguesa e brasileira neste espaço da nossa
lusofonia, com a identificação dos diversos caminhos que têm e vêm traçando.
Neste Encontro apresentei uma comunicação intitulada Mulheres vítimas de violência: um serviço modelo de atendimento no Recife, publicada Edição da Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade
Mulher Migrante (p.23), Espinho, 2015.
Em 2016 participei nas Comemorações do dia da Comunidade Luso-Brasileira (organização da Associação Mulher Migrante) na Biblioteca Municipal Dr. Marmelo e Silva em Espinho, com um relato do
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Encontro EXPRESSÕES FEMININAS DE CIDADANIA - A MULHER PORTUGUESA NO RECIFE.
Sou sócia da Associação Mulher Migrante e, a partir de Agosto deste ano, tive a honra de ser eleita Vice-Presidente desta Associação.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Agora a viver em Portugal para desenvolver os meus estudos de doutoramento em Psicologia na Universidade do Porto e que iniciei há semanas, estou em condições logísticas e também científicas para
apoiar a Associação Mulher Migrante, que irei necessariamente desenvolver, enquadrando-as nos objetivos desta associação.
Efetivamente, o tema da dissertação que irei elaborar nos próximos três anos (proposta apresentada na
candidatura ao programa doutoral), propiciará o aprofundamento científico de uma problemática que
tenho vivenciado como Psicóloga no Serviço de Apoio à Mulher Wilma Lessa, a funcionar no serviço
de emergência do Hospital Agamenon Magalhães, um dos principais hospitais públicos do Recife. A
investigação baliza estudar as condições de saúde física, psíquica e de segurança da vítima de violência
doméstica, decorrente do apoio recebido, bem como as repercussões posteriormente registadas.
O contexto académico em que passo a estar inserida, facilitará a realização de outras investigações que
sejam do interesse da Associação Mulher Migrante.
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EMMANUELLE AFONSO
Concebida em Portugal, fiz a primeira experiência migratória há 50 anos, na
barriga da minha mãe, indo já nascer a França. Cresci a ouvir falar mirandês
em casa e francês fora, e como boa luso-descendente, as experiências
bi/multi/ interculturais não podiam ficar por aí. Após um primeiro Erasmus
em Brighton, UK, decidi abraçar o desafio de uma 2ª bolsa de 6 meses no
país das minhas origens, mas numa cidade que mal conhecia, Lisboa. A
paixão foi de tal ordem que, passados 27 anos, é aqui que continuo a residir, dividindo-a agora com a
cidade do Porto.
A minha formação académica reflete um percurso convictamente muito Europeu, com um diploma
português: MBA em Gestão pelo ISEG, francês pela EDHEC, uma das mais prestigiadas "Grandes
Écoles" de gestão em França e inglês, com um B.A. Honours in Business Studies, pela Universidade
Politécnica de Brighton. Na área profissional, as viagens foram uma constante, nomeadamente numa
altura onde fui Marketing Manager for Europe de uma empresa farmacêutica americana, com uma
média de 1 a 3 aviões por dia, até que decidi abrandar o ritmo, mantendo uma atividade de freelancer na
minha área profissional, consagrando mais tempo à família e ao associativismo, um bichinho que me
acompanha desde muito jovem.
Abracei várias causas, mas foi ao impulsionar o Observatório dos Luso-descendentes (O.L.D),
simbolicamente criado a 10 de Junho de 2010, que a minha dedicação começou a fazer sentido,
mobilizando outros luso-descendentes, oriundos de várias países da diáspora portuguesa, neste projeto
inovador, dado que é a primeira e única associação de luso-descendentes em Portugal, de Portugal para
o resto do mundo e vice-versa.
Os principais objetivos são facilitar a vinda (definitiva ou não) de luso-descendentes para Portugal, criar
pontes com os que estão e vão ficar lá fora, mas querem manter a ligação com o país das suas origens e,
por fim, impulsionar estudos sobre esta apaixonante temática. Nesse contexto, fui agraciada com a
“Ordem de Mérito” do Governo Francês em 2014, com as seguintes palavras "...lutadora e tecedeira de
redes, Emmanuelle Afonso soube lançar os debates sobre as questões de mobilização da diáspora, de
dupla-cultura mas também da prática de cidadania Europeia. É cada vez mais solicitada pelos media e
as autoridades. Firme e atenta, ela procura um caminho não partidário em direção a uma ética de
cidadania...". Mais recentemente, também fui surpreendida com uma nova condecoração, com um sabor
especial por vir de luso-descendentes, Ordem de Dom Afonso Henriques, da Federação Iberoamericana
de Luso Descendentes
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Em termos profissionais, comecei (surpreendentemente?) a tratar do movimento migratório de sentido
inverso, na área do turismo empresarial e residencial, com a marca “Mon Portugal”. Empresarial,
organizando reuniões e seminários de associações e multinacionais francesas em Portugal; Residencial,
ajudando europeus, nomeadamente reformados e franceses na idade ativa, a instalarem-se em Portugal,
ao abrigo do estatuto de Residente Não Habitual, prova viva de que os ciclos migratórios não param, e
continuam a surpreender e a apaixonar-me!
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objectivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Quando o O.L.D. (Observatório dos LusoDescendentes) nasceu, na simbólica data para tod(o/a)s de
10/6/10, a AMM era já uma associação adulta, respeitada, inovadora, mas, sobretudo, uma fonte de
inspiração, com a doçura e aquele sentido de acolhimento tão próprio das mulheres. Faz-nos sentir,
desde então, a irmã mais nova desta grande família das Migrações, onde a saudade, a admiração, o
respeito por quem faz, e a entre-ajuda, são os valores fundamentais. Entre-ajuda que temos sempre dado,
com a melhor das boas vontades, através de convites e participações em eventos de ambas as
organizações e em representação da AMM. Entre-ajuda que queremos continuar a dar, agora com mais
maturidade e conhecimento(s), com mais proximidade e parcerias, em primeiro lugar na missão
tentacular de organização do precioso arquivo da AMM. Em segundo lugar, na maior presença da AMM
em Lisboa, na sede e em eventos/seminários onde a associação queira estar representada e, por fim, em
“produções conjuntas”, onde possamos apresentar pedidos de apoio juntas, nomeadamente em subsídios
europeus e fora da Europa, uma fonte de financiamento à qual nos vamos agarrar cada vez mais, já que
o nosso raio de acção comum é planetário (no nosso caso União de Lusodescendentes), de Lisboa para o
resto do Mundo, e vice versa!
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Uma plataforma onde reconhecemos também a missão do O.L.D: “conhecer para unir, dentro e fora de
Portugal, através da língua e cultura portuguesas”. Solidariedade e cooperação, aconteceu desde a nossa
génese, em 2010. Podemos é arranjar um terreno comum de trabalho, orientando algumas das nossas
acções para as Mulheres Lusodescendentes, que são fáceis de identificar em muitas áreas da sociedade,
nomeadamente dirigentes associativas ou associadas muita ativas (para não dizer ativistas!), políticas,
empresárias, artistas, em muitos países da nossa diáspora e sempre com muita vontade e apetência para
o diálogo e o debate, quer no seu país de residência, quer na sua relação com Portugal.
Já delineamos alguns projetos e ideias com algumas cidades, Secretarias de Estado, nomeadamente a da
Igualdade e Cidadania, grupos parlamentares e PR, sobre os quais poderíamos conversar e apresentarnos como parceiro(a)s.
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ESTER DE SOUSA E SÁ
Ester de Jesus Ferreira de Sousa e Sá, mais conhecida como Ester de Sousa e
Sá, natural de Anta, Espinho, reconheço-me como uma mulher de ação que,
ainda criança, emigrou com os pais para África.
Em 1952, voei involuntariamente nas asas do vento à descoberta do continente
Africano. Era ainda muito pequena, de mente ávida de conhecimento,
imaginativa e recetiva a tudo o que fosse mudança.
Nessa época, nos anos após a guerra, outra grande crise avassalava a Europa.
Meu saudoso pai, destemido e dotado de grande inteligência, em 1948, à
procura de melhor nível de vida para si e os seus, emigrou para Moçambique. Regressou a Portugal, no
fim do verão de 1951 com um pequeno “pé-de-meia,” acumulado à custa de muito sacrifício e trabalho.
No entanto, como em Portugal nada tinha mudado, meu pai voltou para África, desta vez levando
consigo a família.
. Após quase um mês de viagem marítima, finalmente chegamos ao destino, o Porto da Beira em
Moçambique. Embora as condições de vida no princípio fossem muito difíceis, ajudaram a moldar o
meu caráter forte e resoluto que me tem ajudado a enfrentar a vida, principalmente nas adversidades.
O facto de ter sido criada e educada em África foi para mim uma aventura e experiência maravilhosas.
Tenho imprimido na alma o rufar rítmico dos tambores e das marimbas num batuque desenfreado que
em noites de lua cheia ficava a escutar. Embebedei meus sentidos no néctar dos frutos maduros do
cajueiro, e mimoseei o palato em deliciosas mangas, goiabas e ananases que cresciam ao fundo do
quintal, amadurecidos pelo calor intenso e sufocante.
Volvidos dez anos de vida de casada em Lourenço Marques, deu-se a descolonização. Foram tempos
muito difíceis carregados de incertezas e, para salvaguardarmos a nossa segurança física e dos filhos,
saímos de Moçambique deixando os bens que possuíamos, incluindo a nossa casa, indo viver para
Durban na África do Sul.
Foi também em Durban que me fiz associada da Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul, tendo
sido eleita, passados uns meses, para fazer parte da direção. Com o entusiasmo que me é peculiar, dei o
melhor de mim mesma a esta Liga que visa promover a Cultura Portuguesa, incluindo nossos usos e
costumes na África do Sul. Com a colaboração dos restantes membros da direção, em 1955 organizei o
1º Congresso da Liga, em Durban, que foi um sucesso.
Vivi durante 44 anos em África, dos quais vinte e dois foram vividos em Durban África do Sul, linda
cidade cosmopolita também virada para o Oceano Índico, onde criamos e educamos nossos filhos.
Tomei sempre parte activa nas diversas áreas da sociedade em que estive inserida.
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A convite do Ratepayers Association, uma espécie de Junta de Freguesia, fiz parte da direção sem
qualquer renumeração, atendendo e zelando pelos interesses dos munícipes do bairro onde residia.
Desde os primeiros tempos da minha chegada a Durban, o meu gosto pelo canto, levou-me a fazer parte
do coro da Igreja, e dirigi um grupo de senhoras que tratavam das flores, chamando a mim própria a
responsabilidade de enfeitar a igreja pelas grandes celebrações.
Fiz voluntariado como animadora para uma organização Internacional denominada “Faith& Light”,
um movimento cristão fundado por Jean Vanier em França, com ramificações espalhadas pelo mundo,
que se dedica a apoiar crianças deficientes e suas famílias, uma experiência que me foi muito
gratificante, pelo carinho que recebi dessas crianças.
Na Primavera de 1996, já com os filhos criados e entregues a si próprios, regressei com meu marido a
Portugal, às minhas origens. Embora me considere uma cidadã do mundo, sou por nascimento uma
mulher Portuguesa do Norte. Não vou dizer que, volvidos tantos anos, a adaptaçã ao regresso tenha sido
fácil, mas valeu-me a minha experiência de vida e paixão pela arte.
Agora com mais tempo e liberta da responsabilidade de criar os filhos, dedico-me inteiramente às artes,
nomeadamente à escrita, pintura e escultura.
Estudei na antiga Rodésia, (ex-colónia inglesa), hoje Zimbabwe. Depois do secundário, segui os estudos
na Salisbury Politechnical School, onde fiz o curso de Secretariado.
Comecei a trabalhar no Barclays Bank. Mais tarde, já casada a viver na África do Sul e a trabalhar no
Nedbank em Durban, matriculei-me no Institute of Bankers in South Africa e concluí os estudos. Fiz
parte da direcção (vice presidente), da Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul (Durban) a par da
carreira bancária que, por motivos de ordem familiar, foi interrompida muito antes da idade de reforma.
Porém, desde o meu regresso a Portugal há 23 anos, o meu percurso tem sido pautado por uma insistente procura de auto conhecimento e avanço no campo das artes e literatura.
Presentemente, no âmbito da propagação e partilha da cultura, tenho um projecto, por mim coordenado,
de lançamento para breve de uma Colectânea de Poesia Luso-Galaica. Como dizia Fernando Pessoa
“Deus quer, o artista sonha, a obra nasce.”
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Em consonância com o pedido de perfil requerido pela AMM, tenho a dizer que, antes de me tornar associada da Mulher Migrante, participei em muitas iniciativas, algumas das quais registadas nas publicações ao longo dos últimos cinco anos: Expressões Femininas da Cidadania – III Encontro Mundial de
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Mulheres na Diáspora - Palácio das Necessidades, refere-o nas páginas 138/141; Entre Portuguesas
2015, Maria Barroso na nossa Memória (páginas 72 e 73) e na 70 Anos de Migração em Liberdade.
Fui Presidente do Conselho Fiscal no anterior mandato, cargo que mantenho no atual elenco dos Órgãos
Sociais da AMM.
Com um grande abraço, ofereço este meu poema a todas as portuguesas associadas, e não só, espalhadas
pelo Mundo.
