Diálogos na Bienal – Mulheres e
Cidadania
Gaia, 12 de Junho de 2019
A
MULHER NO MUNDO DO DESPORTO
Prof. Doutora Maria da Graça
Sousa Guedes
Professora Catedrática aposentada da
Universidade do Porto
Presidente da Direção da Associação
Mulher Migrante
INTRODUÇÃO
O comportamento social da mulher e o
desenvolvimento dos mecanismos responsáveis pelo seu ajustamento, ocorre em
função da cultura, que parece funcionar como elemento determinante do seu
bem–estar.
A auto-estima e o auto-conceito da
mulher ocidental, reflete o efeito de uma forte influência social, agindo como
fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com
repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.
As diferenças de género, bem impressas
nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), potenciam-se ainda hoje no
âmbito da Atividade Física e do Desporto.
E a Escola, forja das novas gerações,
considerando a pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, tem vindo
gradativamente a propiciar práticas de Atividade Física, não só na disciplina
de Educação Física ministrada ao longo de todo o ensino Básico e Secundário,
como também no Desporto Escolar, favorecendo assim a auto-estima e a
competência, qualquer que seja o género, balizando criar uma Cultura Motora que
favoreça a inclusão de práticas corporais no seu quotidiano que devem
permanecer ao longo das suas vidas.
CORPORALIDADE VERSUS GÉNERO FEMININO
Na grande maioria das sociedades
humanas, existe um desequilíbrio entre géneros: a mulher perceciona-se inferior
ao homem no desempenho de papéis socialmente determinantes, ocasionando
conflitos que interferem na sua auto-estima.
Segundo Fox (1998), é com frequência
que as mulheres não têm confiança nas suas habilidades, quando se comparam com
os homens, pelo que interfere na sua auto-confiança e na relação com o seu
corpo, bem como nas expectativas das suas eficácias no Desporto.
A auto-estima e o auto-conceito da
mulher ocidental, reflete o efeito de uma forte influência social, seguido como
fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com
repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.
É cada vez maior o número de mulheres
que recorrem à prática de atividades físicas, com a finalidade de encontrarem o
seu bem-estar psicológico e assim combaterem os efeitos de conflitos internos e
de pressões causadas pelo modelo social, que se traduzem em ansiedade,
depressão, folias, alterações negativas de humor, do auto-conceito e de
auto-estima.
As diferenças de género, que estão bem
impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), parecem
potenciar-se no âmbito de Atividade Física e do Desporto.
Verifica-se o desenvolvimento de
atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores na
construção de feminilidade e de masculinidade. Incutem, subtilmente, a ideia de
uma imagem hegemónica masculina, expressa num padrão legítimo de masculinidade
(Botelho Gomes et al., 2002)
Ora é a Escola, forja das novas
gerações, que tem de respeitar e de implementar os princípios de equidade, que
assegurem justeza e justiça no processo educativo, dispondo para tal da
pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, mas que e segundo Thoberge
(1991), mantém uma irrisória mentalidade na construção dos géneros.
Esta falha relativamente à importância
do Desporto, lidando com os alunos e as alunas da mesma maneira, numa errónea
suposição de que assim se atinge a justiça e a igualdade de oportunidades, tem
inquinado a Educação, muito embora as novas políticas evidenciem um gradativo
aumento da valorização da Educação Física e do Desporto, agora obrigatória ao
longo de todo o ensino Básico e Secundário.
A Atividade Física e o Desporto devem
propiciar a auto-estima e a competência, mas percebida pelos alunos e pelas
alunas, de modo a que todos, não importa o género, vejam estas práticas
corporais como atividades incluídas no seu quotidiano e a permanecer ao longo
das suas vidas, razão pela qual é fundamental que tenham prazer ao praticá-las.
