sábado, 26 de junho de 2010

A Mulher Migrante nos media resposta a questionário

AS RESPOSTAS

1- Para quem nao conhece a “Associacao Mulher Migrante” diria duas palavras sobre a sua instituicao, em 1994 : com ela se pretendia dar continuidade ao primeiro Encontro Mundial de Mulheres Migrantes no Associativismo e no Jornalismo, que se realizou em Junho de 1985, pela mao do governo portugues, cumprindo uma recomendacao de Maria Alice Ribeiro, feita atraves do Conselho das Comunidades em finais de 84 (Maria Alice Ribeiro, a inesquecivel jornalista de Toronto e Conselheira das Comunidades!).
Uma das propostas do Encontro (que foi, gracas a qualidade e ao entusiasmo dessas mulheres de elite que nele participaram, um sucesso, para alem de ser um evento pioneiro a nivel nacional e europeu), pretendia que fosse criada uma organizacao transnacional capaz de continuar o trabalho encetado de motivar crescentemente as mulheres para a vida comunitaria, promovendo reunioes e congressos periodicos.
Eis o que se propunha fazer a Associacao, considerando-se herdeira desse projecto e agregando um nucleo de mulheres e homens interessados na problematica das migracoes femininas - tanto nos aspectos teorico, de estudo, de conhecimento da realidade, tal como nos aspectos praticos, de accao concreta.
Fazendo um breve balanco destes 16 anos de vida, eu diria que a Associacao, enquanto rede de organizacoes internacionais, tem tido dificuldade de expansao, e de assegurar um funcionamento regular a esse nivel, continuando aquem do que desejariamos que fosse.
Pelo contrario, dentro do pais excedeu as expectativas, tornando-se um verdadeiro parceiro dos departamentos governamentais para a igualdade e para a emigracao, ao longo destes anos, de uma forma constante e eficaz. Tem contribuido, assim, decisivamente, para a emergencia de uma componente de genero nas politicas de emigracao, que, antes e depois do 25 de Abril, quase nao existia ( a menos que, antes de 74, se considerasse como tal as proibicoes ou limitacoes acrescidas que as mulheres sentiam para sair do pais...).
Foi sobretudo atraves do que alguns chamam “congressismo” – dialogo e reflexao em congressos, seminarios, coloquios, reunioes conjuntas entre ONG’s e governo – que se avancou neste dominio, desde o grande enconto de 85.
A Mulher Migrante foi organizadora do segundo Encontro Mundial de Mulheres Migrantes em 95, responsavel por muitas iniciativas num circulo mais restrito de especialistas no pais e no estrangeiro, e, mais recentemente, pelos “Encontros para a Cidadania”, que, entre 2005-2009, se levaram a efeito em quatro continentes do mundo para apelar a intervencao civica e politica das mulheres, contando com o patrocinio e a presenca de membros do Governo - os Secretarios de Estado Jorge Lacao e Antonio Braga.
2 – Concordo em absoluto com as afirmacoes sobre a importancia do papel das mulheres na vida das comunidades do estrangeiro. Sem elas nem sequer haveria verdadeiras comunidades de lingua e cultura portuguesa, pois foi decisiva a entrada das familia inteiras nos clubes, mulheres, jovens, para alem dos homens que tradicionalmente os encabecam, para lhes dar a sua vertente cultural – o ensino da lingua, a musica, a danca, o teatro, as festas tradicionais, a gastronomia.
Mas as mulheres, no passado, (no presente as coisas estao a deixar de ser assim...) reproduziam nestes espacos colectivos, o seu papel tradicional no interior da familia, aceitando um lugar apagado, ainda que relevante, o que as tornava praticamente invisiveis.
So se pode sair desta situacao por determinacao das proprias mulheres e de todos os que compreendem que esse apagamento das suas potencialidades nao aproveita a ninguem. As comunidades precisam, cada vez mais, da activa intervencao, do entusiasmo de mulheres, das jovens. Ha que lhes dar autoconfianca e orgulho de serem o rosto feminino da comunidade, em instituicoes mais fortes e equilibradas, do ponto de vista de genero e de geracao. Em alguns pontos do mundo a sobrevivencia das comunidades ja depende dessa sua atitude inovadora!
3 – Sim, tarda e, por achar que sim e que resolvemos apresentar ao SECP Antonio Braga este projecto de organizar em colaboracao com os consulados de Portugal de cada area, com meios de comunicacao e associacoes das comunidades e com universidades locais, seminarios sobre “a accao e representacao das mulheres nos media e nos multimedia”.
Com estas iniciativas, queremos, antes de mais, chamar a atencao para o desfazamento entre as contribuicoes da mulher para a comunidade e para o pais e a sua imagem nos media, quer nacionais, quer tambem, em gradacoes diferentes, nos das comunidades da diaspora. Dizia Elina Guimaraes qua a mulher estava ausente da historia porque a sua parte nela nao era contada. O mesmo se pode, em certa medida dizer da historia do quotidiano, que se regista nos media: lemos as noticias do jornal, assistimos ao telejornal e nao ficamos a conhecer o que faz a metade feminina nas artes, na politica, no desporto, na universidade... A proporcao de noticias, de reportagens de fotografias sobre os feitos de homens e mulheres e espantosamente desiquilibrada, indo alem do proprio desiquilibrio que persiste em certos dominios da vida societal e politica, em desfavor do sexo feminino.
Acho que este fenomeno se pode combater de varias formas, comecando por estudos sobre o conteudo e a iconografia dos media e a sua divulgacao e discussao publica – uma legitima e elegante forma de pressao. E, bem assim, por accoes concretas, por uma exigencia maior das proprias mulheres em ganharem o seu espaco, escrevendo artigos de opiniao, utilizando os novos meios tecnologicos - mais acessiveis a todos - lancando campanhas na Net, em blogues, contando as suas experiencias de vida, fazendo carreira nos media, pela qualidade da formacao e pela vontade de intervir.fazer pedagogia, estimular a leitura dos media, com uma maior sensibilidade para os estereotipo sexistas, para a ausencia de atencao aos problemas e as realizacoes das mulheres, na sociedade de hoje. Das mulheres em geral e das mulheres migrantes em particular (eu acrescentaria, no que respaita aos media nacionais, de mulheres e de homens migrantes, porque a nossa emigracao e diaspora anda muito esquecida da opiniao publica ...).