TER ASAS
Ter asas é libertar a alma,
Virar as costas às agruras e mesquinhez da vida,
E entrar num arco-íris de cor!
Ter asas é subir alto,
E apostar na vida com amor,
Encará-la como dádiva bendita!
É deixar-nos levar nas asas da imaginação,
Libertar o pensamento,
Voar alto com criatividade e inspiração!
Reconhecer o poder de ter asas,
Que nos chegam através do conhecimento,
Livros, inteligência, amor,
Esperança.
Precisamos ter asas,
Romper com as correntes,
Que nos agrilhoam,
Abrir horizontes e construir pontes,
Caminharmos juntos de mãos dadas,
Construindo um mundo melhor.
Precisamos ter asas!
Não nos cortem as asas!
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FELICIDADE PEIXOTO RODRIGUES
Nasci em Barcelos, Portugal. Sou Mãe de quatro filhos, dois rapazes e
duas raparigas de sucesso, tendo apenas uma nascido no Canadá. Tenho
ainda 6 netos, dois deles já na Universidade.
Emigrei para o Canadá nos anos 70 e, no primeiro ano, dediquei-me ao
estudo da língua inglesa. Logo a seguir, fui convidada para trabalhar no
apoio a grupos de jovens e casais e no grupo coral da minha paróquia.
Desse trabalho resultou a abertura de dois Centros Comunitários que funcionavam nas próprias igrejas.
Ali recebi todos os Portugueses que vieram refugiados de África. Tornou-se rapidamente num verdadeiro Centro Multicultural. Nessa ocasião, trabalhava para o Catolic Immigration Bureau - organização
responsável pelos assuntos da emigração na área das Línguas, Português/Espanhol, acolhimento e inserção social. Ao mesmo tempo, ingressei na Universidade em regime de part-time, e lá estive quase vinte
anos até atingir parte dos meus objetivos, procurando uma especialização em Desenvolvimento Comunitário, para melhor atuar na minha área profissional e me desenvolver em termos pessoais.
Sobre as questões que me colocam acerca da AMM, remeto para o meu papel enquanto mulher interventiva em prol da comunidade.
Fui toda a minha vida, desde a adolescência, uma ativista. Um dos maiores projetos desse tempo foi ir
com um grupo de jovens protestar em frente da Berlin Wall. Ensaiamos no estádio de Braga durante
meses, e acompanhei os 500 jovens vindos de todo o país.
Aqui no Canadá, para além dos muitos projetos em que me envolvi, destaco o que considero o de maior vulto - a criação de um tribunal só para lidar com os abusos contra as mulheres, e um programa de
recuperação para homens. Já lá vão mais de 30 anos.
Em termos sociais e políticos, comecei logo que cheguei ao Canadá, e ainda continuo a incentivar as/os
jovens portugueses a candidatarem-se. Na esfera política, sempre me surpreendeu a falta de ativismo
das/dos que vieram antes de mim. Reconheço que roubei muito tempo aos meus 4 filhos que praticamente criei sozinha. No entanto, também os envolvi nos grupos de jovens.
Trabalhei em 2007 com o Dr Jorge Lacão Costa e com a Dra Amélia Paiva, uma das primeiras líderes na
Associação. Com os dois, organizei uma conferência em Toronto, tendo convidado a Professora Manuela Marujo a fazer parte dos painéis representativos de Toronto. O Dr Jorge Lacão, parlamentar dos as-
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suntos das mulheres, veio acompanhado de quatro líderes parlamentares e todos concluíram que a conferência tinha sido um grande sucesso.
Outras conferências se seguiram no Canadá, e também nos Açores, aonde me desloquei algumas vezes,
sobretudo a S.Miguel e à Terceira. Os Açores foram sempre muito ativos, por termos em Toronto um
grande número de emigrantes originários do arquipélago.
Trabalhei 50 anos em Agências de Acolhimento, Inserção Social e Igualdade de Género, sem medo de
denunciar situações problemáticas. É nesta área que tenciono dar o meu contributo à AMM, com especial enfoque no combate à violência doméstica.
Em 2015, fui homenageada pelo Governo do Canadá, em reconhecimento da minha ação como líder na
defesa dos direitos das mulheres.
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GUILHERME VENANCIO SANTANA
Nasci em 1963, no Rio de Janeiro, onde vivi até aos 7 anos, altura em que
mudamos para Brasília (pais e irmãos) e onde vivi até ao meu casamento
em 2011. A partir desta data passei a viver no Recife.
Fiz o ensino primário no Rio de Janeiro, e em Brasília todos os restantes
momentos formativos e profissionais.
Sou Bacharel em Administração (1990) pela União Pioneira de Integração
Social – Brasília, e em Direito (2010), pelo Centro Universitário Euroamericano (UNIEURO) – Brasília/DF.
Complementando a minha formação universitária (Formação Complementar), possuo o MBA em Gestão de Pessoas Baseada em Competências (2004), realizado na Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (UNIDF), e a Licenciatura em Administração na Universidade de Brasília (Brasília). Também em Gestão em Projeto Social (1997), realizado pela Casa Civil/Presidência da República do Brasil,
na ENAP.
Desde os primeiros dias de Novembro (2018) estou a viver em Espinho com a minha esposa (Berta Fernanda de Souza Guedes Santana), para a realização dos nossos estudos de doutoramento. Eu, em E Planeamento, no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e de Território, na Universidade de Aveiro.
Ela em Psicologia, na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação, na Universidade do Porto.
A minha atividade profissional teve início em 1982, no Ministério da Defesa, Secretaria da Aeronáutica,
Praça Militar em Brasília, até 1994.
Desde 1994 e até à presente data (agora autorizado a realizar em Portugal os estudos de doutoramento
na Universidade de Aveiro), sou servidor público, concursado, do Instituto do Seguro Social (INSS),
com o cargo de Administrador, destacando diferentes desempenhos: Administração Central do INSS,
Assessoria de Planejamento Estratégico em Brasília (1994/2000); Diretoria de Orçamento, Finanças e
Logística (DIROFL) da Administração Central do INSS. Chefe da Seção de Logística (Brasília –
2000/2011).
Desde 2011, com a minha mudança para o Recife (casamento), integro a Superintendência Nordeste do
INSS, na Divisão de Orçamento, Finanças e Logística (DIVOFL) do INSS (Chefe de Divisão).
Para além da minha atividade profissional no INSS, tenho desenvolvido ações sociais diversificadas:
Desde 1979 - Comunidade Eclesial de Base do Negro - Confederação Nacional de Bispos do Brasil
(CNBB).
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Desde 1993 - Comité de Entidades no Combate a Fome e pela Vida – COEP (Projeto Betinho. Parceria
com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, Estatais e Empresas Privadas). Voluntário Social Federal - Brasília.
Desde 1990 - Voluntário /Empreendedor Social – Projeto Cooperativo de Produção Rural - ASPROFIC
- Brasília.
Desde 1990 - Voluntário Social – Igreja Católica e Entidades Religiosas.
Desde 1990 - Voluntário /Empreendedor Social – Projeto Cooperativo de Habitação Popular – ASSING
e ASPROL – Brasília.
Desde 1993 – Comité de Entidades no Combate a Fome e pela Vida – COEP (Projeto Betinho. Parceria
com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, Estatais e Empresas Privadas). Voluntário Social Federal - Brasília.
Desde 2000 - Multiplicador em Projeto Social – Projeto: Capacitar o Terceiro Setor – Brasília.
Desde 2014, tenho colaborado com o Gabinete Português de Leitura do Recife, coordenando a realização de eventos, exposições, exibição de filmes e captação de recursos para projetos.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Conheci a Associação Mulher Migrante e a sua dinâmica através das suas publicações oferecidas pela
minha tia (Graça Sousa Guedes) e pela minha mulher, que já havia estado em Buenos Aires no Encontro
para a Cidadania, organizado pelo núcleo da Argentina.
Anos mais tarde, ajudei a minha esposa a organizar no Recife o Encontro EXPRESSÕES FEMININAS
DE CIDADANIA – A MULHER PORTUGUESA NO RECIFE, que teve lugar em Novembro de 2013 no
Salão Nobre do Gabinete Português de Leitura. Este Encontro deveu-se ao desafio feito pela minha tia
e pela Drª Manuela Aguiar, integrando-se numa série de iniciativas sobre a mesma temática que comemoraram ao longo de 2013, o 20º aniversário da Associação de Estudos Cooperação e Solidariedade
"Mulher Migrante". No Recife, este Encontro ganharia no Recife um especial significado por se associar às comemorações do Ano de Portugal no Brasil.
Dirigido à comunidade portuguesa e luso-brasileira, a autoridades brasileiras, a universitários e especialistas de questões de género, este Encontro pretendeu dar visibilidade à contribuição da Mulher Portuguesa na disseminação da Ciência, Literatura, Arte, Cultura, Saúde, Educação, Justiça, Segurança Social, Desporto, Economia e Empreendedorismo na cidade do Recife e, por extensão, em outras comunidades do País, refletindo a sua projeção social e profissional neste espaço da diáspora portuguesa.
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No Brasil, eventos desta natureza ganham especial contorno, não apenas pelos laços históricos que unem os dois Povos, mas também pelo relevante desenvolvimento económico do Brasil no cenário internacional, e pelo papel de crescente importância da mulher portuguesa e brasileira neste espaço da nossa
lusofonia, com a identificação dos diversos caminhos que têm e vêm traçando.
Não pretendendo personalizar esta organização, atribuí-a à Associação Folia das Deusas, que havia
fundado com a minha esposa e da qual sou membro da direção. Uma associação, sem fins lucrativos,
que tem como objetivo promover ações de apoio às mulheres a lutas pela igualdade de género, de oportunidades e de justiça social.
Em 2016 estive presente nas Comemorações do dia da Comunidade Luso-Brasileira (organização da
Associação Mulher Migrante) na Biblioteca Municipal Dr. Marmelo e Silva em Espinho, com um relato
do Encontro EXPRESSÕES FEMININAS DE CIDADANIA - A MULHER PORTUGUESA NO RECIFE.
Sou sócio da Associação Mulher Migrante desde Novembro deste ano.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Agora, a viver em Portugal para desenvolver os meus estudos de doutoramento em E Planeamento, Ciências Sociais, Políticas e de Território, na Universidade de Aveiro, estou em condições logísticas e científicas para apoiar a Associação Mulher Migrante que irei necessariamente desenvolver, para que se
possam enquadrar nos objetivos desta associação.
O contexto académico em que passo a estar inserido facilitará a realização de outras investigações que
sejam do interesse da Associação Mulher Migrante.
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HUMBERTA ARAÚJO
Quando se nasce numa planície branca, onde as memórias mais queridas nos transportam para a ilha, é
sem dúvida difícil dizer-se de onde se é, ou de onde se veio.
Eu sou filha de pai e mãe dos Açores, ilha de S. Miguel. A família emigrou em 1960 e eu nasci em 1961,
em Vanderhoof, British Columbia. Não me perguntem pormenores da vila onde nasci, porque dela tenho
muito poucas recordações. As memórias mais vivas são de Montreal, para onde a família se mudou após
4 anos, em diversas localidades na Columbia Britânica.
Mais tarde, o pai, com saudade do mar – era pescador de profissão – e contra os amuos de minha mãe
que, como muitas mulheres engolira todas as lágrimas que tinha de engolir, entregando-se pouco e pouco aos braços do Canadá - regressa às ilhas, comigo “a tiracolo”.
Aos 7 anos, e no segundo dia de escola primária na freguesia do Pico da Pedra, a minha avó Beatriz,
ainda com cheiro a farinha de milho a escaldar, leva-me ao pequeno estabelecimento escolar, situado no
lombo da rua 24 de Agosto, para ter uma conversa com a professora, que me havia mandado para casa
no dia anterior, porque não ensinava a estrangeiras.
Não sei o que lhe disse a minha avó, mas sei que fiquei na escola, e seria da sua varanda, que me apaixonei pela primeira vez. Histórias à parte, completei mais tarde os estudos secundários no Liceu Antero
de Quental, em Ponta Delgada. Por acaso, dei há dias com a minha caderneta escolar, e vi que aos 16
anos - quando completava o último ano no Liceu - já escrevia com um pseudónimo (Ojuara) para o Jornal Correio dos Açores, em Ponta Delgada.
O que escrevi – estava-se nos meses quentes depois da revolução - teve um tal impacto, que muitas respostas foram publicadas em outros jornais de S. Miguel. As respostas atacavam o impostor (não sabiam
que o autor era uma jovem de 15 anos), que tinha tido a ousadia de contrariar as tradições religiosas e
patriarcais da ilha.
Esta colaboração valeu-me um desafio do então diretor do jornal para experimentar o jornalismo. Meses
mais tarde estava eu, como assistente de redação na RTP/Açores, ela também a dar os seus primeiros
passos.
Mas a ilha, com todos os seus encantos e a solidão que nela se experimenta, empurrava-me para o lugar
onde nasci. Nos anos 80, e numa jornada difícil e muito dura, decidi regressar ao Canadá. Após ter trabalhado em fábricas, em restaurantes, em limpezas, e a cuidar de crianças “live-in nanny”, acabei por
reencontrar o jornalismo em Montreal, no jornal A Voz de Portugal.