Hoje são consensuais as noções de que
a atividade física regular assume um papel relevante na promoção de um estilo
de vida saudável e de que níveis elevados de atividade de uma participação
similar quando adultos. No entanto, a realidade portuguesa tem revelado uma
fraca aquisição de hábitos desportivos, tanto nos homens quanto nas mulheres,
sendo este quadro ainda mais preocupante no que se refere às mulheres
(Marivoet, 1998), condicionando assim a sua qualidade de vida.
Num estudo desenvolvido por Marivoet
(2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa e realizado no
concelho de Matosinhos (Quadro nº. 1), da qual foi selecionada uma amostra
constituída por 450 alunos, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos,
sendo 224 do género feminino (50,2%) e 226 do género masculino (49,8%), foi
constatado que a maioria dos alunos (55,8%) são praticantes desportivos, para
além das práticas nas aulas regulares de Educação Física, mas são sobretudo do
género masculino (71,2%).
Quadro nº. 1 – Hábitos
desportivos da população portuguesa
Praticantes Não Total
Praticantes
N %
N % N %
|
Feminino 90
40,2% 134 59,8%
224 100%
Género
Masculino 161 71,2% 65 28,8% 226 100%
Total
|
251
|
55,8%
|
199
|
44,2%
|
450
|
100%
|
Há esperança de um novo rumo para a
prática desportiva dos jovens, sobretudo se verificar a evolução registada num
estudo desenvolvido no Instituto de Desporto de Portugal (Quadro nº. 2) e
realizado por Adelino; Vieira & Coelho (2004), onde é comparada a
percentagem de jovens, com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos que
praticam desporto federado e com base nos censos populacionais de 1991 e de
2001.
Apesar desta evolução, é importante
que os políticos desportivos e as instituições responsáveis pela sua aplicação,
tomem as medidas necessárias para concretizar as intenções manifestadas na
legislação portuguesa e nas cartas e acordos internacionais, de forma a que
cada vez mais os cidadãos, independentemente o género, acedam ao Desporto.
Quadro nº. 2 –
Praticantes de desporto federado (10 / 16 anos
de idade)
Praticantes
|
1998
|
2004
|
|||
Masculinos
|
Praticantes
|
91874
|
20,7%
|
109790
|
27,3&
|
Dados
do Censo
|
444151
|
402646
|
|||
Femininos
|
Praticantes
|
24885
|
5,9%
|
53358
|
9,2&
|
Dados do Censo
|
421930
|
384971
|
|||
Total
|
Praticantes
|
116759
|
13,5%
|
145148
|
18,4%
|
Dados do Censo
|
866081
|
787617
|
Apesar de ser um tema estudado e de reconhecida importância, só 9%
de indivíduos em Portugal pratica atividades físicas e desportivas regularmente (pelo menos 5 vezes por
semana) e 33% praticam com alguma
regularidade (pelo menos 1 vez por semana). A diferença de uma participação
regular em atividades físicas e
desportivas de rapazes e raparigas situa-se nos 17%. Similar aos dados da EU, a percentagem de
mulheres que participam em atividades físicas e desportivas é menor quando
comparadas com a dos homens: 24% dos homens praticam e o valor reduz para 7%
nas mulheres).
A realidade portuguesa tem
efetivamente revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos, tanto nos
homens quanto nas mulheres, sendo este quadro ainda mais preocupante no que se
refere às mulheres (Marivoet, 1998), condicionando assim a sua qualidade de
vida.
As evidências sugerem, que a partir da adolescência, as diferenças
de género influenciam atitudes e oportunidades de prática, com repercussões nos
níveis de participação [Baptista, F. et al, 2011; Eurobarometer, 2010;
Eurobareter, 2014).
A socializção de género é complexa e está muito enraizada na
cultura portuguesa. São necessários abordagens teóricas bem como explorar como
a ordem de género é reproduzida, permitindo a reinterpretação de dados empíricos
que permitam o desafiar e não reforçar
essa reprodução. [Fisette, J.L., 2012].
