segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Maria de Jesus Barroso - 2 de Maio de 1925 – 7 de Julho de 2015
In Memorium
A forma súbita e abrupta como se desenrolaram os eventos dos primeiros dias de julho de 2015, provocaram em nós uma enorme onda, inicialmente de incredibilidade e susbsequentemente de sentimento de perda indescritível. É sempre difícil, se não impossível, descrecer o que sentimos quando somos confrontados com a perda de uma referência de cidadania e humanismo como sempre foi a Dr. Maria de Jesus Barroso.  
Enumerar, mesmo muito ligeiramente, cada um dos objectivos que alcançou e cada uma das suas contribuições para a sociedade portuguesa em particular e para a humanidade em geral seria um processo quase impossível de alcançar, pois muitas foram as suas áreas de intervenção tanto na sociedade privada e pública, como na política, nas artes, e no mecenato. Distinguiu-se em todas estas atividades fruto ao rigor e zelo que dedicava a tudo o que fazia, mas acima de tudo pela sua entrega total a todas e cada uma das causas que defendia. Aliás a sua capacidade de entrega absoluta era precisamente uma das suas caraterísticas mais impressionantes. Sempre que a sua presença era solicitada, em prol de qualquer causa ou em representação de alguma das muitas instituições que representava, estava sempre presente e ativamente participante.
Uma das melhores recordações que guardo está relacionada com a sua ida à Califórnia, mais precisamente à Universidade da Califórnia, Berkeley para participar no 5º Encontro para a Cidadania promovido pela Associação Mulher Migrante e o Programa de Estudos Portugueses da referida Universidade. Tive a honra de ser designada para fazer o transporte entre o aeroporto de San Francisco e a cidade de Berkeley. Como a viagem entre Portugal e San Francisco é consideravelmente longa, o plano era ir diretamente para o hotel, mas para minha surpresa, foi levantada a sugestão que seria muito agradável fazermos um pequeno passeio por San Francisco antes de nos dirigirmos para Berkeley. Assim fizemos por várias horas, e quando estávamos a atravessar a famosa ponte do Golden Gate, a Dr. Maria Barroso disse calmamente: “o que eu gostava muito de fazer era molhar os pés no Pacífico, com todas as viagens que fiz com o meu marido, nunca tive a oportunidade de molhar os pés no Pacífico.” Claro que fizemos o desvio, e nesse dia todos molhamos os pés no Pacífico, gelado e magnífico. Sei que o Congresso e outros eventos relacionados com o Encontro tiveram todo o sucesso, mas do que nunca me esquecerei foi a alegria desse fim de tarde numa pequena praia a norte de San Francisco. Alegria esta que se repetiu quando visitamos a sede da campanha eleitoral do então candidato para a Presidência dos Estados Unidos -  Barack Obama. A visita da Dr. Maria Barroso a esse pequeno centro cheio de voluntários a preparar cartazes, encher envelopes e ao telefone com prováveis eleitores, fez com que o mesmo parasse completamente quando entramos e apresentamos a visitante como a ex-primeira Dama de Portugal. A sua simplicidade e simpatia cativou os jovens voluntários que ficaram com uma ótima imagem de Portugal e dos Portugueses. Melhor que ninguém, a Dr. Maria Barroso sempre foi uma excelente representante do nosso país e da nossa gente. Para todos ela tinha um ouvido atento, e uma palavra afável.
A Dr. Maria de Jesus Barroso era sem dúvida uma mulher admirável e inesquecível, por muitas razões e um exemplo a seguir. No meu caso, agradeço-lhe o ter-me ensinado que só se pode ser integra e digna se fizermos todo o possível para que os nossos cocidadãos também tenham oportunidade de o ser. A Dr. Maria de Jesus Barroso nunca deixou de ser mulher para ser militante política, ou deixou de ser militante política para ser humanitária. Nela tudo se conjugava e complementava sem conflito. Durante a sua vida serviu Portugal e os Portuguese de forma exemplar, teremos muitas saudades, mas os grandes, os verdadeiramente grandes, nunca morrem e Maria de Jesus Barroso viverá eternamente na memória de todos nós e nas páginas de honra da história de Portugal.
Saudosamente
Deolinda Adão

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