Vou para a Universidade de Concordia: Estudos de Comunicação e, mais tarde, para a Queen’s: Relações Internacionais e Interculturais. Estudos acabados e, com a saudade a matar, regresso às ilhas. Tor-
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no-me jornalista no Açoriano Oriental, regressando depois à casa mãe, a RTP/Açores e RDP. Passo três
anos na rádio do Clube Asas do Atlântico, na ilha de Santa Maria, como chefe de redação.
Mãe solteira, regresso ao Canadá onde me encontro desde 2004.
Atualmente sou artista têxtil, escritora com 4 livros infantis publicados, assim como poesia e contos em
inglês e português. Recentemente, com um novo projeto “O Baú da Avó” - um museu do brinquedo artesanal em Toronto -, regresso ao mundo maravilhoso da infância das nossas avós.
Algumas considerações sobre o meu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM.
Eu vejo a AMM como uma organização que pode ter um papel importante na exposição da cultura feminina na diáspora, através da divulgação de estudos já existentes, incentivando a investigação em temas que lhe são relevantes e ainda através do apoio de atividades artísticas e outras, que caracterizem o
ambiente das mulheres na diáspora canadiana.
Acho que pode ter também um papel mais ativo nas áreas que dizem respeito às mulheres portuguesas/luso canadianas, na divulgação de apoios, programas ou outros do governo português, que possam
ter um papel positivo e prático nas suas vidas.
Neste aspeto, e dada a minha experiência como escritora, artista, jornalista e fundadora do Museu do
Brinquedo Português em Toronto “O Baú da Avó”, posso apoiar algumas iniciativas de divulgação de
programas e apresentar propostas de intercâmbio e promoção da organização.
Como vejo as possíveis aplicações concretas das minhas linhas de investigação e/ou planos de ação
no domínio das migrações da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Como referi, acho que a instituição pode ter um papel ativo junto das mulheres, para que seja reconhecida como parceira importante nas políticas e ações que reflitam a situação atual da mulher migrante. Os
problemas que as mulheres atravessam no Canadá são muito peculiares, e vão desde o emprego precário, salários abaixo do salário mínimo, falta de participação ativa na vida do país e do seu munícipio,
questões relacionadas com a documentação, assédio e violência sexual no meio familiar e no emprego,
isolamento das mulheres idosas, para além de muitas outras questões, que afetam as suas vidas.
Concretamente: ações práticas de divulgação junto de organizações que trabalham com mulheres, nos
media e nas celebrações culturais que abundam pela comunidade; incentivar o interesse das investigadoras/es tanto em Portugal como nas diásporas pelo estudo, in loco, da condição da mulher imigrante e a
divulgação de apoios e outros, através da AMM, do estado português.
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ILDA JANUÁRIO
Emigrei para o Canadá em adolescente, em 1966, e acabo de fazer 52 anos de residente neste país. Vivi apenas um quarto da minha vida em Portugal, embora lá passe
um ou dois meses por ano. Fiz uma tentativa de retorno, em outubro de 1974, que
durou nove meses, ao fim dos quais “renasci” no Canadá. Tinha-me sentido desadaptada em Portugal, e não encontrei lugar nesse país recém-saído da ditadura, apesar da grande saudade que sentia por ele.
Saí de Portugal estudante, com o sexto ano do liceu de Leiria, de uma vida bastante
desafogada em comparação com a que tive, inicialmente, no Canadá, embora revoltada com a violência doméstica e o assédio nas ruas a que nessa altura eram sujeitas
crianças e jovens. Fui uma delas. Tornei-me feminista em Portugal muito antes de tomar consciência de
o ser em adulta, no Canadá.
Minha mãe, eu e meu irmão viemos juntar-nos a meu pai que havia já emigrado. A minha mãe, com 46
anos, era dona de casa e não sabia falar francês nem inglês. Tive que ser a sua acompanhante-intérprete,
como acontece ainda a muitos filhos de imigrantes. Cedo vivi na pele os problemas por que todos passam, começando com o choque cultural, agudizado pela saudade de quem não podia regressar regularmente ao país de origem, e pelos problemas familiares que levaram à separação de meus pais. Também
não foi fácil a minha inserção no mercado de trabalho (hotéis, fábricas, restaurantes), como trabalhadora
estudante, para poder pagar as propinas universitárias.
Completei os estudos de bacharelato em Antropologia Cultural (B. A.) na Universidade de McGill, em
Montreal, e o mestrado (M. Sc.) na Universidade de Montreal. Trabalhei no setor dos serviços aos imigrantes de 1972 a 1985, em Montreal e em Toronto.
Fiz parte da primeira associação comunitária que se destinava a prestar serviços gratuitos aos imigrantes
sobre os seus direitos de trabalhadores: Welfare and Low Income Citizens, depois no centro comunitário
multilingue SANQI (Services d’Aide aux Nouveaux Québecois et Immigrants) e, por último, no Centro
de Referência e Promoção Social, que se destinava apenas aos portugueses.
Em 1985, entrei para o Ontario Institute for Studies in Education (OISE/UT) como Research Officer,
em vários departamentos e projetos de pesquisa em educação, assim como em projetos ligados a instituições do ensino superior - Université du Québec à Montréal, (UQAM), York University - e outras.
Na UQAM, participei na primeira pesquisa sobre as mulheres imigrantes em Montreal, 1980-1982, como entrevistadora do grupo das portuguesas, sendo quatro os grupos étnicos estudados. Escrevi a minha
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tese de mestrado com base neste trabalho. E na York, participei, em 1992, em dois projetos de pesquisa
sobre as mulheres imigrantes em Toronto, incluindo as portuguesas.
Ocupei cargos voluntários, de 1994 a 2003, primeiro na Associação de Pais Portugueses de Toronto e
depois como presidente e porta-voz da Coligação Luso-canadiana para a Melhoria do Ensino - Portuguese-Canadian Coalition for Better Education. Como autora da proposta da Coligação para a Trillium
Foundation, que subsidiou o projeto de explicadores e tutores para alunos luso-canadianos, recebi em
2001, o prémio Profissionais “In Recognition of Outstanding Community Service” da Federação Lusocanadiana de Empresários. O projeto foi administrado e desenvolvido pelo Working Women Community Centre com o título de On Your Mark.
Durante cinco anos, até 2010, trabalhei como animadora da rede educativa, Ethnocultural Community
Network (ECN) da Direção Escolar Pública de Toronto (TDSB), que ajudei a fundar.
A custo, combinei carreira, maternidade (uma filha) e trabalho voluntário, em instituições educativas e
na comunidade portuguesa, durante quase toda a minha vida no Canadá.
Considerações sobre o meu modo de ver e trabalhar para os objetivos fundamentais da AMM, à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou novas propostas.
Na minha perspetiva de imigrante de longa data no Canadá, as mulheres sempre foram vítimas de disparidades salariais, de maus tratos em casa e da jornada dupla de trabalho. Mas, nos anos 1960, quando
emigrei, tanto mulheres como homens, trabalhadores na indústria e nos serviços, desconheciam os seus
direitos como imigrantes e cidadãos, em virtude de não dominarem as línguas de acolhimento. Face a
esta injusta realidade, comecei por trabalhar no setor comunitário em Montreal e em Toronto, entre 1972
e 1985.
Fiz carreira, a partir de 1985, no OISE/UT - Ontario Institute for Studies in Education da Universidade
de Toronto - como Research Officer. Para além dos projetos de pesquisa pedagógica em que fui integrada, o meu interesse voltou-se para o baixo aproveitamento e o abandono escolar dos alunos imigrantes,
e o fraco envolvimento dos pais nas escolas, com particular enfoque nos luso-canadianos.
Depois de me reformar, em 2008, a título voluntário, concentrei a minha atenção na pesquisa antropológica da religião popular – as festas do Espírito Santo no Canadá - em colaboração com o antropólogo
João Leal, no CRIA (Centro em Rede de Investigação em Antropologia) da Universidade Nova de Lisboa. Estou a escrever um livro sobre o trabalho de campo já feito, que durou vários anos, sempre atenta
ao papel das mulheres açor-canadianas nas festas, a maioria de primeira geração e de classe trabalhadora.
O meu contacto com a AMM nasceu através da participação da Dra. Manuela Aguiar, em alguns even-
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tos em Toronto, onde tive oportunidade de escutar as suas intervenções.
Impressionou-me pelo seu interesse e conhecimentos sobre as comunidades emigrantes, pela sua simpatia e abertura. Foi ela quem me lançou o desafio de, em 2014 e 2015, publicar dois textos – em Edição
de Mulher Migrante1
- e me tornar sócia da AMM.
Foi um gesto muito especial, o de me associar, oficialmente, a um organismo português, depois do
CRIA. Era a maneira de continuar a pertencer ao mundo social e progressista português, num país a que
eu, até 2008, apenas estava ligada pelas memórias, os laços familiares e as férias na antiga casa dos avós.
Ocasiões especiais, em Portugal, foram ter participado no 20º aniversário da AMM no Palácio das Necessidades, e ter visitado o belo e histórico espaço da Fundação Pro Dignitate, onde a saudosa Doutora
Maria Barroso carinhosamente nos recebeu no seu gabinete.
Como vejo as possíveis aplicações concretas das minhas linhas de investigação e/ou planos de ação
no domínio das migrações da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Nunca deixei de trabalhar como voluntária na comunidade portuguesa de Toronto, tanto quando estava
integrada no mercado de trabalho, como depois de reformada, pela pesquisa nas festas do Espírito Santo. Colaboro, desde há vários anos, com o semanário O Milénio-Stadium, e sou coordenadora, com Felicidade Macedo Rodrigues, do Núcleo de Leitura da Casa do Alentejo em Toronto, que se dedica à leitura e debate de obras em português.
Em 2015, fui convidada a participar no conselho de administração do Centro Abrigo, que tem programas destinados a mulheres vítimas de violência, idosos, estudantes e respetivos pais, falantes de português.
Faço revisão e tradução de autores da nossa comunidade que querem publicar e/ou traduzir, em edição
de autor, os seus livros de prosa e de poesia, dada a inexistência de uma editora em língua portuguesa no
Canadá. Com eles colaboro em todo o processo ligado à organização, lançamento, promoção e divulgação, chegando a prefaciar algumas das obras publicadas.
Parece-me que estas minhas atividades voluntárias e de “free-lancer” se poderiam enquadrar nas
1
Januário, Ilda (2014). De Convidadas a Mordomas. O papel das mulheres luso-canadianas nas festas do Espírito Santo. Em Aguiar, Guedes e Santiago
(Coord.) Expressões femininas de cidadania, p. 51-55. III Encontro Mundial Mulheres na Diáspora, 24-25 de outubro, 2013, Palácio das Necessidades,
Lisboa. Lisboa: Edição Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade.
Januário, I. (2015). “Uma mulher imigrante como tantas outras (instalação).” Aguiar, M.M., Guedes, G., e Santiago, A. (org.) 1974 – 2014: 40 Anos de
Migrações em Liberdade. Edição de Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, pp. 81-84
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atividades de uma futura delegação da AMM, a criar em Toronto, como decidido em reunião com
Arcelina Santiago, no dia 31 de outubro de 2018.
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ISABEL AGUIAR
Nasci no Porto na freguesia da Sé, junto ao centro histórico da cidade -
atualmente património mundial - porque aí se situava a maternidade da
Ordem do Terço, a dois passos do Teatro São João.
Foi em Gondomar, terra da família paterna há muitas gerações, que
passei uma infância muito feliz com os meus pais e seis irmãos. Somos
quatro raparigas e três rapazes, e eu fui a sexta a vir ao mundo na Ordem
do Terço. Os pais formavam um casal jovem, unido e muito alegre.
Gostavam de música e ambos tinham vozes excelentes. Todos nós
herdámos deles o gosto pela música, pelo canto, pela dança, pela
convivialidade e por viagens.
Passávamos as férias na praia, em Francelos ou na Aguda, em casas sempre espaçosas,
arrendadas para a temporada de verão, porque éramos muitos. Às vezes, partilhávamos a casa com tios
e primos, e com visitas constantes de avós e demais família.
Mais tarde, fiz férias em destinos mais distantes - Madeira, Açores, vários países da Europa
(Luxemburgo, França, Alemanha, Itália, Espanha, Grécia, Bélgica, Suíça, Inglaterra, Holanda,
República Checa, entre outros), EUA, República Dominicana,Venezuela, Brasil, Uruguay, Paraguay,
Argentina, umas vezes para descansar, outras, misturando trabalho e turismo. Em qualquer caso, viajar e
interagir com outras sociedades, é sempre um prazer e uma aprendizagem.
Contudo, ao longo de toda a vida, a minha ligação é, essencialmente, ao Porto e à sua região.
Estudei em colégios dos arredores, tendo feito a escola Primária no Colégio de Santa Margarida e no
dos Padres Cacuchinhos de Gondomar - Colégio Paulo VI - até ao nono ano de escolaridade, 10 e 11º
ano no Colégio Ellen Key e, de seguida, ingressei no então chamado ano zero da Universidade Católica
do Porto, onde me licenciei em Direito no ano de 1992.
Na cidade, onde comecei e tenho desenvolvido a minha carreira profissional, fiz estágios e cursos de
formação.
Em 1992, completei o curso de Contabilidade para Juristas na Universidade Católica e o curso de
Informática Aplicada no Instituto de Formação Normativa Avançada (AXON).