A perceção de atividades físicas e desportivas mais adequadas ao
‘masculino’ ou ao ‘feminino’ mantém-se: uma construção social que define os
corpos de rapazes e de raparigas, limitando a fisicalidade de jovens e, em
especial, das raparigas.
Decorridos quase quinze
anos desde este estudo, os dados de 2018 do Instituto Português do Desporto e
Juventude (IPDJ) revelam que em Portugal houve um aumento de praticantes registados
nas Federações (quadro nº 3).
Quadro nº.
3 – Praticantes desportivos em 2004 e 2017 por escalão etário
Praticantes
|
2004
|
2017
|
|
Masculinos
|
Até júniores - jovens
|
||
Femininos
|
Até
júniores - jovens
|
49984
|
113980
|
Masculinos
|
Júniores
– jovens
|
||
Femininos
|
Júniores - jovens
|
10731
|
15174
|
Masculinos
|
Séniores
- adultos
|
||
Femininos
|
Séniores
- adultos
|
18373
|
28405
|
Masculinos
|
Veteranos
- adultos
|
||
Femininos
|
Veteranos
- adultos
|
3201
|
27721
|
Fonte: IPDJ, 2018
Os dados fornecidos pelo
IPDJ, revelam quais são as práticas desportivas preferidas e distribuídas por
escalão etário (quadros nº 4, 5, 6 e 7), que se apresentam a seguir.
Quadro nº.
4 – Modalidades desportivas praticadas por jovens (até júniores)
Modalidades
|
Praticantes
|
2004
|
2017
|
Andebol
|
Masculinos
|
17112
|
25323
|
Andebol
|
Femininos
|
9578
|
17988
|
Atletismo
|
Masculinos
|
3965
|
4729
|
Atletismo
|
Femininos
|
2897
|
5228
|
Basquetebol
|
Masculinos
|
9111
|
19471
|
Basquetebol
|
Femininos
|
4587
|
13814
|
Futebol
|
Masculinos
|
73076
|
120553
|
Futebol
|
Femininos
|
238
|
3937
|
Ginástica
|
Masculinos
|
3792
|
1332
|
Ginástica
|
Femininos
|
5366
|
9731
|
Golfe
|
Masculinos
|
958
|
1036
|
Golfe
|
Femininos
|
276
|
448
|
Hoquei
|
Masculinos
|
235
|
776
|
Hoquei
|
Femininos
|
25
|
660
|
Judo
|
Masculinos
|
5032
|
7548
|
Judo
|
Femininos
|
1379
|
2622
|
Natação
|
Masculinos
|
2878
|
19046
|
Natação
|
Femininos
|
2095
|
17326
|
Patinagem
|
Masculinos
|
5377
|
5483
|
Patinagem
|
Femininos
|
1992
|
8024
|
Surf
|
Masculinos
|
396
|
669
|
Surf
|
Femininos
|
150
|
262
|
Ténis
|
Masculinos
|
5113
|
5954
|
Ténis
|
Femininos
|
2123
|
2033
|
Ténis de Mesa
|
Masculinos
|
1315
|
1120
|
Ténis de Mesa
|
Femininos
|
646
|
513
|
Voleibol
|
Masculinos
|
12067
|
18239
|
Voleibol
|
Femininos
|
11822
|
22178
|
Fonte:
IPDJ, 2018
Quadro nº.
