O "Círculo Maria Archer" participa,
juntamente com a AMM, numa primeira jornada de homenagem à Drª Rita Gomes,
neste mês de outubro, mês do seu nascimento, em que, todos os anos,
procuraremos lembra-la, de forma especial. Faz todo o sentido associa-la à
evocação de Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira, de quem era
prima, com quem conviveu desde a infância, e a quem tanto admirava. Temos a
certeza de que, se hoje estivesse entre nós, participaria, ativamente, com o
maior entusiasmo, no lançamento deste Círculo e, tal como outros membros
da família, veria na sua expansão uma caminhada para o futuro em que as crenças
e as causas, o nome e a memória de Maria Archer estarão sempre presentes.
Nos últimos anos da presidência de Rita Gomes na AMM, foram
diversas as iniciativas focadas em Maria Archer. Gostaria de as recordar como
acções que lhe foram, ou, se me permitem falar no plural, nos foram,
especialmente gratas: uma primeira no
contexto do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora, em Novembro de 2011,
congresso em que pretendemos reavaliar
a realidade da emigração no feminino,
traçando, por um lado, as linhas de evolução de mais de um século de êxodo migratório, com significativa componente
feminina, e particular enfoque numa área em que têm estado, pelo menos, tão atuantes como os homens: o domínio da Cultura e do ensino da Língua.
Maria Archer foi, então, homenageada, a par de Maria Lamas,
em intervenções do Reitor Salvato Trigo, da Dr.ª Olga Archer Moreira, da Dr.ª
Dina Botelho e da Prof.ª. Elisabeth Battista.
Voltou a ser figura de cartaz na comemoração
do Dia Internacional da Mulher, em março de 2012, na Biblioteca José
Marmelo e Silva, em Espinho, onde a principal oradora foi Olga Archer Moreira,
sua sobrinha neta. O programa incluiu uma "entrevista imaginária" com
a grande escritora e cidadã, representada por jovens das Escolas da
cidade, que deu ao evento um toque afetivo e pedagógico. A
"entrevista imaginária" seria posteriormente encenada em diversas
escolas, para levar a públicos jovens o exemplo de vida de uma grande Mulher de
Letras, capaz, igualmente, de ação concreta.
Nesse ano, em Lisboa, no Teatro Nacional
da Trindade, a força das suas convicções e ideais foi, novamente, saudada
em sucessivas intervenções sobre o seu trajeto e a sua obra,
por muitas pessoas que com ela conviveram de perto. como seu sobrinho
dileto, o Prof. Fernando de Pádua, Encerrou a sessão,
prestando-lhe um vibrante tributo, o Presidente Mário Soares, símbolo
da luta vitoriosa pelo Portugal em liberdade, em que ela se empenhou, de
alma e coração..Os múltiplos contributos estão publicados, numa das mais belas
edições da AMM, coordenada por Rita Gomes e Olga Archer Moreira. Em
2013, foi relembrada, numa apresentação das publicações da "Mulher
Migrante", realizada no Palácio das Necessidades e, em 2014, a
Associação organizou, juntamente com a Fundação Prof. Fernando de Pádua, um
colóquio, a anteceder o lançamento da publicação de Elisabeth Battista ."O
legado de uma escritora viajante". E tem permanecido, nos últimos anos na
agenda da "Mulher Migrante" - no Dia Internacional da Mulher,
nos colóquios de Monção, (com repetidas encenações da "Entrevista
Imaginária", sempre protagonizadas por estudantes das Escolas locais), no
Dia da Comunidade Luso-brasileira, desde 2017, tendo este ano sido o Círculo
Maria Archer apresentado formalmente, no âmbito dessas comemorações.
Hoje,
para o lançamento do último livro de Elisabeth Battista "Sem o
direito de voltar a casa" Maria Archer - uma jornalista portuguesa no
exílio", estamos reunidos, na esplêndida da Casa da Beira Alta,
nossa muito acolhedora anfitriã, na pessoa do seu presidente, Dr. Afonso Costa.
É uma segunda parceria da AMM e do “Círculo”, que, esperamos, se repita
muitas vezes, na prossecução dos objetivos comuns, em torno da personalidade inspiradora de Maria Archer, cuja vasta e
multifacetada obra convida a estudo e a debate e cujo exemplo de inconformismo convoca à militância cidadã.
Temos, entre nós, e devemos sublinhar o facto, a maior especialista no se percurso literário, a Professora Doutora Elisabeth Battista, que todos queremos ouvir, quanto antes, pelo que direi ,agora, apenas umas breves palavras. Primeiramente, para lhe agradecer a esplêndida oportunidade que oferece ao Circulo Maria Archer de dar o melhor dos inícios a um roteiro de reflexão e debate, ao escolhe-lo, para organizar, no Porto, a divulgação de mais um notável trabalho científico sobre a insigne Autora, nomeadamente sobre o seu trilho jornalística no exílio brasileiro, que, ao contrário dos livros, (ainda que na quase totalidade esgotados) é praticamente desconhecido. A esse agradecimento juntamos um convite, que, sabemos, será aceite, para se tornar associada do Círculo, alargando o seu espaço às fronteiras do Brasil.