Na década de 90, fui assessora jurídica na Divisão de Fiscalização da Câmara de Gaia, formadoramonitora do curso de "Aquisições Públicas", na Câmara de Abrantes, e formadora do curso de Práticas
de Gestão do Trabalho Temporário, na Associação Portuguesa de Gestores e Técnicos de Recursos
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Humanos, Grupo Regional do Norte.
Após o estágio, na Ordem dos Advogados - Porto - juntamente com uma colega de curso e duas outras
colegas licenciadas em Direito, abrimos um escritório de advocacia na baixa do Porto. Durante vários
anos, fomos um escritório no feminino, e só em meados de 2011 constituímos uma sociedade de
Advogados a que se juntaram dois jovens advogados.O grupo manteve-se assim coeso, mas
considero que a colaboração de género e geração se tem traduzido, de facto, num enriquecimento para a
Sociedade de Advogados Aguiar, Loureiro, Telinhos, e Associados, RL, da qual sou sócia
administradora.
Desde o início, compatibilizei as funções de advocacia com as de assessoria jurídica e funções
pedagógicas, e, desde 2016, também de mediação familiar.
Em 2004/2005 e 2005/2006 fui docente/assistente do ensino superior, na cadeira de Direito da
Comunicação do curso de Cine,Video Arte e Comunicação e Fotografia da Escola Superior Artística do
Porto.
A partir de 2006 até hoje, passei a dar assessoria jurídica na União de Freguesias de Perafita, Lavra e
Santa Cruz do Bispo.
Em 2007, obtive o Certificado de Aptidão Profissional (CAP), que me confere competências
pedagógicas para exercer as funções de formadora e, em 2008, o Curso de Formação e Mediação EFA,
obtido na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Nesse mesmo ano frequentei o mestrado de
Direito Geral na Universidade Católica Portuguesa (Direito de Asilo e Refugiados, Direitos de Autor,
Direito da Concorrência), mas outros afazeres levaram-me a interromper o curso.
Em 2016, fiz o curso de Mediação familiar e estou inscrita na lista oficial de Mediadores Familiares.
De entre os congressos e conferências em que participei, destacarei, por incidirem em áreas de que
continuo a ocupar-me ou que particularmente me interessam:
- Congresso Mundial de Mulheres Migrantes (AMM,1995), como membro da Comissão Organizadora
- Seminário sobre "Políticas para a Emigração e Comunidades Portuguesas" (AMM, 2000)
- Seminário sobre Direito do Audio Visual, Fotografia e Multimédia (ESAP, 2006)
- Ciclo de conferências sobre Informação e Mediação da Escola de Direito do Porto, Universidade
Católica (2007)
- Seminário sobre Direito de Asilo e Refugiados, da Universidade Católica do Porto (2008)
Atualmente Vice-Presidente da Assembleia Geral da AMM, sou Advogada, Jurista, Formadora,
Mediadora, e ocupo o cargo de Secretária da Assembleia da Ammeraal Beltech - Correias Industriais,
SA. e Secretária da Assembleia da Hydro Aluminum Extrusion Portugal HAEP, SA.
Na área do associativismo, faço voluntariado na Associação "Padre Usero",para apoio alimentar, social
e psicológico a famílias carenciadas em áreas problemáticas do Porto.
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Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objectivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Foi com a realização de algumas deslocações às comunidades de emigrantes (na altura como membro
do Conselho Fiscal da AMM) pelo mundo, que percebi a importância do associativismo, em especial no
âmbito das Comunidades Portuguesas.
As associações são um núcleo fundamental da sociedade, que permitem a promoção da cidadania, do
patriotismo, conduzem ao desenvolvimento e crescimento pessoal e coletivo, colocam em aberto e
tornam públicos os problemas vividos pelos indivíduos na sua vida privada e, dessa forma, conseguem
dar solução a um número sem fim de problemas que os emigrantes enfrentam quando se encontram
deslocados.
Foi a este processo enriquecedor de deliberação comunitária e de consciência social que assisti nas
minhas visitas às comunidades portuguesas.
Apesar de nos locais visitados existirem imensas associações de Portugueses, é fundamental que haja no
país de origem uma instituição que funcione como retaguarda e traço de união das comunidades. Daí
achar fundamental e imprescindível o papel da Mulher Migrante no mundo das migrações.
Recordo, também, a minha primeira participação na AMM a convite da Doutora Graça Guedes. Integrei
o secretariado do "Encontro Mundial de Mulheres Migrantes", que se realizou em 1995, na cidade de
Espinho. Era então uma jovem recém-licenciada em Direito, que fazia o estágio para a advocacia. O
encontro tinha por título "Diálogo de Gerações" e havia um significativo número de representantes das
segundas gerações, raparigas e rapazes da minha idade e, naturalmente, personalidades da emigração
feminina de todos os continentes. Ao todo, mais de 300 pessoas!
Creio que foi, até à data, o maior evento do género levado a cabo dentro do país e prolongou-se por
quase uma semana. Os temas foram introduzidos por alguns dos mais reputados especialistas nacionais
no campo das migrações.
Os debates foram intensos. A Dr.ª Maria Barroso, que era então "Primeira Dama", encerrou a sessão
com um discurso inspirador, brilhante! Ficou connosco para o jantar de despedida, que foi uma grande
festa, um convívio de amizade muito à portuguesa. Até me convenceram a cantar o fado.
Aprendi muito, acho que todos aprenderam! E o impacto na cidade e no país, e suponho, também na
emigração foi enorme, ampliado pelos meios de comunicação.
Constituiu, assim, um momento especial em que se ouviu a voz das mulheres da emigração e da
juventude, em que a AMM, criada há pouco mais de um ano, se afirmou com a sua vocação
internacional.
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Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
No futuro, espero poder colaborar em iniciativas semelhantes, nomeadamente, no que respeita aos
aspetos jurídicos da igualdade de género e ao equilíbrio geracional. Considero importante que a AMM
prossiga na senda do Encontro de 1995, apelando à participação tanto dos mais jovens, como dos mais
idosos e experientes, em Portugal e nas comunidades do estrangeiro.
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JOÃO MIGUEL BARROS AGUIAR PEREIRA
Nasci na Cidade do Porto, em 1965, mas foi em Gondomar que cresci, fiz a
maior parte dos meus amigos, e estudei até ao 9º ano de escolaridade. Durante o ensino secundário, frequentei o Liceu Rainha Santa Isabel e a Escola
Artística Soares dos Reis, no Porto. Mais tarde, o cumprimento do serviço
militar obrigatório, em 1986, em Abrantes, fez esmorecer o sonho inicial da
Arquitetura e estimular o interesse pelas atividades empresariais. No entanto, o gosto pelas artes e as letras nunca desapareceu, tendo encontrado refúgio em diversas incursões na pintura, no cinema, na literatura e na música.
De regresso aos estudos académicos, licenciei-me em Sociologia e concluí o Mestrado em Ciências da
Comunicação (Variante em Comunicação Política) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Mais recentemente, obtive o Doutoramento em Media Digitais pela Universidade do Porto e pela Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com a Universidade do Texas, em Austin.
No âmbito do mestrado em Ciências da Comunicação, desenvolvi um projeto de dissertação com o título “O Facebook e a Comunicação Política: dos Usos e Gratificações à Análise de Redes”, o que permitiu
fortalecer o meu interesse nos processos sociais relacionados com a participação cívica e política (i.e.
on-line e off-line).
Colaborei, em 2012, como investigador, no projeto “Relational Quality, Digital Immersion and Social
Welfare”, uma parceria entre a Universidade do Porto, a Universidade Aberta e a Universidade de Sevilha. Este projeto insere-se na “Rede ObLID”, uma comunidade ibérica formada por investigadores e
agentes locais, vocacionada para a promoção da literacia e inclusão digital no âmbito municipal. Fui
também responsável pela produção de conteúdos multimédia no âmbito do projeto de comunicação de
ciência “Ciência 2.0”, um projeto desenvolvido na Universidade do Porto, que visa promover um maior
diálogo entre a ciência e a sociedade. Coordenei a organização do "1st Meeting on Digital Media Research Methods (DiMe 2013)", realizado na FEUP, em 24 de Maio de 2013.
Em 2013, foi-me concedida uma bolsa de doutoramento, através do Programa UT-Austin | Portugal
(Media Digitais), apoiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). O projeto de investigação
aprovado envolveu também o processo de acreditação da Universidade do Porto ao EUROSTAT, em
que participei ativamente durante o ano de 2014.
No âmbito do doutoramento em media digitais, a componente empírica do projeto de investigação desenvolvido centrou-se na análise estatística dos micro-dados em torno das clivagens digitais e da participação cívica e politica on-line nos diferentes países da União Europeia, nomeadamente ao nível do
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acesso, da usabilidade e da experiência de utilização dos media digitais (estes dados foram disponibilizados pelo Eurostat no âmbito do “Eurostat's Community survey on ICT usage in Households and by
Individuals”).
Em 2018, defendi a minha tese de doutoramento em Media Digitais, que teve como tema as "Clivagens
Digitais e a Participação Cívica e Política: Que tipo de cidadania para o século XXI?”. O programa doutoral em Media digitais é um programa conjunto da Universidade do Porto e da Universidade Nova de
Lisboa, em colaboração com a Universidade do Texas em Austin.
Exerço atualmente as funções de investigador no Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, no âmbito do projeto “Harmed - O abuso de idosos: determinantes sociais, económicas e de saúde”, uma parceria com o Instituto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (ISPUP), que tem como finalidade avaliar a incidência do abuso de idosos na Cidade do
Porto, e identificar os fatores de risco de exposição a comportamentos abusivos.
Sou também membro da “Rede ObLID”, uma rede de investigação e intervenção para a Literacia e a
Inclusão Digital, que agrega uma comunidade de agentes coletivos e individuais, e está vocacionada
para a Investigação e a Intervenção no domínio da Cidadania e da Participação Digital. Sediada na Universidade Aberta-LE@D, a Rede ObLID é também dinamizada por investigadores da Universidade de
Deusto (Espanha) e conta com a participação de Municípios, Comunidades Intermunicipais, Associações, Organizações não-governamentais (ONG), e outras organizações com intervenção nestes domínios.
Ao longo dos últimos anos, tenho participado em diversas conferências e seminários no país e no estrangeiro, publicando as comunicações aí defendidas. Tenho publicado vários artigos em revistas científicas e colaborado em diversos projetos de investigação e desenvolvimento (I&D).
As minhas áreas de interesse atuais relacionam-se sobretudo com os processos sociais, com as desigualdades sociais, a sociologia da comunicação, a ciência política, as metodologias de investigação, o uso
cívico e político dos media digitais, o e-Government, e-Society, a literacia digital e a estatística.
Algumas considerações sobre o meu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM.
O estudo da problemática das migrações e da diáspora envolve invariavelmente um conjunto de dimensões socioeconómicas, particularmente as que se relacionam com a política, economia, o direito, a inclusão e participação social. Sendo assim, uma vez reconhecido o panorama global da condição feminina nas sociedades contemporâneas, não podemos deixar de nos preocupar com a situação das mulheres
que, independentemente dos motivos, se encontram afastadas dos seus países ou comunidades de ori-
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gem. Tal como os homens, as mulheres migrantes transportam consigo as suas raízes e identidades socioculturais. Porém, no caso das mulheres em particular, estas deparam-se com as desigualdades e clivagens dos países ou comunidades de acolhimento, que as atingem mais sistematicamente. Podemos assim
dizer que se encontram mais vulneráveis a uma dupla descriminação: a de ser migrante e a de ser mulher. Daí a importância e pertinência de movimentos cívicos como o da Associação Mulher Migrante,
nomeadamente no “Apoio à integração das mulheres na sociedade de acolhimento e defesa dos seus
direitos de participação social, económica e política.”
O meu primeiro contacto com a Associação Mulher Migrante foi no "Encontro Mundial de Mulheres
Portuguesas da Diáspora; história, memória e devir", em 2011, quando aí apresentei o estudo "Desigualdade de género no trabalho: Portugal e a União Europeia". A minha participação nesse encontro foi
uma excelente oportunidade para melhorar a minha compreensão do fenómeno global das migrações e,
particularmente, de partilha de experiências de vida que muito me recompensaram.
Finalmente, este breve testemunho serve também como uma afirmação de interesse em colaborações
futuras, disponibilizando-me desde já para colaborar com todos os membros dos órgãos sociais na concretização dos objetivos assumidos para o ano de 2019.
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JOSÉ ANTÓNIO BARRETO NUNES
Descendente de monçanenses, nasceu na cidade do Porto no dia 6 de Março de 1949. Viveu a infância
em Monção, mas fez a Escola Primária em Vila Nova de Cerveira e o Liceu no Sá de Miranda, em Braga. É licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Concluído o curso, iniciou de imediato a carreira de magistrado, única que exerceu, com uma breve
interrupção para servir a nação na Polícia Judiciária Militar.
Foi Delegado do Procurador da República nas Comarcas de Monção, Vila Franca do Campo, Cabeceiras
de Basto, Montalegre, Vila do Conde e Braga.
Foi Procurador da República nos Círculos Judiciais de Vila Real e Barcelos entre 1983 e 1990.
Foi Procurador-Geral Adjunto nas Secções Cíveis e do Contencioso do Supremo Tribunal de Justiça
entre 1990 e 2002.