5 – Modalidades desportivas praticadas por jovens (Júniores)
Modalidades
|
Praticantes
|
2004
|
2017
|
Andebol
|
Masculinos
|
1290
|
2387
|
Andebol
|
Femininos
|
376
|
824
|
Atletismo
|
Masculinos
|
739
|
878
|
Atletismo
|
Femininos
|
403
|
575
|
Basquetebol
|
Masculinos
|
567
|
3591
|
Basquetebol
|
Femininos
|
730
|
2604
|
Futebol
|
Masculinos
|
15921
|
17494
|
Futebol
|
Femininos
|
2358
|
992
|
Ginástica
|
Masculinos
|
369
|
490
|
Ginástica
|
Femininos
|
1474
|
3960
|
Golfe
|
Masculinos
|
372
|
136
|
Golfe
|
Femininos
|
72
|
36
|
Hoquei
|
Masculinos
|
73
|
143
|
Hoquei
|
Femininos
|
7
|
0
|
Judo
|
Masculinos
|
411
|
384
|
Judo
|
Femininos
|
141
|
133
|
Natação
|
Masculinos
|
412
|
808
|
Natação
|
Femininos
|
424
|
840
|
Patinagem
|
Masculinos
|
934
|
742
|
Patinagem
|
Femininos
|
263
|
260
|
Surf
|
Masculinos
|
116
|
194
|
Surf
|
Femininos
|
54
|
69
|
Ténis
|
Masculinos
|
444
|
864
|
Ténis
|
Femininos
|
169
|
470
|
Ténis de Mesa
|
Masculinos
|
566
|
358
|
Ténis de Mesa
|
Femininos
|
166
|
110
|
Voleibol
|
Masculinos
|
494
|
496
|
Voleibol
|
Femininos
|
535
|
1059
|
Fonte: IPDJ, 2018
Quadro nº.
6 – Modalidades desportivas praticadas por adultos (Séniores)
Modalidades
|
Praticantes
|
2004
|
2017
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Andebol
|
Masculinos
|
2205
|
2777
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Andebol
|
Femininos
|
433
|
917
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Atletismo
|
Masculinos
|
3196
|
1971
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Atletismo
|
Femininos
|
2897
|
968
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Basquetebol
|
Masculinos
|
1687
|
1611
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Basquetebol
|
Femininos
|
587
|
620
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Futebol
|
Masculinos
|
39204
|
29939
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Futebol
|
Femininos
|
2714
|
3434
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ginástica
|
Masculinos
|
571
|
517
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ginástica
|
Femininos
|
2549
|
1836
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Golfe
|
Masculinos
|
6472
|
3158
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Golfe
|
Femininos
|
1648
|
443
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Hoquei
|
Masculinos
|
258
|
366
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Hoquei
|
Femininos
|
99
|
113
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Judo
|
Masculinos
|
1313
|
420
Quadro
nº. 4 – Modalidades desportivas praticadas por crianças (até júniores)
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Judo
|
Femininos
|
263
|
284
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Natação
|
Masculinos
|
567
|
1471
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Natação
|
Femininos
|
311
|
1086
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Patinagem
|
Masculinos
|
1386
|
1128
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Patinagem
|
Femininos
|
404
|
255
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Surf
|
Masculinos
|
613
|
874
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Surf
|
Femininos
|
79
|
138
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis
|
Masculinos
|
1245
|
1460
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis
|
Femininos
|
287
|
447
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis de Mesa
|
Masculinos
|
1345
|
1310
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis de Mesa
|
Femininos
|
282
|
170
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Voleibol
|
Masculinos
|
1243
|
998
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Voleibol
|
Femininos
|
837
|
1122
|
Fonte: IPDJ, 2018
Quadro nº.
7 – Modalidades desportivas praticadas por adultos (Veteranos)
Modalidades
|
Praticantes
|
2004
|
2017
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Andebol
|
Masculinos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Andebol
|
Femininos
|
0
|
115
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Atletismo
|
Masculinos
|
330
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Atletismo
|
Femininos
|
29
|
945
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Basquetebol
|
Masculinos
|
0
|
98
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Basquetebol
|
Femininos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Futebol
|
Masculinos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Futebol
|
Femininos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ginástica
|
Masculinos
|
121
|
74
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ginástica
|
Femininos
|
342
|
372
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Golfe
|
Masculinos
|
4377
|
8115
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Golfe
|
Femininos
|
1536
|
2475
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Hoquei
|
Masculinos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Hoquei
|
Femininos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Judo
|
Masculinos
|
0
|
1116
Quadro
nº. 4 – Modalidades desportivas praticadas por crianças (até júniores)
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Judo
|
Femininos
|
0
|
195
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Natação
|
Masculinos
|
131
|
7902
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Natação
|
Femininos
|
62
|
17020
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Patinagem
|
Masculinos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Patinagem
|
Femininos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Surf
|
Masculinos
|
5
|
159
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Surf
|
Femininos
|
1
|
17
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis
|
Masculinos
|
1815
|
3252
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis
|
Femininos
|
330
|
729
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis de Mesa
|
Masculinos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Ténis de Mesa
|
Femininos
|
0
|
0
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Voleibol
|
Masculinos
|
0
|
110
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Voleibol
|
Femininos
|
0
|
0
|
Fonte: IPDL, 2018
QUAL SERÁ A REALIDADE NO GRANDE PORTO?