4 - A resposta a essa questoes justas e pertinentes, em termos de medidas concretas, nao esta ao alcance de uma ONG com a Mulher Migrante, mas cabe perfeitamente no ambito dos nossos objectivos de estudo e de proposta de solucoes, nomeadamente apos debates publicos, em coloquios ou reunioes de trabalho, metodologia que, como referi, temos privilegiado.
Assim, num proximo seminario poderiamos dedicar-lhe um espaco adequado. Se houver interersse na nossa colaboracao para o fazermos em Toronto ou em Lisboa, em Espinho, num futuro proximo, desde ja manifesto toda a disponibilidade.
Poderiamos chamar a essas reunioes as autoridades competentes e ouvir da sua boca a reaccao – positiva, esperemos, embora nem tudo possa, eventualmente, ser resolvido do mesmo passo... Pela minha parte, entendo que, como regra geral, devemos olhar solidariamente os portugueses do estrangeiro,como nacionais com os mesmos direitos face ao Estado. No dominio do jornalismo ha que saber encontrar a formula concreta para aplicar o principio geral. Em dialogo, naturalmente!
5 - Como em todas as profissoes e dominios da vida social uma intervencao maior das mulheres, enquanto metade da humanidade tradicionalmente discriminada, assim com a intervencao de grupos minoritarios, de estrangeiros representa um enorme enriquecimento, para alem de ser um acto de justica.
Em Portugal, como e sabido, as jovens sao, por puro merito das classificacoes, hoje, uma maioria nas universidades e comecam a ser maioritarias em muitas profissoes que lhes estavam vedadas pela lei , como a magistratura ou a diplomacia, ou pelos usos, como o jornalismo. Mas a sua presenca,em massa, nos media portugueses, hoje em dia, contribuindo para a qualidade do jornalismo que temos, com ja contribui, nao significa por si so uma mudanca na forma de representar as mulheres nos media. Par isso seria necessario que elas proprias estivessem conscientes do problema exixtente (umas estarao, outras nao...) e que tivessem acesso aos centros de decisao, de forma igualitaria. Estamos longe disso... Uma razao mais para nao parar o trabalho, que, na medida das nossas modestas possibilidades, estamos determinadas a continuar: porque nao, por exemplo, novas accoes de sensibilizacao desses aliados preciosos que sao os directores e empresarios dos media?

6 –. Na Associacao Mulher Migrante estamos conscientes da importancia de lutar pela lingua, atraves dos media, de a engrandecer literariamente e como veiculo de formacao e informacao. Acho que seria possivel, por exemplo, no curto prazo, comecar por por em pratica um sistema de intercambios com estudantes dos cursos de jornalismo existentes nas universidades portuguesas, ou dar bolsas de estudo para sua frequencia, ou facilitar, em larga escala, estagios nos meios de comunicacao “de referencia” em Portugal. Independentemente do problema do estatuto salarial e laboral, sem negar a sua importancia num jornalismo de qualidade, que possa atrair os melhores (o que tem muito a ver com outra questao impossivel de abordar em poucas palavras - a capacidade empresarial dos proprios meios de comunicacao e a receptividade e apoios que encontram nos meios associativos e empresariais de cada comunidade), creio que tambem e preciso motivar os jovens para a aprendizagem da lingua e para a admiravel “aventura” de fazer com essa bela lingua, ainda que sem as condicoes materiais mais aliciantes, jornalismo de causas, de ” intervencao” – intervencao em prol da cultura, da democracia, da igualdade, das tradicoes portuguesas, e tambem da historia, que o grande jornalismo pode e deve tracar em cada epoca, em cada sociedade. Eu sei que ha nas nossas comunidades profissionais tao bons ou melhores do que os melhores que estao no pais e tambem eles podem ser “professores” de uma nova geracao. Preciso e que os jovens, de ambos os sexos, sejam apoiados, nas suas comunidades e, tambem atraves de programas governamentais, como os que referi, e outros, para que aceitem o grande desafio do jornalismo de lingua portuguesa.

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