Foi Procurador-Geral Adjunto Coordenador do Tribunal da Relação de Guimarães, que ajudou a instalar
em meados de 2002.
Foi vogal do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República entre 2003 e 2007.
Foi nomeado Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça a 4 de Dezembro de 2009. Presentemente, é Juiz Conselheiro, com o estatuto de Jubilado.
Desempenhou ainda os seguintes cargos: vogal do Conselho Superior do Ministério Público (1987-
1990); vogal da Secção Portuguesa da Comissão Internacional para o Estado Civil – CIEC, que é um
organismo integrado no Conselho da Europa (1998-2009); membro e presidente de diversos júris nas
provas escritas e orais do Centro de Estudos Judiciários, ao longo de muitos anos.
Publicou inúmeros artigos jurídicos em revistas da especialidade.
Colabora regularmente na imprensa regional e publicou textos em obras coletivas.
Por deliberação de 11 de Maio de 2015, a Câmara Municipal de Monção atribuiu-lhe o título de
CIDADÃO DE MÉRITO, a que corresponde medalha de prata, como reconhecimento do relevante serviço prestado à comunidade do concelho e do país, com acção excepcional no campo da Justiça.
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LEONOR LÊDO DA FONSECA
Nasci a 21 de Março de 1969 em Espinho. Orgulhosamente filha do padeiro da terra, pessoa considerada e estimada por todos, cedo percebi
que a vida não é um filme. Cresci e vivi sempre em Espinho, onde frequentei as escolas públicas, tendo ingressado no Curso de Direito da
Universidade Católica do Porto, onde me licenciei e passei a trabalhar.
Casei, tive dois filhos e sempre mantive a minha residência nesta cidade
que amo, Espinho. Para além do exercício da advocacia, apraz-me ter
uma intervenção cívica activa, designadamente nas Comissões de Crianças e Jovens em Perigo, na luta pela defesa dos direitos das mulheres, quer na AMM, quer enquanto
conselheira para a igualdade de género, também na luta pelos “mais pobres dos pobres”, os nossos pescadores da Arte de Cerco e Alar para Terra, vulgo “Arte Xávega”. Activista cultural e social, tenho pugnado pela inclusão, apoiando os jovens artistas e os eventos identitários da minha terra, enquanto Vereadora da Cultura e da Acção Social Intergeracional e Saúde.
Num acto de coragem, de cidadania e intervenção cívica fui candidata a Presidente da Câmara Municipal de Espinho nas últimas autárquicas – 2017 – tendo logrado fazer história, já que foram eleitos dois
vogais à Assembleia Municipal, dando voz a um movimento independente de cidadão “Leonor Fonseca,
Pela Minha Gente”, o que nunca havia sucedido em mais de 4 décadas de democracia. Neste momento,
encontro-me na génese da criação do movimento MAIS – Movimento de autarcas independentes, cujo
desiderato é unir as forças dos mais de 150 movimentos cívicos que existem em Portugal, e que representam já a terceira força política. Os cidadãos, cada vez mais atentos, querem ter voz activa no rumo da
sociedade portuguesa. Resta-me, em jeito de súmula, referir que me assumo como uma Mulher de Causas, socialdemocrata, livre e humanista.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objectivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Acompanho há vários anos esta Associação pela mão de uma das suas fundadoras e grande Mulher que
me dá o privilégio de ser minha Amiga, Drª Manuela Aguiar. Foi com esta Mulher que conheci outras
Grandes Mulheres, Drª Maria Barroso, Drª Rita Gomes, Drª Graça Guedes, Drª Arcelina Santiago, Drª
Boletim MULHER MIGRANTE – o universo da AMM Número 3, Dezembro de 2019
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Isabelle Oliveira e tantas outras anónimas e desconhecidas que nos diversos fóruns da diáspora, onde
orgulhosamente marquei presença, tive a oportunidade de conhecer.
Vinte e cinco anos depois, a AMM continua activa e a pugnar pela luta de uma sociedade mais justa,
onde homens e mulheres terão as mesmas oportunidades no respeito pela diferença. Cá e além mar.
Sempre e só em nome dos direitos humanos.
Tenho orgulho em fazer parte da AMM e sou grata pela possibilidade de aqui estar, esperando ser um
elemento cujo contributo marque a diferença, e tenha real impacto na vida de todos os cidadãos do
mundo.
Sou atualmente Secretária Geral da AMM.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Não obstante a importância de diagnósticos, que nos levam a emitir pareceres e relatórios imprescindíveis para a boa elaboração de um plano de acção credível, exequível e eficaz, considero imprescindível
a acção “in loco”. Ir ao terreno. Ir até onde as pessoas vivem, numa época de êxodos e conflitos em que
o paradigma do emprego para a vida foi substituído por uma cultura nómada, em que a globalização faz
do mundo a dita aldeia global mas, ao mesmo tempo, coloca em risco a identidade dos povos e das nações.
Urge criar oportunidades para que haja uma maior participação cívica e política dos migrantes, emigrantes e migrantes.
Urge fomentar, renovar e recriar o associativismo, dando voz às mulheres, reiterando a importância do
seu papel na comunidade em que estão inseridas e, por maioria de razão, no mundo.
A AMM é, e deve continuar a ser, a plataforma de entendimento dos cidadãos do mundo, independentemente do credo, religião, raça, opção política ou género, porque se trata apenas e só de uma luta incessante pelos Direitos Humanos.
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LUÍSA PRIOR
O Meu Universo D´Artes
O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.
Eleanor Roosevelt
Nasci em Stª. Marta de Penaguião, Trás dos Montes e Alto Douro. Atualmente resido em Vila Nova de
Gaia, onde tenho atelier.
As Artes, um sonho adiado, aconteceu um dia porque nem a Academia, nem a História, nem a Idade,
são limites à criatividade.
É perentório afirmar que voei no meu sonho de um dia acordar e poder viver tudo o que me atrevi a
sonhar. Quando entrei nesta viagem flutuava num destino fluorescente onde as estrelas escreviam a
mensagem que o vento sussurrava num beijo de cor muito quente.
A arte é a linguagem que escolhi para me exprimir e comunicar. Está em constante movimento sobrepondo-se, expandindo-se, fixando-se em todas as direções, criando novas imagens e situações interligadas de formas e cores, invocando universos em constantes metamorfoses.
O espaço pictórico na arte do século XIX foi inovador pelo derrube de tudo o que até aí havia sido construído, inclusivé, pela desconstrução do próprio plano da tela. Cada pintor reinventou, adaptou aos seus
próprios fins, ganhando uma significativa autonomia.
É seguindo esse novo entendimento de espaço em pintura que tento ir mais além, e que cultivo frequentemente, de uma forma pessoal, figuras de sugestão volumétrica.
Por vezes, mesmo nas obras em que os fundos são os grandes protagonistas, essas imagens repletas de
luz e de cor surgem através de empastes ou relevos coloridos que se materializam contra a minha vontade, impregnam-se umas nas outras e, por vezes, perpassam para fora da tela.
Daí que não se possa falar em abstracionismo. Uma vez que estas imagens nem sempre possuem contornos muito claros, nunca são formas cuja razão seja mesmo plástica. Pelo contrário, existe uma constante intencionalidade na escolha da paleta de cores usadas.
Gamas de cores quentes e frias que transmitem a energia contida nos meus estados de espírito, emoções
desencadeadas entre o mistério do espaço virgem. É através dele e do seu preenchimento que tento provocar inquietação ou expectativa, tendo como suporte ora o papel ora a tela, ora a madeira e outros, recorrendo ao óleo, à aguarela, e ao acrílico (pelo qual tenho especial predilecção). É através de opacida-
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des, mais ou menos consistentes, ou de transparências etéreas que tento transmitir mensagens invariavelmente simples. Porque a Arte é essencialmente revelação. Pinta-se o que se vê e se sente como um
bálsamo.
É através dela que tento desvendar o mistério da Vida do Homem, das próprias emoções. Efeitos de luz
e cores em que a superfície e fundo se reinventam e servem de cenário ao desfilarem-se sinais espontâneos, de imagens arquétipas, “Seres de Luz” que, no entanto se submetem a uma ordem. Toda a minha
obra é resultado duma embriaguez criadora, em última análise, um caminho para a luz, pelo desvendar
contínuo de certas imagens, como se o mergulhar do pincel carregado de cor revelasse formas e mistérios, simbolismos de vida, através das tintas que tingem a minha alma. É o rejubilar das cores, a expansão da criatividade.
Expansão essa que se joga numa multiplicidade de diálogos, cromáticos e rítmicos, a partir dos quais
parto para a busca interior das personagens metafóricas cujo ritmo e intensidade vão sofrendo mutação.
A minha pintura não deixa de ser rigorosa, embora através dos recursos plásticos que utilizo transmitam
uma expressão livre e de incursões no desconhecido.
Envolve-me um enorme silêncio e serenidade, próprios do reconhecimento de que a arte é uma fonte
que nunca se esgota, e o movimentar da espátula o meu grito de liberdade ao encontro de mim mesma.
Esta sou eu, com a irreverência e a loucura natural, de mãos dadas na minha viagem, permitindo que
deixe nas telas, e para sempre, as minhas mensagens.
Alguns prémios e nomeações:
Curso de desenho na F.B.A.U. Curso de pintura e desenho de retrato na Oficina Casa Museu Marta Ortigão Sampaio.
Participação em mais de 70 exposições individuais, mais de 300 coletivas em Portugal e no Estrangeiro.
Sócia da Cooperativa Árvore e da Cooperativa Cultural dos Artistas de Gaia. Membro da Atual Direção.
Troféu Excelência 2014 de reconhecimento Cultural e Artístico, atribuído na Fundação Museu Oriente,
Lisboa; Troféu Cultural 1000 anos de História, Leça do Bailio; Menção Honrosa na Quinzena Cultural
de S. Mamede de Infesta; Menção Honrosa na Bienal de Artes Rotary da Maia; Menção Honrosa “Em
Gois Arte”.
Artista Convidada e Homenageada, Dia Internacional da Mulher, Sta. Marta de Penaguião; Artista convidada e Curadora da exposição “Saudade no Feminino” no Palácio da Independência; Lisboa. Artista
convidada, e participante na organização da 1ª e 2ª Bienal Internacional de Artes dos Artistas de Gaia.
2015/17 Encontro de Arte e Amor em Mim do Auditório Douro Azul; Bienal de Artes Rotary da Maia;
Exposição Movement; Internacional de Artes da Biblioteca Sta. Maria da Feira: Participação em: Arts
Talks World Festival Internacional 2014 e 2015 na Cordoaria Nacional, em Lisboa.
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Comissária das exposições: destacando Saudade no Feminino; no Palácio da Independência Lisboa.
Outonos Inquietos, Fundação e Museu Dionísio Pinheiro, Águeda; 40 Anos de 25 de Abril, Câmara
Municipal de Gaia; Artes em Liberdade, Biblioteca Municipal de Espinho; Mulheres Artes em Movimento, Pro Dignitate, Fundação Direitos Humanos, Lisboa.
Autora e Comissária de vários Projetos Culturais, destacando: Comissária de Honra na 2ª Bienal Internacional Mulheres de Artes no Museu de Espinho; No Museu Etnográfico de Mira; Despertar das Artes,
Museu Galerias Sousa Cardoso Espinho; Mãos Dadas com a Arte, Fundação INATEL; Artistas de Gaia,
Onda Bienal Auditório Municipal de Gondomar; Salas de Júlio Resende: “Outonos Inquietos” Fundação
E Museu Dionísio Pinheiro Águeda Fundação José Rodrigues 80 Anos 80 Interpretações; 2ª Bienal Internacional de Gaia, na Anual Sócios, Biblioteca Municipal; de Gaia; Convento Sampaio; José Rodrigues, 80 Anos 80 Interpretações, Homenagem ao Mestre; XIX Bienal Internacional Cerveira; Abraço
Jovem Homenagem ao Mestre Fundação José Rodrigues.
Representada em diversas coleções Públicas e Privadas, em Portugal, Espanha, França, Suíça, Bélgica,
Itália, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Suécia, E.U.A., Rússia, Ucrânia, México e Brasil.
Representada no Museu Teixeira Lopes, Museu Municipal de Espinho, Museu Etnográfico de Mira,
Museu de Monção, Museu do Douro, Fundação INATEL, Fundação Eng. António Almeida, Casa Barbot, Casa da Cultura de V.N Gaia, na Biblioteca Municipal de Gaia, Fundação C.O.O.P. Porto, Fundação
Museu de Dionísio Pinheiro em Águeda, Fundação Escultor José Rodrigues Casa das Artes Famalicão,
Quinta Santiago em Monção, Livraria Orpheu em Bruxelas, Ordem dos Médicos e Ordem dos Engenheiros, no Porto; Municípios de Guimarães, Vila nova de Gaia, Santa Marta de Penaguião, de Vila Real; no Teatro De vila Real, Clube Literário do Porto, Casa da Cultura de Paredes, Jornal As Artes Entre
As Letras, Casa da Beira Alta no Porto, Viva Cidade, Porto, UNICEP, Tribuna de Arte Pacense, Casa
dos Transmontanos, U.A.T.I.P., Galeria Majestic, Galeria Liga dos Combatentes, Auditório Municipal
de V. N. Gaia, Fundação António Araújo.