E O QUE SE PASSA NA COMUNIDADE PORTUGUESA ESPALHADA
PELO MUNDO?
Estes serão os OBJETIVOS de um estudo que
estou a desenvolver e cujos dados poderão ser comparados com os das comunidades
portuguesas..
DESPORTO, GÉNERO e CIDADANIA - AS PRÁTICAS DESPORTIVAS DAS
PORTUGUESAS EM PORTUGAL E NA NOSSA DIÁSPORA
Estudo comparativo entre a região Porto, USA, Canadá, Brasil e
França
Conhecer
a realidade portuguesa, em Portugal e no espaço da língua portuguesa,
destacando as preferências desportivas em questão de género, é o propósito da
nossa investigação que terá o apoio da Prof. Doutora Paula Silva, da Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto.
Trata-se
de uma investigação pioneira, que contribuirá para novos conhecimentos acerca
do envolvimento da mulher do mundo
português nas práticas desportivas, propiciados por novas investigações que se
venham a desenvolver nas universidades envolvendo questões de género, desporto
e cidadania.
A MULHER, O DESPORTO E OS “MASS MEDIA”
Atualmente,
as mulheres não só competem, como praticam todas as modalidades desportivas;
obtêm também cada vez com melhores resultados.
No
entretanto, a cobertura que os “mass
media” dão ao desporto feminino é significativamente inferior à efetuada no
desporto masculino.
Diversos
estudos realizados noutros países acerca da cobertura televisiva e dada pela
imprensa escrita sobre o desporto feminino e masculino, revelam que o desporto
feminino recebe pouca atenção, quando comparado com o masculino (Crossman et
al; 1994; Duncan et al; 1994; Hargreaves, 1994; Lever & Wheeler, 1984).
Em
Portugal, num estudo realizado por Pinheiro & Queiroz (2003), esta
realidade é confirmada. As autoras analisaram durante um mês dois jornais
diários, um desportivo (A Bola) e um generalista (Jornal de Noticias), tendo
excluído todas as referências ao futebol, a tabelas de resultados, a agendas
desportivas, a artigos de opinião e a notícias breves.
Para a
análise, elegeram as seguintes categorias: artigos/notícias e fotografias de
atletas portuguesas e estrangeiros. Cada categoria foi dividida em
sub-categorias: masculino (artigo ou foto), feminino (artigo ou foto) e misto.
Posteriormente, cada uma das sub-categorias foi analisada em função do número
de artigos/notícias e fotografias, do espaço físico ocupado, da sua colocação
em cada página (topo, centro e baixo).
Quadro nº.
8 – Os mass media e o desporto versus
género
Género
|
A Bola
|
Jornal de Notícias
|
|
Artigos
|
Masculino
Feminino
Misto
|
334
72
32
|
225
31
17
|
Fotografias
|
Masculino
Feminino
Misto
|
337
66
15
|
135
22
2
|
Quadro nº.