Temos, entre nós, e devemos sublinhar o facto, a maior especialista no se percurso literário, a Professora Doutora Elisabeth Battista, que todos queremos ouvir, quanto antes, pelo que direi ,agora, apenas umas breves palavras. Primeiramente, para lhe agradecer a esplêndida oportunidade que oferece ao Circulo Maria Archer de dar o melhor dos inícios a um roteiro de reflexão e debate, ao escolhe-lo, para organizar, no Porto, a divulgação de mais um notável trabalho científico sobre a insigne Autora, nomeadamente sobre o seu trilho jornalística no exílio brasileiro, que, ao contrário dos livros, (ainda que na quase totalidade esgotados) é praticamente desconhecido. A esse agradecimento juntamos um convite, que, sabemos, será aceite, para se tornar associada do Círculo, alargando o seu espaço às fronteiras do Brasil.
Limitar-me-ei, pois, a sumariar as principais
razões que
nos levam a fazer de Maria Archer uma companheira de jornadas, de diálogos
sobre as temáticas de género, de valorização da vivência democrática, de defesa
da Igualdade e aproximação dos povos, muito em particular os do
universo da lusofonia. e suas Diásporas.
Da Diáspora Portuguesa e do mundo plural da Lusofonia
ela é um nome maior, como intelectual, jornalista e romancista, e como
precursora na observação e registo, em preciosos textos, sobre os usos e
costumes das gentes com as quais, por largas décadas, tanto gostou de conviver,
em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Angola, (nos anos de juventude
acompanhando os pais e, depois, o marido), e, já sexagenária, no solitário exílio
brasileiro de mais de duas décadas. Mulher de imensa cultura e inteligência,
sempre atenta ao que acontecia em seu redor, fora como dentro do próprio país,
com inteira compreensão das pessoas, dos ambientes, dos meios sociais, traduziu
a experiência vivida em inúmeros escritos de incomensurável valor literário e
de enorme interesse etnológico, sociológico e político. Assim se converteu
em testemunha rara, em memória crítica de um tempo português, opressivo
e cinzento, pautado por preconceitos e discriminações, por regras de jogo
viciadas, que ela pôs a nu, frontalmente, sem contemplações. e sem
temor. Ninguém, como ela, retratou o quotidiano desse Portugal do
"Estado Novo", estagnado e anacrónico, avesso a qualquer forma
de progresso social, em que as mulheres, em particular, se
encontravam dominadas pela força das leis, pelo cerco das mentalidades,
pela censura dos costumes, depois de terem sido deformadas pela educação,
pela entronização rígida dos papéis de género dentro da famílias,
numa sociedade fechada ao curso da História, que ia acontecendo na Europa
e por esse mundo fora.
A mais feminista das escritoras portuguesas,
nascida no último ano de oitocentos, era demasiado jovem para poder ter
feito parte dos movimentos revolucionários e feministas do princípio do
século XX, mas viria a ser uma das poucas que, no período de
declínio desses movimentos (com o desaparecimento de uma geração
memorável), prosseguiu a seu jeito, incessante e solitariamente, a mesma
luta contra o obscurantismo, que condenava a metade feminina de
Portugal à subserviência, ao enclausuramento doméstico e à
incultura... A escrita foi para ela uma arma de combate
político. Segundo Artur Portela, "a sua pena parece por vezes
uma metralhadora de fogo rasante". Mulher livre num país ainda
sem liberdade, pagou pela coragem de ser assim um preço muito alto .Viu os
seus livros, que atingiam, recordes de popularidade e de vendas,
apreendidos, os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento. Foi
obrigada a partir, mas a sanha vingativa da Ditadura não se satisfez com o
seu desterro - ela foi "deliberadamente apagada da
História", como escreve Maria Teresa Horta no prefácio da reedição de
"Ela era apenas Mulher".
O Circulo Maria Archer surge, em pleno século
XXI, para combater esse acto persecutório, consumado há décadas, Tem
por assumida finalidade recolocar o nome de Maria Archer no lugar vazio
que é seu na história da nossa Literatura e do feminismo português, e, também,
na história do pioneirismo na construção de pontes entre as culturas lusófonas.
Revisitar a obra desta Mulher de Letras,
através da divulgação e do debate dos seus escritos, visa desocultar o
passado, lançar luz sobre a realidade insuficientemente analisada e
realçada da sociedade portuguesa de 40 e 50, e fazer futuro com a
modernidade do seu pensamento e das prioridades da sua luta cívica e cultural.
O Circulo pretende, afinal, sobretudo,
assegurar uma segunda vida a Maria Archer, projecto perfeitamente possível,
porque, como dizia Pascoaes, existir não é pensar, é ser lembrado".
Neste projeto todos os presentes estão
convidados a participar!Maria Manuela Aguiar
(Circulo Maria Archer e AMM)
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