Residente em várias Galerias, entre elas, Miguel Bombarda, Porto.
1ª questão
Sou a favor do Associativismo, Amante da Liberdade e Defensora da Igualdade de Género.
O meu olhar está atento a estas e outras causas, especialmente as direcionadas ao universo feminino. Ao
associar-me à AMM e, tendo já colaborado em várias iniciativas culturais, particularmente no feminino,
despertei para vários temas de interesse, passando a compreender melhor o papel das mulheres no Universo da Diáspora, em especial na Arte como forma de expressão para a Cidadania Ativa.
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A Vida faz-se colaborando, construindo laços e pontes cada vez mais fortes, para chegarmos mais longe.
Como mulheres, fazemos parte do futuro, e isso pressupõe Dar as Mãos e Unir Afectos para um Universo de Igualdade de Direitos e Deveres. Será Utopia? A História o Dirá!
2ª questão
Ao pensar neste Universo Feminino não resisto a dizer que ele é muitíssimo corajoso e de muita visão.
Um verdadeiro construtor para a mudança, em todas as esferas e realidades da vida: na participação, no
associativismo, no debate, nos movimentos de luta pelos seus direitos.
O universo artístico feminino torna-se também relevante neste mundo de mobilidade cultural. Este território é marcado pelas Mulheres, enquanto criadoras, que assim vão mudando o paradigma marcado
pela componente cultural, sendo esta uma das apostas nas iniciativas promovidas pela AMM.
AMM tem grande expressão na sociedade civil, principalmente na intervenção pública no domínio das
migrações da Diáspora feminina.
Felicito a AMM pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo da sua existência.
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MARIA DE LOURDES DE ALMEIDA
A professora Maria de Lourdes de Almeida, mais conhecida na nossa Comunidade como Milú, nasce
em Pardilhó, Distrito de Aveiro, no ano de 1953, e emigrou pela primeira vez para a Venezuela no ano
de 1958. Permaneceu neste país um ano, após o qual voltou para Portugal para fazer os estudos da primária na escola pública, e seguidamente dois anos do secundário no Externato Dr. Egas Moniz, em Estarreja. Em 1965, volta à companhia dos pais que continuavam a residir em Caracas, na Venezuela. Continua aqui os seus estudos secundários, primeiro no Colégio Santa Luísa de Marillac, e depois no San
Vicente de Paul. Desde essa altura permanece neste país, e leva a cultura e tradição destes dois países na
alma sem distinção. A cultura e tradição de Portugal, a mãe que a trouxe ao mundo, e a cultura e tradição da Venezuela, a mãe que a criou.
A nível educativo, dedicou-se ao ensino durante 30 anos. Licenciou-se em Professora de Línguas, na
Universidade Metropolitana de Caracas, no ano de 1977 e, anos mais tarde, fez um Mestrado em Educação e Planificação Educativa, na Universidade Rafael Urdaneta.
Recebeu a Ordem Juan Manuel Cajigal das mãos do Exmo. Presidente da República da Venezuela, em
1987. No mesmo ano, foi premiada com a Ordem de Mérito, ao serviço do exército venezuelano.
No ano de 1992, foi reconhecida com o distintivo Simón Rodríguez e o botão da Escola de Idiomas do
Exército.
No ano de 1999, foi premiada com a Ordem de Mérito. Em 2003, é premiada pelo governo português
em reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na divulgação da cultura e tradições de Portugal.
Em 2005, a Guarda Nacional da Venezuela impõe-lhe a Ordem de Mérito.
Em 2010, é premiada com a Ordem Luís Vaz de Camões pela Associação de Luso-descendentes da Venezuela, por se destacar na área de Educação na Venezuela e divulgação da Língua e Cultura Portuguesas.
Em Maio de 2013, participa na Assembleia Legislativa do Município Baruta, na Sessão Solene em
honra da Virgem Maria, nas celebrações de Nossa Senhora do Rosário de Fátima com a palestra: Os
três segredos de Fátima, mito ou realidade.
Em 2013, é condecorada com a ordem “Maestro Exemplar Francisco Palácios” pela Alcaldia do Municipio Carrizal.
Participou em 15 congressos latinoamericanos, sobre o ensino do inglês como segunda língua, fez um
curso de Português Avançado e Cultura Portuguesa, na Universidade de Lisboa, estudou tradução e
interpretação na Academia Berlitz de Caracas
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A professora Maria Lourdes de Almeida exerceu as funções de Primeira Dama da Associação Desportiva Luso-Venezuelana, depois Centro Luso de Caracas, e hoje Centro Marítimo da Venezuela, durante seis anos. Foi uma integrante e mais tarde Diretora do Grupo Folclórico do Centro Marítimo da Venezuela, fundadora e diretora do Grupo Folclórico "Dos Patrias", fundadora e diretora do grupo folclórico
infantil do Centro Marítimo da Venezuela e do grupo folclórico infantil "Dos Patrias". Fundadora e
diretora do grupo musical "Melodias de Sempre", foi membro do grupo de fados "Caravela da Saudade"
com o qual gravou um CD que levou por nome “Paixão Fadista”.
Em todas os agrupamentos folclóricos fez sempre questão de representar as duas culturas: Portuguesa e
Venezuelana.
Foi organizadora do Festival de Folclore Madeirense, no ano 2001. Participou num seminário de folclore madeirense, em 1985, e u no Congresso de folclore português realizado em Caracas, em 2009. Fez
vários trabalhos de investigação de folclore português, permanecendo em constante diálogo com a Federação do Folclore Português em Arcozelo.
No ano de 2011, participa no Congresso Mundial da Mulher Migrante realizado na Maia, Portugal. Ficou-lhe aqui o bichinho desta Associação e leva esta inquietude para a Venezuela. Reúne um grupo de
mulheres profissionais e, todas entusiasmadas, avançam com a ideia de realizar o Primeiro Congresso
da Mulher Migrante na Venezuela. Esse Congresso, realizado a 25 de Novembro de 2012 contou com a
presença da Dra. Rita Gomes, Presidenta da Associação Mulher Migrante Mundial e a Dra. Maria Manuela Aguiar, Antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e Presidente da Assembleia da
Mulher Migrante Mundial. Foi neste dia que ficou constituída legalmente a Associação Mulher Migrante da Venezuela. Eleitos os corpos diretivos, Maria de Lourdes de Almeida passa a ocupar a Presidência desta nova Associação na Venezuela, cargo em que se mantém desde essa data.
Foi eleita Conselheira da Comunidade Portuguesa, pela primeira vez no ano de 2008, e fez parte da
Comissão de Educação, Língua e Cultura Portuguesas. Em 2016, volta a ser reeleita Conselheira da
Comunidade Portuguesa na Venezuela, e passa a integrar o Conselho Permanente das Comunidades
Portuguesas, no Plenário realizado em Lisboa.
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MARIA EDUARDA AGUIAR DA FONSECA
Fui migrante desde criança dentro do país, antes de o ser, por alguns anos, noutros países e continentes.
Nasci em 1945, em Paços de Ferreira. Vivi no Ato Minho, em Trás-os Montes,
na Beira Baixa, no Alentejo, em Lisboa, Londres, Luanda, Genebra e Paris. Fiz
a escola primária na Freixeda (Mirandela) e Sortelha. Depois, estudei nas cidades do Porto (distrito de origem da família) e em Setúbal. O meu pai era engenheiro de minas e aonde o levava a profissão lá íamos nós, descobrindo as bonitas terras do "Portugal profundo".
A minha primeira experiência do estrangeiro foi em Inglaterra. Durante cerca de um ano trabalhei como
"au pair" em casa de um casal de judeus muito simpáticos. A principal tarefa era tomar conta do filho,
um menino de um, dois anos. A intenção era praticar o inglês. Melhorei bastante, mas o meu ponto forte
nunca será falar outras línguas.
O primeiro emprego foi na Caixa Nacional de Doenças Profissionais, desde 1963. Pouco depois, o meu
pai foi para Angola, para as minas de ferro de Mombaça, perto de Malange. Era um apaixonado por
África, e as suas narrativas convenceram-me a fazer-lhe uma visita prolongada. Acabei por ficar em
Luanda três anos, com um bom emprego na Mobil. Sentia-me bem, tanto na cidade, como no interior.
Passava muitos fins de semana na mina. Era uma zona de guerrilha, mas nunca nos aconteceu nada, O
meu pai dava-se bem com os trabalhadores. Havia armas para defesa, mas estavam sempre guardadas,
exceto quando serviam para irem todos juntos à caça.
Voltei a Lisboa e à "Caixa", onde passei a ser secretária do presidente Dr António Leão. Em maio de
1974, o meu pai estava sozinho em Luanda - deixara Mombaça e chefiava o departamento de trânsito da
Câmara -, e eu decidi ir fazer-lhe companhia. Fui para lá num avião que poucos civis transportava, porque o grande movimento era em sentido contrário. Dessa segunda vez, fui hospedeira de terra de uma
companhia de aviação. No início de 1975, o pai e eu viemos para Lisboa com a intenção de passar férias. Ele deixou o carro e o apartamento entregues à empregada, e trouxe apenas uma pequena mala.
Mas já não tivemos condições para regressar. Mais uma vez me aceitaram na "Caixa" como "filha pródiga".
Em meados de 1983, fui destacada para o gabinete da Secretária de Estado da Emigração. O destacamento convinha ao gabinete, era a única forma de conseguir colaboração a custo zero. Foi um trabalho
diferente, menos burocrático, tendo dado apoio, sobretudo, no sector cultural. Estive, por exemplo, na
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organização de exposições itinerantes e das coletâneas de diapositivos ("Quadrantes de Portugal), e
também na recolha de dados sobre as associações de todo o mundo, que formavam o Conselho das Comunidades (tarefa que não foi nada fácil). Até desenhei medalhas comemorativas. Lembro-me de ter
feito apenas uma viagem como única acompanhante da Secretária de Estado das Comunidades, a Manuela Aguiar. Eu devia tratar dos programas, dos contactos locais, do check-in nos aviões e hotéis, etc.,
mas, como ela é muito impaciente, adiantava-se e despachava tudo. Depois, em Lisboa, queixou-se de
que ela é que fizera de minha secretária. Não voltei a ser escolhida para missões dessa natureza.
Em 1987, com licença sem vencimento da Caixa Nacional de Doenças Profissionais, pelo prazo máximo de três anos, fui para o consulado de Genebra, como chanceler, e depois, a convite do Dr Carlos
Correia, para Paris, mas optei por voltar ao cargo de origem, antes do termo do prazo limite dado pela
"Caixa". Anos mais tarde, concorri para a Caixa Nacional de Pensões. Aí tive contacto com processos de
pensões de emigrantes da Venezuela, verdadeiramente dramáticos, que queria, mas não podia resolver.
Quando atingi a idade da reforma, comecei uma nova vida. Sempre gostei de fotografia, desenho, pintura, cinema. Em tempos tinha frequentado um curso da ARCO, em Lisboa. Dediquei-me, sobretudo, à
pintura em acrílico. Além de exposições individuais, participei em várias coletivas, incluindo as duas
primeiras Bienais de Mulheres d' Artes, em Espinho.
Como vejo as possíveis aplicações concretas das minhas linhas de investigação e/ou planos de ação
no domínio das migrações da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Embora não estivesse inscrita como membro da AMM colaborei em duas exposições organizadas durante os congressos mundiais de 2011 (no Forum da Maia) e de 2013 (nos claustros da "Fundação Pro Dignitate") e segui as várias intervenções desses congressos. Conheço quase todos os dirigentes da AMM e
muitos dos seus associados, de quem sou amiga e admiradora. A Drª Rita Gomes foi sempre encantadora comigo, tanto enquanto trabalhei na emigração como depois. Lembro-me de uma vez a ter convidado
para uma exposição minha em Oeiras. Ela foi até lá dar-me um abraço, de táxi, que esperou bastante
tempo para a trazer de volta a Lisboa.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Apesar de as minhas passagens por África e por alguns países da Europa não terem sido muito longas,
deixaram-me saudades (de Angola, sobretudo), muita simpatia por gente de outras culturas e vontade de
lutar por uma maior aceitação mútua,
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Aderir à AMM e participar mais ativamente nas suas iniciativas será uma oportunidade de me manter a
par dos progressos ou da falta deles, neste campo, e uma forma de ser solidária com causas que valem a
pena e com pessoas que trabalham em torno de uma genuína vontade de ajudar os outros.
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MARIA FILOMENA DA FONSECA PEREIRA OLIVEIRA
Nasci em Landim, V. N. de Famalicão, concelho onde resido.
Tive uma infância pouco feliz, com algumas carências, repressão e muita austeridade, não tendo podido
seguir os meus desejos a vários níveis. Como sou lutadora e curiosa, logo que tive oportunidade, tentei
seguir os meus instintos de modo a evoluir no sentido da minha independência financeira e da realização pessoal através do mundo das artes.
Terminado o Curso Geral do Comércio aos 15 anos, comecei a trabalhar como empregada de escritório
numa empresa do ramo alimentar e, mais tarde, no setor têxtil. Depois, fui bancária no Banco Português
do Atlântico/Millennium BCP, onde lidei de perto com centenas de emigrantes dos mais diversos países.
No serviço de emigração interna, respondia às suas solicitações e dúvidas através de correspondência,
ou atendia-os pessoalmente aos balcões do banco.