9 – Os mass media, o espaço físico das notícias versus género
Artigos/Fotos
|
Jornal de Notícias
|
A Bola
|
|||||
Género
|
N
|
Média
|
SD
|
N
|
Média
|
SD
|
|
Espaço físico
(cm2)
|
Artigos
masculinos
|
225
|
39,3848
|
32,9598
|
335
|
111,2550
|
49,7169
|
Artigos
femininos
|
31
|
20,8497
|
16,7290
|
72
|
86,2736
|
53,2259
|
|
Artigos
mistos
|
57,5612
|
52,5373
|
120,7000
|
65,5275
|
|||
Espaço
físico
(cm2)
|
Fotografias
masculinas
|
135
|
42,0467
|
50,7668
|
337
|
113,5469
|
93,3389
|
Fotografias
femininas
|
22
|
24,9127
|
31,5451
|
66
|
109,9805
|
83,2288
|
|
Fotografias
mistas
|
69,985
|
81,3385
|
120,4567
|
108,452
3
|
Quadro nº.
10 – Os mass media e a colocação dos
artigos versus género
Artigos
|
Fotografias
|
|||||||
Masculinos
|
Femininos
|
Mistos
|
Masculinas
|
Femininas
|
Mistas
|
|||
Jornal de Notícias
|
Topo
|
N
|
76
|
17
|
3
|
51
|
9
|
1
|
%
|
27,8
|
6,2
|
1,1
|
32,1
|
5,7
|
0,6
|
||
Centro
|
N
|
53
|
5
|
5
|
40
|
5
|
1
|
|
%
|
19,4
|
1,8
|
1,8
|
25,2
|
3,1
|
0,6
|
||
Baixo
|
N
|
42
|
5
|
7
|
13
|
4
|
||
%
|
15,4
|
1,8
|
2,6
|
8,2
|
2,5
|
|||
Centro/Topo
|
N
|
34
|
4
|
1
|
23
|
4
|
||
%
|
12,5
|
1,5
|
0,4
|
14,5
|
2,5
|
|||
Centro/Baixo
|
N
|
20
|
1
|
8
|
||||
%
|
7,3
|
0,4
|
5
|
|||||
Total
|
N
|
225
|
31
|
17
|
135
|
22
|
2
|
|
82,4
|
11,4
|
6,2
|
84,9
|
13,8
|
1,3
|
|||
A Bola
|
Topo
|
N
|
17
|
1
|
58
|
2
|
2
|
|
%
|
3,9
|
0,2
|
13,9
|
0,5
|
0,5
|
|||
Centro
|
N
|
17
|
5
|
1
|
43
|
7
|
2
|
|
%
|
3,9
|
1,1
|
0,2
|
10,3
|
1,7
|
0,5
|
||
Baixo
|
N
|
69
|
30
|
8
|
67
|
14
|
4
|
|
%
|
15,8
|
6,8
|
1,8
|
16
|
3,3
|
1
|
||
Centro/Topo
|
N
|
139
|
21
|
15
|
98
|
26
|
7
|
|
%
|
31,7
|
4,8
|
3,4
|
23,4
|
6,2
|
1,7
|
||
Centro/Baixo
|
N
|
92
|
15
|
8
|
54
|
15
|
||
%
|
21
|
3,4
|
1,8
|
12,9
|
3,6
|
|||
Total
|
N
|
334
|
72
|
32
|
337
|
66
|
15
|
|
%
|
76,3
|
16,4
|
7,3
|
80,6
|
15,8
|
3,6
|
Os resultados apresentados
nos quadros 8, 9 e 10, revelam que se continua a verificar uma certa
descriminação pela imprensa escrita, acompanhando a tendência detetada em outros
estudos desenvolvidos em Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova
Zelândia e Finlândia.
Para Ducan et al. (1994),
a pequena atenção dedicada ao desporto feminino, bem como a forma como são
frequentemente tratados os atletas e também como são efetuados os comentários e
a linguagem que é utilizada, tendem a reforçar a desigualdade entre géneros.