Licenciei-me em Estudos Artísticos e Culturais pela Universidade Católica Portuguesa
depois de ter feito o Curso de Relações Humanas Dale Carnegie, o Curso de Técnicas de Actor na ATC
de Joane c/ o ator Jorge Pinto e o Curso de interpretação para televisão na Escola Art-Stúdio da TV
Globo – Brasil, tendo sido convidada para a novela brasileira “O Sabor da Paixão”. Depois participei na
novela portuguesa da SIC “O Olhar da Serpente”.
Entretanto, como também gosto de dizer poesia, integrei o espetáculo “Autores da Terra” na Casa das
Artes de V. N. de Famalicão. Fiz locução no documentário “Soledade Malvar, a Poesia da Vida”, do
Projeto Amacultura.
Mais tarde, fiz um curso de escrita criativa com o escritor Válter Hugo Mãe. Publiquei em 2008 o livro
de poemas “Os Degraus da Casa”, e estou representada em mais de 40 Antologias Poéticas. Publico
poesia na imprensa regional, e participo regularmente em saraus e tertúlias literárias.
Convidada pela Faculdade de Filosofia de Braga, participei na 1ª Edição dos Encontros Novas Dramaturgias no Teatro S. Luís em Lisboa. Fiz o curso “Laboratório de Leitura Poética” níveis I e II, no Teatro
Campo Alegre no Porto, com a técnica de voz Ana Celeste Ferreira. Realizei Momentos Poéticos na
inauguração de exposições de Fotografia e Pintura em diversos locais. Obtive alguns prémios e menções
honrosas em concursos de poesia e Jogos Florais a nível nacional. Sou associada de diversas associações culturais e artísticas, nacionais e internacionais. Fiz parte do Júri em vários concursos de quadras
populares na minha cidade.
Em Outubro/18 publiquei “A Vida é um Desafio”, o meu primeiro livro na área de desenvolvimento
pessoal, onde apresento ideias que defendo, e conto cerca de 50 breves histórias de vida, algumas vivi-
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das por mim, outras, por outras pessoas. Um livro muito positivo, que se encontra à venda em todas as
livrarias do país.
Na arte da pintura: A par da profissão, frequentei a ESBAP e Cooperativa Árvore no Porto. Estagiei
em França, com Pierre Cayol. Pinto principalmente a óleo e a pastel e sou retratista. Expus pela primeira
vez em 1983. Ilustrei diversas capas de obras literárias e uma coleção de 10 livros de poesia infantojuvenil.
Realizei cerca de duas dezenas de exposições individuais, e participei em mais de 150 coletivas em Portugal e no estrangeiro.
Foram-me atribuídos vários prémios e nomeações: Curadora na Exposição “Reanimar da arte em Famalicão”; Selecionada c/ imagem no cartaz/programa da Semana Santa - V. N. Famalicão; Finalista na III
Bienal Internacional de Pintura al Pastel - Oviedo - Espanha; Convidada a expor no MAG-Montreux Art
Gallery – Montreux – Suíça; Troféu Excelência 2014 de reconhecimento artístico e literário - Museu do
Oriente – Lisboa; Convidada no “Encontro de Arte - Amor em mim”- Auditório Douro Azul – Porto - 1º
Prémio no Concurso Internacional de Arte s/ Tela - “As Cores da Idade”- Porto; Medalha de Prata -
Concours International - A.E.A - Gembloux – Bélgica; Medalha de Prata Internacional – Exp. Intern.
des Arts - A.E.A.- Paris – França; Convidada na VI Bienal de Artes Plásticas do Rotary Clube da Maia;
Sócia Fundadora da “Academie Europeéne des Arts” Secção Portuguesa – Lisboa; Medalha de Prata
Internacional – Exp.Internat.des Arts - A.E.A.- Paris – França; 2º Prémio no II Concurso de Artes Plásticas de Penedono.
Estou referenciada em diversas publicações e dicionários de arte, e representada em coleções públicas e
privadas no país, e em Espanha, França, Suécia, Alemanha e Brasil.
Sendo a arte uma forma de comunicação entre os seres humanos, ouso pintar como expressão de uma
necessidade pessoal. Sinto cada vez mais uma grande vontade de estabelecer um diálogo com o mundo,
uma espécie de amor que me atravessa a alma. Algo que causa um certo sofrimento se não for feito e
que, independentemente dos riscos inerentes ao projeto de criação e processo de execução, provoca
também um prazer imenso, alimentando bons momentos de felicidade. São vivências internas, em que
muitas vezes tenho de descer até à profundidade do ser onde ideias abstratas podem ter uma existência
concreta.
Assim, desenhar e pintar significam para mim uma função perturbadora e simultaneamente gratificante.
Às vezes traduz-se numa explosão de cores, outras vezes numa harmonia poética. É um desprender de
mim, transformando os sentimentos e capacidades inatas, em instrumento precioso que acrescento ao
conjunto de meios que formam a minha arte. Numa espécie de clausura, é na solidão e recato do meu
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atelier, que gosto de trabalhar. Abstenho-me dos acontecimentos ruidosos do mundo das coisas e crio
em silêncio.
E é na pintura que mais me realizo. Nas telas transmito um dizer poético, através das cores, traços e
formas que traduzem emoções e sentimentos. Narro histórias que brotam do pensamento e que os pincéis desenrolam no movimento da cor e do desenho. São pedaços de sonhos que se refazem e revivem
lembranças repousadas da infância. São reflexos da minha alma positiva, como janelas abertas para a
emoção, para a vida!
Na área social e cívica: Herdei de minha mãe o sentimento altruísta e sou, por isso, sensível às causas
sociais e humanas. Desde 2004 pertenço à Associação de Voluntariado Hospitalar no Hospital de V. N.
de Famalicão, onde presto serviço de voluntariado e sou coordenadora na área de oncologia. Na minha
freguesia colaboro também na Conferência Vicentina, há cerca de 2 anos.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou a novas propostas.
Sou a favor das associações. Elas são fundamentais para a sociedade, permitindo a integração dos cidadãos na interação com os seus pares, a promoção e desenvolvimento pessoal e coletivo. Cada associação
é um espaço de abertura às ideias, à discussão, ao trabalho e colaboração, onde cada um deve ter voz
ativa e permanente.
O meu primeiro contacto com a AMM deveu-se a um encontro casual, num evento artístico, com a Dra.
Manuela Aguiar, pessoa que muito admirava desde há muitos anos.
Isso proporcionou-me depois a inscrição na associação e o conhecimento de outros membros, tendo-me
levado a ingressar na comitiva do Norte que esteve no Encontro Mundial de Mulheres na Diáspora/2013
em Lisboa, e participado em outras ações e eventos, como a exposição nos claustros da Fundação Pro
Dignitate e outras.
Embora nunca tenha sido emigrante, sempre me senti uma mulher do mundo. Talvez pelo meu espírito
aventureiro e ávido de conhecer outros povos e outras culturas, sempre tive vontade de emigrar, mas,
por vários motivos, a vida não me satisfez esse gosto, como descrevi no meu artigo intitulado “A emigrante que não fui”, publicado na edição da AMM, Expressões Femininas da Cidadania, páginas 141 a
143.
Num enorme respeito pelas comunidades migrantes, acho crucial existir a ligação ao país de origem,
cabendo à AMM esse papel importante.
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Hoje em dia, assistimos a uma emigração diferente do passado. Sei de pessoas que emigraram nesta
nova vaga e podem enriquecer a AMM com os seus belos testemunhos de vida, participando nos colóquios e outras iniciativas.
Pergunto: devem ou não ser contactados e de que forma poderão integrar a AMM? Se houver interesse
nisso, como poderei atuar? Quais são as diretrizes?
Como membro interessado e ativo, a intenção é divulgar e alargar o âmbito da AMM. para o seu engrandecimento. Deixo a questão em aberto.
Como vê as possíveis aplicações concretas das suas linhas de investigação e/ou planos de ação no
domínio das Migrações e da Diáspora, com enfoque especial no feminino.
Sinto-me bem integrada na Associação. Admiro o esforço que tem sido feito por algumas pessoas e a
forma como a AMM procede na organização dos seus eventos, no intuito de alertar para as injustiças e
desigualdades das mulheres na sociedade, que ainda hoje se verificam. Eu própria o senti na pele e lutei
contra isso. Também no âmbito da solidariedade, há sempre algo a fazer.
O mundo das artes e letras pode abrir caminhos entre os povos. Um intercâmbio cultural mitigará as
distâncias e aproximará os costumes e tradições entre portugueses. Na área da pintura, da escrita e poesia, tentarei participar nas diversas iniciativas que me forem propostas, tendo sempre em conta a missão
e os verdadeiros interesses da AMM.
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MARIA JOSÉ VIEIRA PEREIRA DA SILVA
Nasci em Marco de Canavezes, em 1948. Cresci numa família numerosa, muito unida, onde os valores humanos eram ensinados. Fui uma criança feliz e
muito amada.
Em Marco de Canavezes concluí o Ensino Primário. Iniciei o ensino secundário na Régua, mas terminei-o em Espinho, na Escola Industrial e Comercial,
onde fiz muitos amigos que ainda hoje mantenho.
Resido em Espinho.
Iniciei funções profissionais como Funcionária Administrativa com a categoria de Escriturária Datilógrafa na Escola Preparatória Sá Couto em Espinho, tendo trabalhado nas Escolas de Arcozelo, Gervide e
terminado na Escola Secundária de Esmoriz, após vários concursos de categoria superior, com a categoria de Chefe de Serviços de Administração Escolar.
Fui designada por Despacho da Senhora Diretora Regional do Centro, representante no Conselho Diretivo da Escola Secundária de Esmoriz.
Em 1993, integrei a Comissão Técnica de Apoio ao Conservatório de Música do Porto e, em simultâneo, dei formação profissional aos funcionários administrativos, tendo sido reconhecida por parte do
DES, pelo ofício nº 3739 de 31.08.93: «O trabalho desenvolvido pela Chefe de Serviços da Administração Escolar Maria José Vieira Pereira da Silva no Conservatório de Música do Porto, contribuiu de forma relevante para a regularização dos problemas de organização que afetavam aquela Escola»
Fui ainda Formadora da Direção Geral da Administração Escolar, para ministrar um curso de formação
ao Pessoal Administrativo.
Cargos desempenhados na comunidade
AUTARQUIA DE ESPINHO:
- 1989/1993, Vogal da Assembleia Municipal
- 1994/97, Primeira Secretária da Assembleia Municipal
- 1998 a 2008, funções no Gabinete do Presidente da Câmara de Espinho José
Mota, com as categorias de: Secretária, Adjunta e Chefe de Gabinete
- 2008, Vereadora da Câmara Municipal de Espinho com o pelouro da Cultura
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ASSOCIAÇÔES DE PAIS:
- Vogal da Associação de Pais do Colégio Internato dos Carvalhos
- Secretária da Associação de Pais da Escola Dr. Manuel Laranjeira
LIGA DOS AMIGOS DO HOSPITAL DISTRITAL DE ESPINHO
- Em 1993 integrei a Equipa que dinamizou a formação da Liga dos Amigos do Hospital
de Espinho
- De 1993 até à presente data, Secretária da Liga dos Amigos do Hospital de Espinho
Algumas considerações sobre o meu modo de ver e trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada a iniciativas da AMM e/ou novas propostas.
Colaborei na organização do Encontro Mundial de Mulheres Migrantes em Espinho.
Colaborei na Organização do Encontro para a Cidadania Presidida pela Dr.ª Maria Barroso.
Continuo disponível para colaborar, sendo atualmente Secretária da Direção da AMM.
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MARIA MANUELA VAZ MARUJO
Sou imigrante no Canadá, há 33 anos. Em Portugal, quando me defino como imigrante, os meus conhecidos (e até alguns amigos), olham para o lado e contrariamme, em voz baixa como que envergonhados “Tu não és bem uma imigrante …”.
Não fico admirada por reagirem assim, porque há pouca simpatia pelos que saíram
do país, identificados como gente pobre, com baixa escolaridade ou analfabeta.
Em 1985, cheguei ao Canadá com um contrato de trabalho para a Universidade de Toronto. No aeroporto, o funcionário da Imigração levou um tempo exagerado a atender-me, e repetiu três vezes as perguntas, antes de colocar o carimbo no passaporte e me dar a autorização de entrada. Não é comum o país
receber imigrantes para dar aulas nas universidades.
Durante os 32 anos em que lecionei, quando me perguntavam a minha ocupação, eu respondia ser professora. Ficavam surpreendidos quando afirmava ensinar na Universidade de Toronto. Tanto em Portugal, como no Canadá, ainda não se associa, com naturalidade, uma portuguesa ao ensino universitário.
Esse preconceito precisa de ser combatido, começando por nós, portugueses.
Sou do Baixo Alentejo, de famílias com poucos recursos financeiros, todavia com uma convicção muito
firme: a educação dada aos filhos poderia abrir-lhes as portas do mundo. No meu caso, tornou-se uma
realidade. Depois de ensinar em África, de fazer formação para professores em países da Europa, escolhi vir para o Canadá lecionar português para estrangeiros. Trazia essa formação de Portugal, adquirida
na Faculdade de Letras de Lisboa.
O Canadá parecia-me um país com grande potencialidade não só para ensinar, mas também para aprender. Foi no Ontario Institute for Studies in Education da Universidade de Toronto (OISE/UT) que prossegui os estudos, fazendo mestrado e depois doutoramento em Educação, na área de Estudos Bilingues.
Debrucei-me sobre as dificuldades que os pais imigrantes enfrentam para poderem continuar a manter a
“língua de afeto” numa sociedade que, contrariando as aparências, não valoriza o multilinguismo.
Sinto-me privilegiada por ter podido lecionar numa universidade, e associado à docência a investigação
e o trabalho voluntário comunitário. Por ter crescido num meio pequeno e de famílias simples, ouço
com interesse e converso com as pessoas menos instruídas, de forma muito natural. Isso tem-me permitido compreender a complexidade da vida dos imigrantes. O cargo que exerci, de Diretora Associada do
Departamento de Espanhol e Português, de 2001 até me aposentar em 2017, deu-me a oportunidade de
conhecer bem a comunidade portuguesa. A instituição proporcionou-me os meios necessários para organizar colóquios, congressos, simpósios, exposições, festivais de cinema, convites a escritores e outras
personalidades da cultura lusófona, permitindo-me fazer a ponte entre a academia e a comunidade.
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A área de estudos sobre imigração sempre me fascinou. Tenho refletido sobre as questões de bilinguismo, de assimilação e/ou falta de integração e problemas entre gerações causados pela inexistência de
uma língua comum (em particular entre netos e avós). O tema das mulheres imigrantes nas suas várias
vertentes tem sido, ao longo dos anos, outro dos meus campos prediletos de investigação. Organizei, em
colaboração com colegas e universidades doutros países, congressos internacionais sobre as temáticas
acima mencionadas. Desses encontros, várias publicações surgiram atestando o interesse despertado, ao
mesmo tempo que incentivam a novos estudos sobre a temática.
Mantive contacto estreito com Portugal durante estas três décadas, tendo viajado entre os dois continentes todos os anos. O Governo dos Açores, através da Direção Regional das Comunidades, endereçou-me
vários convites para conhecer o arquipélago. Do mesmo modo, conheci o arquipélago da Madeira. Lecionei em cursos de verão de “Português para Estrangeiros” em Lisboa e na Universidade dos Açores, e
fiz formação para Leitores, no Instituto Camões.
Pese embora o facto de não ter obtido o prémio, fui nomeada duas vezes pela Secretaria de Estado das
Comunidades, para a cerimónia final dos Prémios Talento, na área da divulgação da Língua Portuguesa.
Pelo governo de Portugal foi-me atribuída a Comenda da Ordem do Infante.
Desde 1 julho de 2017, sou professora associada emérita, da Universidade de Toronto.
Algumas considerações sobre o seu modo de ver e de trabalhar para os objetivos fundamentais da
AMM, fazendo referência à colaboração já dada e iniciativas da AMM e/ou novas propostas.
Através da Doutora Manuela Aguiar, nas suas intervenções em Toronto, tive conhecimento da AMM e
simpatizei, desde o início, com a organização. Procurei colaborar deslocando-me a Portugal em algumas
ocasiões. Mas foi em Toronto que estive mais envolvida: participei em encontros de associativismo e
cidadania realizados nesta cidade, fiz convite à AMM para lançar aqui as Academias Seniores de Artes e
Saberes (ASAS Toronto, 2008), para comemorar os 40 anos do 25 de Abril (2014) e para um Simpósio
intitulado “Mulheres da Diáspora Portuguesa em Movimento” (2016).
Há muito para fazer e há potencial riquíssimo para se levar projetos a bom termo. Não tenho dúvidas de
que uma organização como a AMM pode servir como alicerce para se poder construir em Toronto uma
delegação da AMM com iniciativas comuns e outras mais específicas para a nossa realidade. Arcelina
Santiago esteve em Toronto, no dia 31 de outubro, num encontro da AMM; testemunhou que há um
grupo de associados entusiastas, dispostos a trabalhar para que a Associação de Estudos e Solidariedade
Mulher Migrante continue fiel aos seus príncipios e objetivos.
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MIGUEL LEITE
Nasci em Braga em 1970. Aos 5 anos, iniciei os meus estudos musicais de
piano com a minha avó paterna Laura Estrela de Lima Castro (1899-1980),
discípula do Pianista e Compositor Luiz Costa (1879-1960), pai da Pianista
Helena Sá e Costa (1913-2006) e da Violoncelista Madalena Sá e Costa (N.
1915).
Posteriormente, ingressei no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian
de Braga onde mais tarde concluí o Curso Geral de Formação Musical.
Frequentei os Cursos de Ciências Musicais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o de Relações Internacionais – Culturais e Políticas na Universidade do Minho, em
Braga, e dediquei-me ao ensino tendo trabalhado em diversas Escolas do 2º Ciclo do Ensino Básico
(onde leccionei a disciplina de Educação Musical) e em Escolas do Ensino Especializado, tendo orientado Classes de Formação Musical e Classes de Conjunto Instrumentais.
Entre 1988 e 1991 fui aluno particular de Composição do Maestro António Victorino d’ Almeida (em
sua casa) e de História da Música, nos memoráveis Cursos que então orientou na Reitoria da Universidade do Porto.
Depois, porque fui compreendendo que o fulcro da minha vocação se baseava no fenómeno da comunicação, empreendi um conjunto de iniciativas culturais com o intuito de partilhar com o maior número de
pessoas possível a minha paixão pela fruição da Música e da Cultura.
E assim fundei a Academia de Música José Atalaya em Fafe, que deu origem aos Concertos Comentados, aos Cursos Livres de História da Música “Saber Ouvir”, à Edição de CD e DVD com obras de autores portugueses, ao Ciclo de Concertos “Pianistas Bracarenses”, ao evento “Percursos Musicais”,
“Ouvir & Falar” – Ciclo de Conversas com Música, à “Homenagem a Mário Castrim”, no Teatro Municipal de S. Luiz em Lisboa, aos artigos que tenho redigido regularmente no Jornal “As Artes entre as
Letras” intitulados “E se falássemos de Música?”, com Ilustrações do Artista Plástico Ricardo Fiúza,
aos programas de rádio na Rádio Universitária do Minho e na Antena 2 e, mais recentemente, ao programa de televisão da RTP “O Som e a Forma”.
Actualmente sou Director do Centre Culturel Lusophone de L’ Institut du Monde Lusophone (Paris)2
.
2
https://www.institut-monde-lusophone.com/copie-de-organisation
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Um dia, em palco, um grande amigo meu – infelizmente já desaparecido – D. Manuel Martins (1927-
2017), Bispo Emérito de Setúbal, citando o Escritor Augusto Cury (N. 1958) atribuiu-me o epíteto de
“O vendedor de sonhos”. Confesso que gostei e me senti muito honrado.
Com a Associação Mulher Migrante, da qual me orgulho de fazer parte por partilhar do ideário da mesma, colaborei já por diversas vezes, e sempre estarei pronto a colaborar na medida das minhas possibilidades e limitações.
Recordo, muito especialmente, a digressão internacional com a Conferência/Concerto “A Portugalidade” que realizou espetáculos em Esch-sur-Alzette no Luxemburgo e no Conservatoire Jean Baptiste
Lully em Puteaux, Paris, França – iniciativa da Associação Mulher Migrante e de S. Exa. o Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas do Governo de Portugal, que assinalou internacionalmente
o 75º aniversário do Maestro António Victorino d’ Almeida.
Com a Associação Mulher Migrante, tive também a honra de participar nos “Colóquios da Eurocidade
Monção – Salvaterra de Miño” com a Conferência/Concerto “A Música de Expressão Ibérica”, com a
participação do Maestro António Victorino d’ Almeida e dos Artistas Plásticos Patrícia Oliveira e Ricardo Campos.
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OTÍLIA SANTOS
Nasceu a 18 de outubro de 1951 em Albergaria-a-Velha, Aveiro.
Formou-se em Artes Plásticas pela ESBAP, em 1978.
Expôs, pela primeira vez, coletivamente em 1978 e, individualmente, em 1983. Desde então, expõe com
regularidade, mantendo colaboração regular com algumas organizações de referência, tais como a Cooperativa Árvore (Porto), a Cooperativa “Artistas de Gaia” (sendo uma das sócias fundadoras), a “Aveiro
Arte”, várias Clubes Rotários (sobretudo do distrito) ou as Bienais “Mulheres d´Artes”.
Foi professora do ensino secundário durante 30 anos. Na prática da atividade docente, destaca-se o desenvolvimento de vários projetos inovadores protagonizados por alunos sob sua orientação, tanto no
campo das artes plásticas, como no teatro.
Atualmente encontra-se aposentada, tendo, por isso, oportunidade de se dedicar plenamente à sua atividade de Artista Plástica, como sempre desejou.
Está representada em diversas coleções particulares, em Portugal e no estrangeiro.
Realizou os vitrais das igrejas metodistas do Porto e Aveiro, e tem obra ao nível da ilustração.
Ao longo do seu percurso artístico, destacam-se os desenhos a pastel seco, sobre cartão ou sobre madeira, de dimensões variáveis. Contudo, nos acrílicos sobre tela, conseguem identificar-se, igualmente, as
formas e cores que marcam a obra de Otília Santos, de elevado simbolismo e sentido poético.
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ROSA MARIA NEVES SIMAS
Rosa Maria Neves Simas doutorou-se em Literatura Comparada, com
especialidade em Literatura das Américas, em 1990, pela Universidade da
Califórnia. A tese Circularity in Three 20th Century Novels of the
Americas foi publicada em 1992 pela Edwin Mellen Press de New York.
Desde então, tem organizado e participado em eventos e projetos, e tem
publicado trabalhos sobre Estudos Comparados e temáticas relacionadas
com a Mulher, a Migração, o Ensino, a Língua, a Tradução e o Ambiente.
Nasceu na ilha do Pico, Açores, mas aos dois anos emigrou com os pais
para os Estados Unidos. Foi criada na Califórnia, onde estudou e lecionou
durante anos, antes de voltar para os Açores. Foi Professora durante mais de três décadas no
Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores (UA), e investigadora do
Centro Interdisciplinar de Ciências Socias (CICS-NOVA) da UA e da Universidade Nova de Lisboa.
Publicou, entre 2003 e 2008, a coletânea bilingue de 6 volumes A Mulher nos Açores e nas
Comunidades. De 2008 a 2012, foi coordenadora do Projecto GenARE (Generations of Azoreans and
Renewable Energy), um estudo comparativo de gerações de açorianos face às questões ambientais e
energéticas, no âmbito do MIT Portugal e do Projecto Green Islands. Foi a tradutora para Inglês da
primeira história das nove ilhas, Açores: Nove Ilhas, Uma História de Susana Goulart Costa, publicada
em 2008 pela University of California, Berkeley, e do Roteiro Cultural dos Açores, edição de 2012 do
Centro Nacional de Cultura e Direção Regional da Cultura, coordenada por António Machado Pires.
Em 2016, publica De abajur a zumba: Estrangeirismos no Português / From Abajur to Zumba:
Loanwords in Portuguese, o Volume 1 de uma série de tradução Português-Inglês, e no presente ano de
2019, sai o Volume 2 desta série É canja: Expressões idiomáticas do Português ao Inglês / Easy As
Pie: Idioms from Portuguese to English.
Rosa tem uma filha de vinte e sete anos que fala fluentemente Português e Inglês.
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SUSANA VIEGAS LOURO
Algarvia de S. Brás de Alportel, com 80 anos feitos a 8 de
Novembro 2018 e muitos anos de trabalho em Portugal e no
estrangeiro.
Último posto: Secretária sénior /administrativa e de projectos na WHO/OMS, Organização Mundial de Saúde em
CPH. Três anos como voluntária nos "Medecins sans Frontières".
Reformada e sempre viva, na Dinamarca, onde resido desde 1973.
Marido: Mogens Pedersen (89).
Endereço postal : Lundtofteparken 29 st.th., DK2800 Lyngby, Dinamarca. Tlf: 0045 41 58 08 11.
Pelo Mundo: Suécia, Inglaterra, Brasil e Dinamarca, em trabalho, e muitas outras viagens pelo mundo
fora. Viagens frequentes a Itália, Alemanha, França, Roménia, Marrocos, Rússia. Última: China em
1999.
Escritora de vários livros em Inglês e Dinamarquês.
Sócia da Associação de escritores dinamarqueses, Copenhague/DK.
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Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade ( AMM)
. Constituída por escritura notarial em 8 de outubro de 1993, celebrada no 16º cartório notarial de Lisboa – Lº 290 – E – fls. 74.
. Os Estatutos da AMM foram publicados no Diário da República iii série, nº. 255, de 30 de outubro de 1993 e no jornal O Público,
de 19 de dezembro de 1993.
. Nº Segurança Social: 233550205
. Identificação de Registo Nacional de Pessoas Coletivas: 503061484
. IBAN: PT50 0033 0000 0001 5335 2626 1
. Conta bancária: Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade - Millennium bcp, nº. 15335262
- Morada: Lisboa, - Rua Maria Pia, Lote 4 - Loja 1
- Código postal : 1350 - 208 Lisboa
- Contacto telefónico: 00 351 917533411
- Correio eletrónico: gracaguedes@net.sapo.p
segunda-feira, 1 de junho de 2020
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