Tal como refere Gerbner
(1978, cit in Boutellier & SanGiovanni, 1983: 185), a menor atenção
dedicada ao desporto feminino constitui na realidade “… uma imaginação simbólica de mulher”. Os meios de comunicação
social ajudam assim a veícular a ideia de que o desporto feminino não é tão
importante quanto o masculino e, como tal, as mulheres atletas e as suas
prestações desportivas não são merecedoras da mesma atenção que é dada à dos
homens atletas.
Para além de continuarem a
mostrar o Desporto como área essencialmente masculina, ajudam a perpetuar
ideias estereotipadas de feminilidade e de masculinidade.
Uma maior abertura do
desporto feminino na comunicação social, pode efetivamente ajudar a mudar estas
ideias estereotipadas relativas ao envolvimento de mulher em práticas
desportivas, bem como às ideias inerentes às suas habilidades motoras e,
consequentemente, encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.
Com a maior divulgação
pelos mass media, as várias mulheres
atletas podem inclusivamente funcionar como modelos para as jovens e assim
favorecer o aumento dos hábitos de práticas corporais da população feminina.
Todos os atletas, sejam homens
ou mulheres, merecem a mesma atenção. Uma atenção equilibrada, já que as
relações entre géneros no desporto, assim como em qualquer outra prática
social, são relações de poder (Hargreaves, 1994).
Estas preocupações, que
exigem mudanças de mentalidade e pressupõem legislação própria, sensibilizaram
já o Conselho da Europa.
Efetivamente, a Comissão
sobre a Igualdade de Oportunidades para as Mulheres e os Homens da Assembleia
Parlamentar do Conselho da Europa, elaborou em 2005 um documento redigido pela
Dra. Manuela Aguiar e intitulado
Descriminação contra as mulheres e jovens nas atividades desportivas, que
constituiu a Recomendação 1701 (2005), discutida e aprovada por aquela
Assembleia em 27 de Abril.
Esta recomendação partiu
de dois grandes objetivos:
A – As mulheres são
confrontadas com numerosas descriminações no acesso à prática desportiva
amadora e profissional, que são contrários aos princípios do Conselho da
Europa. A persistência de estereótipos, a falta de estruturas de enquadramento
e de apoio às mulheres desportivas e às jovens dotadas de um potencial
desportivo, a dificuldade de conciliar a vida profissional / desportiva e
familiar, a difícil reinserção no mundo do trabalho, uma cobertura mediática
insuficiente dos desportos praticados pelas mulheres e os financiamentos
privados limitados, são manifestações destas descriminações.
B – A Assembleia
Parlamentar deveria pedir ao Comité dos Ministros do Conselho da Europa para
desenvolver um “Estratégia para as Mulheres e os Desportos”, para desigualmente
promover a participação das mulheres e dos jovens em atividades desportivas
desde a escola e ao longo de toda a vida, considerando a dimensão do género nas
políticas do desporto, apoiar os desportos femininos e a prática do desporto de
alta competição, favorecer a participação das mulheres nas instâncias
dirigentes e encorajar uma melhor cobertura mediática dos desportos femininos.
CONCLUSÃO
Apesar de ser cada vez
maior o número de mulheres que recorrem à prática de atividades físicas, com a
finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico, a sociedade portuguesa é
ainda hoje impressa de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género,
que são limitadores de uma prática desportiva feminina mais dinamizada,
diversificada e divulgada.
Na Escola, que deve
respeitar a pluralidade da cultura que caracteriza o desporto, mas aonde há
ainda uma ilusória neutralidade na construção dos géneros, tudo deve ser feito
para que a atividade física e o desporto propiciem a auto-estima e a competência,
percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo a que todos vejam estas práticas
corporais como atividades incluídas no seu quotidiano e que devem permanecer ao
longo das suas vidas.
Também uma maior cobertura
do desporto feminino na comunicação social, que é significativamente inferior à
efetuada no desporto masculino, poderá ajudar mudar as ideias estereotipadas
relativas ao envolvimento das jovens e das mulheres em práticas desportivas,
bem como às ideias inerentes às suas habilidades técnicas e, consequentemente,
encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.
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